Governo abre a porta a alteração dos escalões do IRS em 2018
Rocha Andrade admite criar patamar intermédio entre o primeiro e o segundo escalão ou mexer nas actuais taxas. Hipóteses ainda estão em aberto.
O Governo quer alterar os escalões do IRS no Orçamento do Estado de 2018, mas, avisa o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, as mudanças dependerão da existência de “condições para acomodar a redução de receita”. Em entrevista à Lusa, Fernando Rocha Andrade abre a porta a uma revisão, admitindo que a reformulação “não pode ser feita em neutralidade fiscal, ou seja, sem uma redução da receita fiscal”.
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O Governo quer alterar os escalões do IRS no Orçamento do Estado de 2018, mas, avisa o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, as mudanças dependerão da existência de “condições para acomodar a redução de receita”. Em entrevista à Lusa, Fernando Rocha Andrade abre a porta a uma revisão, admitindo que a reformulação “não pode ser feita em neutralidade fiscal, ou seja, sem uma redução da receita fiscal”.
No IRS, o Governo conta que o valor a arrecadar chegue aos 12.430,7 milhões de euros no próximo ano. “A nossa esperança é que seja possível fazê-lo no orçamento para 2018, mas naturalmente as condições de acomodar essa redução da receita têm de ser avaliadas mais perto da elaboração desse orçamento”, sublinhou. Se se confirmar, a medida avança na mesma altura em que a sobretaxa de IRS estará totalmente eliminada, segundo o compromisso actual do executivo de António Costa.
Questionado sobre se o objectivo é regressar aos oito escalões de IRS, o governante recordou que, na prática, o IRS já tem seis escalões, uma vez que “a taxa adicional de solidariedade é uma espécie de último escalão escondido”. “Não está escrito em lado nenhum que ela é provisória, ela foi colocada fora dos escalões para dar uma ideia de provisoriedade ou se calhar para esconder um facto: é que a taxa marginal mais elevada do IRS, para quem tem maiores rendimentos, neste momento é 53%”, apontou.
Solução em aberto
Rocha Andrade defendeu ainda que, “para eliminar uma parte do aumento de impostos que constituiu a redução de número de escalões, não é necessário voltar ao número de escalões” existentes (oito) antes do agravamento dos impostos protagonizado por Vítor Gaspar.
Para o governante, “há duas hipóteses” para alcançar aquele objectivo: criar "escalões intermédios" ou alterar as taxas dos escalões existentes.
O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais referiu que "a criação de um escalão intermédio provavelmente entre o primeiro e o segundo escalões seria onde mais se justificaria", tendo em conta que a taxa de 28,5% que incide sobre os rendimentos a partir dos 7035 euros de rendimento anual tributável “é uma taxa marginal muito pesada”.
Actualmente, uma família com um rendimento tributável anual de até 7035 euros (primeiro escalão) paga uma taxa de 14,5% em sede de IRS e a partir deste valor a taxa já sobe para os 28,5% para o montante de rendimentos entre os 7035 e os 20.100 euros (segundo escalão).
No entanto, o mesmo objectivo de aliviar o aumento de impostos que decorreu da diminuição do número de escalões “pode ser feito com alterações às taxas dos escalões”, disse o governante, acrescentando que “esse é um estudo que tem de se fazer” e que “as várias hipóteses têm de ser contempladas”.
Manter dedução por filho
Uma hipótese para compensar parcialmente a perda de receita que a reformulação dos escalões irá acarretar seria, por exemplo, reduzir o valor da dedução fixa por filho (de 600 euros), e questionado sobre se esta opção está em cima da mesa, Rocha Andrade não deu garantias, mas disse que preferia não seguir este caminho.
Sublinhando que a dedução fixa por filho, tal como foi configurada no orçamento de 2016, permite assegurar que “a dimensão da família deve ser considerada no cálculo do imposto” e introduz “um efeito importante de progressividade”, o secretário de Estado considerou que esta foi “uma evolução positiva do IRS”. Por isso, concluiu, “preferiria não baixar elementos do actual IRS que cumprem tão bem estas duas finalidades”.
Questionado sobre se admite que poderá ser criado algum novo imposto para compensar a perda de receita decorrente da alteração do número de escalões, o governante foi peremptório: “Não antevejo nenhuma criação de nenhum imposto novo no orçamento para 2018”.
Relativamente às alterações introduzidas no OE de 2017 e que vão permitir que as despesas com as refeições e o transporte escolares sejam dedutíveis em IRS, Rocha Andrade estima que a medida custe “menos de 10 milhões de euros”.
Notícia corrigida às 15h07: Ao contrário do que se escreveu inicialmente, o secretário de Estado referiu que a revisão dos escalões implica perda de receita, porque “não pode ser feita em neutralidade fiscal, ou seja, sem uma redução da receita fiscal”.