É preciso deixar as mulheres conduzir, defende príncipe saudita
Milionário sem ligações ao Governo usa argumentos económicos para justificar que se acabe com a proibição.
Um príncipe saudita apelou ao fim “urgente” da interdição, por motivos religiosos, de as mulheres conduzirem o seu próprio carro. “Acabem com o debate: já é tempo de as mulheres poderem conduzir”, escreveu o príncipe Alwaleed bin Talal no Twitter, e numa carta de quatro páginas divulgada no seu site.
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Um príncipe saudita apelou ao fim “urgente” da interdição, por motivos religiosos, de as mulheres conduzirem o seu próprio carro. “Acabem com o debate: já é tempo de as mulheres poderem conduzir”, escreveu o príncipe Alwaleed bin Talal no Twitter, e numa carta de quatro páginas divulgada no seu site.
O príncipe Alwaleed não tem ligações ao Governo da Arábia Saudita, por isso não é de esperar que o seu apelo seja levado em conta. Mas, por outro lado, é um milionário, um dos mais ricos do mundo, com investimentos em áreas como a hotelaria e o imobiliário e activos que incluem participações no banco norte-americano Citigroup e no parque de diversões Euro Disney. Não é apenas mais um dos muitos príncipes da família real saudita, frisa o New York Times, pelo que não é de desprezar que tenha juntado a sua voz à campanha para permitir que as mulheres sauditas possam guiar automóveis e também um pouco mais o seu destino.
“Proibir uma mulher de guiar um carro hoje é uma questão de defesa dos seus direitos, semelhante à proibição que outrora a impedia de ter acesso à educação, ou uma identidade independente”, disse Alwaleed . “Tudo isto são actos injustos de uma sociedade tradicional, muito mais restritiva do que é permitido, dentro da lei, pelos preceitos religiosos”, afirmou o príncipe saudita, citado pela AFP.
Para além de falar em justiça, o príncipe milionário colocou a questão em termos económicos: impedir as mulheres sauditas de conduzir custa caro. Para que se possam deslocar, é preciso que os maridos ou outros familiares conduzam os carros, abandonando o trabalho. Ou então contratar motoristas, normalmente estrangeiros, cujo salário ronda os 960 euros. É um custo que contribui para o fluxo de capitais para fora do país, argumentou, e que aumenta a pressão sobre os orçamentos familiares sauditas.
Num momento em que o reino tem de controlar as contas, devido à grande descida do preço do petróleo, que fez com que os lucros com as vendas do crude baixassem 51% no ano passado, é preciso mudar a situação, diz. “Permitir que as mulheres conduzam tornou-se uma exigência social urgente, devido às circunstâncias económicas”, disse o príncipe Alwaleed . A proibição continua a ser imposta pela polícia religiosa do reino.
Mas Mohamed bin Salman, o príncipe que mais influência tem no Governo e que parece ter-se tornado um forte concorrente para ascender ao trono, tem dito “não estar convencido” de que as mulheres devam poder guiar automóveis, quando confrontado com as frequentes acções de protesto. As suas reservas, diz, têm mais a ver com as resistências que persistem na sociedade do que com a doutrina religiosa.