Três perguntas a Nuno Crato

Interromper a política dos últimos 20 anos, de crescente exigência e avaliação, pode ser fatal, alerta ex-ministro.

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O ex-ministro da Educação, Nuno Crato, distribui mérito pelos resultados dos alunos do 4.º ano por vários titulares da pasta MIGUEL MANSO

Portugal foi o país que mais evoluiu nos últimos 20 anos nos resultados a Matemática dos alunos do 4.º ano. A que atribuiu este feito?
A evolução deve-se ao trabalho continuado de professores, escolas, pais e alunos - naturalmente! Mas esse trabalho foi incentivado por uma política educativa que colocou uma ênfase crescente nos resultados: maior rigor na avaliação do 12.º ano (Ferreira Leite e Marçal Grilo), exames no 9.º ano (David Justino), primeira tentativa de metas (Isabel Alçada) e depois, connosco, metas curriculares mais rigorosas e exigentes, avaliação final no 4.º e 6.º anos… Creio que esta política de avaliação de resultados, conjugada com a existência de objectivos mais claros e ambiciosos, acabou por ser decisiva.

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Portugal foi o país que mais evoluiu nos últimos 20 anos nos resultados a Matemática dos alunos do 4.º ano. A que atribuiu este feito?
A evolução deve-se ao trabalho continuado de professores, escolas, pais e alunos - naturalmente! Mas esse trabalho foi incentivado por uma política educativa que colocou uma ênfase crescente nos resultados: maior rigor na avaliação do 12.º ano (Ferreira Leite e Marçal Grilo), exames no 9.º ano (David Justino), primeira tentativa de metas (Isabel Alçada) e depois, connosco, metas curriculares mais rigorosas e exigentes, avaliação final no 4.º e 6.º anos… Creio que esta política de avaliação de resultados, conjugada com a existência de objectivos mais claros e ambiciosos, acabou por ser decisiva.

Receia que estes resultados venham a ser postos em causa com o fim dos exames do 4.º ano e a mudança de programas já anunciada pela actual equipa da Educação?
Os resultados são significativos e visíveis: em Matemática e no 4.º ano ultrapassámos a Finlândia! Interromper a política dos últimos 20 anos, de crescente exigência e avaliação, pode ser fatal.

Entre 2011 e 2015 os resultados a Ciências dos alunos do 4.º ano desceram 14 pontos. Terá esta descida sido resultado da aposta forte do seu ministério a Português e Matemática?
Não o creio, e vejo as coisas ao contrário: chegou a altura de dar mais atenção às ciências e de estabelecer, também aí, metas bem organizadas, coerentes e exigentes, e de complementar essas metas com alguma forma de avaliação sistemática, que ajude todos - pais, alunos e professores - a ser também mais ambiciosos.

É natural que as atenções se tenham centrado no Português e na Matemática – no fundo essas disciplinas são decisivas para a vida futura dos alunos e são estruturantes, porque são necessárias para todo o percurso escolar dos alunos – uma boa preparação nelas ajuda ao sucesso nas outras. Não devemos retirar importância ao Português e à Matemática. Devemos, isso sim, pensar seriamente no ensino das ciências no 1.º ciclo. Para que possamos também aí melhorar os nossos resultados.