Congresso: “Não seria bom se não surgissem críticas”

O líder do PCP explica o que é hoje uma revolução socialista e garante que, para o PCP, ela não exclui a democracia. Quanto ao Congresso assume que está à espera de que o apoio ao Governo seja criticado.

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“A revolução socialista não tem nem uma solução única, nem um modelo único”, reafirma Jerónimo de Sousa, para quem, no caso português, o projecto revolucionário comunista não exclui a democracia: “Nós hoje defendemos em termos programáticos uma política patriótica e de esquerda e um governo capaz de a concretizar, uma democracia avançada como outra etapa.” Sublinhando o processo de debate interno que o PCP fez para preparar o XX Congresso, Jerónimo garante que “é bom que surjam” críticas e que se elas “se expressarem no Congresso”, daí “não vem mal ao mundo” Até porque, garante: “Não somos perfeitos nem criamos aqui uma situação intocável.”

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“A revolução socialista não tem nem uma solução única, nem um modelo único”, reafirma Jerónimo de Sousa, para quem, no caso português, o projecto revolucionário comunista não exclui a democracia: “Nós hoje defendemos em termos programáticos uma política patriótica e de esquerda e um governo capaz de a concretizar, uma democracia avançada como outra etapa.” Sublinhando o processo de debate interno que o PCP fez para preparar o XX Congresso, Jerónimo garante que “é bom que surjam” críticas e que se elas “se expressarem no Congresso”, daí “não vem mal ao mundo” Até porque, garante: “Não somos perfeitos nem criamos aqui uma situação intocável.”

Acredita mesmo, sei que acredita, que o PCP pode ser - e consideram que é - o partido-vanguarda que vai conduzir a classe operária e os trabalhadores à revolução. Como caracteriza hoje a revolução socialista?
A revolução socialista não tem nem uma solução única, nem um modelo único. A experiência dos êxitos e dos fracassos da revolução...

E características comuns que caracterizem essa revolução socialista?
Existem leis gerais de qualquer revolução, onde o papel das massas é determinante, onde a alteração das estruturas económicas é outro elemento fundamental, no quadro de uma superação do capitalismo e de construção de uma sociedade socialista. Mas qualquer revolução, do nosso ponto de vista, tem que ter em conta várias realidades: a história, a cultura, a relação de forças no plano interno e no plano externo, e o grau de consciência das massas para assumirem essa transformação de poder. Muitas vezes perguntam-me e eu estou profundamente convicto que, respeitando essas leis gerais, os caminhos do socialismo serão caminhos que vão ser trilhados por muitos povos mas cada um por forma diferente. Em Portugal foi diferente este processo da Revolução de Abril. Nós hoje defendemos em termos programáticos uma política patriótica e de esquerda e um governo capaz de a concretizar, uma democracia avançada como outra etapa.

Nesse projecto de revolução, onde fica a democracia?
A democracia expressa-se particularmente neste exemplo concreto. Aquando da vitória da Revolução de Abril, o PCP apresentou um projecto de Constituição da República, uma democracia que considerávamos política, social, económica e cultural, a par da questão da independência nacional. E, no plano político, eleições livres, pluralismo partidário, liberdades políticas e sociais, com um projecto para a sociedade portuguesa que vivia naquele tempo. Uma revolução, particularmente em relação à questão da democracia política, está reflectida no nosso projecto original de Constituição.

Como vê as críticas expressas por Miguel Urbano Rodrigues no texto publicado no Avante!, em que ele criticava as Teses e dizia que o PCP, na análise que faz da situação política cedia nos princípios?
É uma opinião. Não é por acaso que nós abrimos, aquele espaço de tribuna. Podíamos limitar-nos à discussão interna, em grandes plenários e assembleias que realizamos por todo o país, onde os militantes colocaram livremente a sua opinião e tomaram as decisões de forma totalmente livre. E em relação a esse como a outros artigos, aliás, tenho sempre uma visão positiva da crítica e da autocrítica. Isto não quer dizer que se aceite, mas se não se compreende, se não se procura perceber a razão da crítica, os seus fundamentos, obviamente estamos a fechar-nos e não consideramos a necessidade da resposta, se entendermos que deve haver, até à decisão tomada. Depois, obviamente, temos de defender essa decisão que é do colectivo. Mas em relação a essa posição de um membro do partido, haverá outros com certeza. Nestes meses de preparação do Congresso, fiz muitas, muitas reuniões com centenas de quadros do partido e quero dizer que estou profundamente convicto que este congresso - vocês lá estarão depois para cobrar - vai ser um congresso de unidade, de afirmação de coesão.

Portanto, não está à espera que surjam críticas?
Se não surgirem, enfim, não seria bom.

É bom que surjam?
É bom que surjam. Porque, não somos perfeitos nem criamos aqui uma situação intocável. Então não existem razões de descontentamento perante insuficiências, dificuldades? E se se expressarem no Congresso eu acho que não vem mal ao mundo.