Falcoaria portuguesa classificada como Património Imaterial da UNESCO

Portugal é o 14.º país onde esta prática é reconhecida.

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A arte da falcoaria em Portugal foi, esta quinta-feira, declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, no decorrer da reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que está a decorrer em Adis Abeba, na Etiópia. Já na terça-feira, o mesmo comité aprovara a classificação mundial do processo de fabrico do barro preto de Bisalhães (Vila Real). Duas decisões que se vêm juntar às obtidas nos últimos anos pelo cante alentejano e pela arte chocalheira.

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A arte da falcoaria em Portugal foi, esta quinta-feira, declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, no decorrer da reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que está a decorrer em Adis Abeba, na Etiópia. Já na terça-feira, o mesmo comité aprovara a classificação mundial do processo de fabrico do barro preto de Bisalhães (Vila Real). Duas decisões que se vêm juntar às obtidas nos últimos anos pelo cante alentejano e pela arte chocalheira.

Com origens no século XVIII e desenvolvida em torno da caça tradicionalmente praticada pela família real, a arte falcoeira atingiu o seu expoente máximo em Portugal na região ribatejana de Salvaterra de Magos, vila onde o rei D. José mandou inclusivamente construir o chamado Palácio da Falcoaria. Um edifício recuperado nas últimas décadas pela edilidade salvaterrense, que funciona hoje como um centro cultural e como um espaço de divulgação da arte de caça com aves. Ali vivem, actualmente, 25 falcões treinados e os visitantes podem ver demonstrações de caça e de treino e várias exposições sobre esta temática.

A Câmara de Salvaterra de Magos liderou, por isso, a candidatura Falcoaria. Património Humano Vivo à classificação da UNESCO (organização das Nações Unidas para a educação, cultura e ciência), em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) e com a Universidade de Évora. A decisão final foi adiada de quarta para quinta-feira e foi anunciada cerca das 9h50 (hora da Etiópia) deste dia 1.

O presidente da Câmara de Salvaterra, Hélder Esménio, que esteve em Adis Abeba juntamente com o presidente substituto da Comissão Nacional da UNESCO, não escondeu a sua satisfação, salientando que, já em 2014, o município registou Salvaterra de Magos como “Capital Nacional da Falcoaria” porque “a Falcoaria Real de Salvaterra é um dos principais cartões-de-visita [do] concelho, é um património ímpar no nosso país e um dos poucos na Europa” – um edifício do século XVIII com características únicas na Península Ibérica. O autarca levou mesmo alguns utensílios utilizados na caça com o falcão, como uma luva e três caparões, para apresentar aos delegados do comité da UNESCO.

Salvaterra de Magos de olho no turismo

“Esta certificação pela UNESCO será, com certeza, mais uma oportunidade para promover o país, o Ribatejo e, em particular, o concelho de Salvaterra, tornando-o num apetecível destino turístico, onde a falcoaria se alia à natureza e ao Tejo, mantendo viva esta prática milenar que é a caça com falcão e que em Salvaterra tem já séculos de existência”, prossegue o autarca eleito pelo PS, manifestando a expectativa de que esta classificação venha a gerar um aumento de visitas ao Palácio da Falcoaria e ao concelho salvaterrense.

A mesma expectativa tem António Ceia da Silva, presidente da ERTAR, organismo que nos últimos anos se tem destacado pelo empenho em vários processos de classificação de tradições culturais portuguesas. Ceia da Silva sublinha que há dados que referem que uma classificação mundial deste tipo chega a gerar aumentos de 600% no volume de visitantes, gerando benefícios evidentes para a preservação destas artes e para a economia das regiões onde estão implantadas. Nesta candidatura foram investidos 40 mil a 50 mil euros, valor que Ceia da Silva considera perfeitamente justificado pelo resultado alcançado, frisando que processos como o do Cante Alentejano ou do Montado de Sobro exigem maiores investimentos.

O presidente da Associação Portuguesa de Falcoaria, Pedro Afonso, sustenta que “a inscrição da falcoaria portuguesa junto da UNESCO representa uma clara demonstração da importância e relevância desta forma de caça num mundo onde as práticas tradicionais se encontram fortemente ameaçadas pela pressão crescente da globalização. Este é, não apenas, um momento histórico para a falcoaria em Portugal, mas também uma oportunidade importante para a construção de medidas de melhoria a nível nacional”. Entre outras iniciativas, esta classificação vai conduzir ao desenvolvimento de um plano de salvaguarda da falcoaria portuguesa.

Portugal é o 14.º país a ver esta prática reconhecida pela UNESCO, depois de Bélgica, República Checa, França, Coreia, Mongólia, Marrocos, Qatar, Arábia Saudita, Espanha, Síria e Emirados Árabes Unidos, em 2010, e Áustria e Hungria, em 2012.