Sanders acusa Trump de enfraquecer postos de trabalho após acordo para manter fábrica nos EUA

Donald Trump apresenta negócio como o cumprimento de uma promessa, mas o antigo candidato do Partido Democrata diz que o Presidente eleito "deu a entender a cada empresa americana que pode ameaçar deslocalizar postos de trabalho em troca de benefícios fiscais e incentivos".

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Mike Pence e Donald Trump Mike Segar/Reuters

A empresa multinacional United Technologies, que vai manter a maioria dos postos de trabalho de uma das suas fábricas no estado norte-americano do Indiana em vez de levá-los para o México, vai receber sete milhões de dólares em benefícios fiscais nos próximos dez anos. O senador Bernie Sanders, que defende a manutenção de postos de trabalhos nos EUA, criticou o acordo e disse que a multinacional fez de Donald Trump "um refém".

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A empresa multinacional United Technologies, que vai manter a maioria dos postos de trabalho de uma das suas fábricas no estado norte-americano do Indiana em vez de levá-los para o México, vai receber sete milhões de dólares em benefícios fiscais nos próximos dez anos. O senador Bernie Sanders, que defende a manutenção de postos de trabalhos nos EUA, criticou o acordo e disse que a multinacional fez de Donald Trump "um refém".

Os pormenores das negociações entre a equipa de Donald Trump e os responsáveis da United Technologies não foram revelados, mas o Presidente eleito dos EUA vai falar esta quinta-feira aos trabalhadores da fábrica em Indianápolis, antes de iniciar uma volta de consagração pelos estados mais importantes no caminho para a sua vitória nas eleições, como o Ohio, a Pensilvânia e o Michigan.

A United Technologies anunciou em Fevereiro que iria levar duas fábricas do Indiana para o México, num total de 2100 postos de trabalho, mas o então candidato à nomeação pelo Partido Republicano, Donald Trump, prometeu convencer a empresa a mantê-las nos EUA – ou então impor uma taxa de 35% sobre as importações de empresas norte-americanas que saiam do país.

Nos últimos dias, a United Technologies anunciou que vai manter uma dessas fábricas no Indiana – a da Carrier, uma fábrica de aparelhos de ar condicionado que emprega 1200 operários. A outra, operada pela United Technologies Electronic Controls, que fabrica componentes electrónicos para o mesmo tipo de aparelhos, vai mesmo mudar-se para o México, levando com ela 700 postos de trabalho.

No total, o acordo prevê a manutenção na fábrica da Carrier em Indianápolis de 800 postos de trabalho que iriam para o México, e mais 300 cuja mudança nunca esteve em causa (trabalham no departamento de investigação e em escritórios). Os restantes 600 postos de trabalho na fábrica de Indianápolis vão mesmo ser levados para o México, tal como os 700 da fábrica da United Technologies Electronic Controls em Huntington, que vai fechar.

A multinacional admitiu que "os incentivos oferecidos pelo estado [do Indiana] foram importantes para a decisão", e deixou claro que o acordo "não diminui de forma alguma" a sua crença "nos benefícios do comércio livre e no facto de que as forças da globalização vão continuar a exigir soluções para a competitividade a longo prazo dos Estados Unidos e dos trabalhadores americanos".

Um golpe publicitário

As negociações foram lideradas pelo vice-presidente eleito, Mike Pence, que é ainda o governador do Indiana, e os incentivos fiscais são uma arma que os estados costumam usar para tentar impedir que as fábricas sejam levadas para outros países. É por isso que muitos analistas olham para este acordo entre Donald Trump e a United Technologies como um golpe publicitário, e até mesmo um mau exemplo para a economia do país – estes analistas alertam para a possibilidade de outras empresas começarem a exigir benefícios pagos pelos contribuintes para manterem alguns postos de trabalho no país.

O caso da United Technologies, detentora da fábrica da Carrier no Indiana é apontado como um exemplo disso – a United Technologies é uma multinacional com inúmeros contratos federais na área da Defesa, e recebe do Governo americano quase seis mil milhões de dólares por ano; por essa razão, também interessa aos seus responsáveis manterem uma boa relação com a próxima Administração.

Mas entre os 800 operários que vão manter os seus postos de trabalho a notícia não podia ser melhor. "Faltam-me 13 anos para a reforma e não quero começar tudo de novo. Tenho um bebé a caminho, e isto é uma bênção", disse Dominique Anthony ao jornal The Indianapolis Star.

O senador Bernie Sanders, que foi derrotado nas eleições primárias do Partido Democrata por Hillary Clinton, escreveu esta quinta-feira um artigo no Washington Post, onde se distancia do acordo entre Donald Trump e a United Technologies. Sanders disse que iria trabalhar com o Presidente eleito na manutenção de postos de trabalho nos EUA, mas agora veio esclarecer que o seu caminho é muito diferente do que foi trilhado por Donald Trump neste acordo com a fábrica no Indiana.

"No fundo, a United Technologies fez de Trump um refém e ganhou. E isso deve lançar uma onda de medo por todos os trabalhadores do país", escreveu Bernie Sanders, lembrando que o Presidente eleito prometeu, quando era ainda candidato, punir as empresas que anunciem a saída do país e não recompensá-las como benefícios fiscais.

"Trump pôs em perigo os postos de trabalho que antes estavam seguros nos Estados Unidos. Porquê? Porque deu a entender a cada empresa americana que pode ameaçar deslocalizar postos de trabalho em troca de benefícios fiscais e incentivos. Mesmo as empresas que não estavam a pensar em deslocalizar postos de trabalho vão provavelmente reavaliar a sua posição. E quem vai pagar os altos custos dos cortes nos impostos que vão para os executivos mais ricos da América? A classe trabalhadora da América", criticou Sanders.

No mesmo texto, o senador do Vermont anunciou que vai apresentar uma proposta chamada Outsourcing Prevention Act, que prevê, entre outras coisas, que as empresas que queiram sair do país "devem pagar um imposto igual ao total do montante que esperam ganhar por levar fábricas para países como o México ou outros países com mão-de-obra barata"; "não devem receber contratos federais"; "devem devolver os benefícios fiscais que receberam do Governo federal"; e "não devem ser autorizadas a recompensar os seus executivos com acções ou bónus provenientes de postos de trabalho levados para países com mão-de-obra barata".