Crédito ao consumo acelera 19% com ajuda de campanhas agressivas
Banco de Portugal mandou corrigir mais de uma centena de suportes de publicidade, sobretudo os que promoviam crédito automóvel.
O crédito aos consumidores está aumentar desde 2013, mas de forma mais acentuada desde Janeiro do corrente ano. Este crescimento está a ser feito à “boleia” da compra de automóveis, depois de vários anos de quebra na aquisição deste tipo de bens, mas também com a ajuda de uma maior promoção dos bancos a este tipo de crédito, que tem taxas de juro mais elevadas.
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O crédito aos consumidores está aumentar desde 2013, mas de forma mais acentuada desde Janeiro do corrente ano. Este crescimento está a ser feito à “boleia” da compra de automóveis, depois de vários anos de quebra na aquisição deste tipo de bens, mas também com a ajuda de uma maior promoção dos bancos a este tipo de crédito, que tem taxas de juro mais elevadas.
De Janeiro a Setembro, foram concedidos 4301 milhões de euros nos vários segmentos do crédito aos consumidores (automóvel, pessoal, cartões de crédito, entre outros), o que representa um aumento de 19,2% face a igual período de 2015. Os dados de Outubro voltam a mostrar um crescimento, com o Banco de Portugal (BdP) a divulgar uma variação mensal homóloga de 3,5%. O ritmo dos novos créditos está agora ao nível de 2010, antes do agudizar da crise económica e financeira em Portugal.
O crédito pessoal, onde se incluem gastos com educação, saúde, energias renováveis e outros sem fim específico, rivaliza de perto com o crédito automóvel. Em Setembro, dos 513,6 milhões de euros concedidos (novos empréstimos), o crédito pessoal absorveu 237,8 milhões de euros e o automóvel 191,6 milhões de euros. Para os cartões de crédito e outros descobertos foram concedidos 84 milhões de euros.
A maior confiança dos portugueses face à evolução da economia é uma das razões para a aceleração deste tipo de crédito de taxas elevadas, que actualmente variam entre o mínimo de 5,5% (crédito pessoal) e o máximo de 17,3% (cartões de crédito). Ajudou ainda a alteração introduzida no Imposto Sobre Veículos (ISV), anunciado em Fevereiro e que entrou em vigor em Abril.
Mas o crescimento também se explica pela maior disponibilidade das instituições financeiras em conceder este tipo de empréstimos, o que é visível nos montantes concedidos, mas também no crescimento significativo nas campanhas publicitárias, muitas delas a esconder ou a desvalorizar a informação mais relevante.
Liderança nas correcções
É visível o aumento dos anúncios na rádio, que começam por apresentar, de forma calma, as vantagens do crédito, mas que depois revelam a informação importante em poucos segundos, de forma quase imperceptível. É o caso da informação relativa à TAEG, a taxa anual efectiva geral, que reflecte todos os custos de financiamento, como comissões do processo, cobrança da prestação, entre outros. No relatório de supervisão comportamental, relativo aos primeiros seis meses deste ano, o BdP reconhece que “aumentou ligeiramente a difusão de campanhas por um período de tempo que não permite uma leitura ou audição adequada”.
Também nos pontos de venda (lojas e stands) e noutros suportes de publicidade o destaque vai quase sempre para a TAN (taxa anual nominal, que não reflecte todos os custos) e, em letras muito pequenas ou com menor destaque, surge a TAEG.
A maior agressividade da banca é visível no número de determinações específicas dirigidas a este tipo de crédito. No total de 426 determinações específicas (para correcção de irregularidades em todos os produtos bancários), emitidas através da realização de inspecções (77%), fiscalização de publicidade (11,5%) e análise de reclamações (11,5%), o número mais elevado vai para o crédito ao consumo: 258 ou 60,6%. Este número representou um crescimento de 64,3% face aos primeiros seis meses de 2015. O supervisor refere que, nessas determinações, destaca-se as matérias relativas à TAEG, que, para este tipo de crédito, é a mais importante para o cliente.
Na componente da publicidade, o BdP supervisionou 4084 suportes (de todo o tipo de produtos) de 53 instituições de crédito, um acréscimo de 10% em termos de média mensal face a igual período do ano passado. Este aumento, refere o regulador, deve-se fundamentalmente ao maior número de campanhas publicitárias “visando a promoção de cartões de crédito e de crédito pessoal”.
Segundo a conclusão do supervisor, a proporção de suportes não conformes aumentou. Dos 3734 analisados após a sua divulgação, a instituição liderada por Carlos Costa ordenou alterações em 105, com o crédito automóvel à frente: 39 determinações específicas, seguindo-se o crédito pessoal, com 25.
O crédito automóvel é ainda destacado como o produto com maior rácio individual de incumprimento (suportes publicitários não conformes), representando 15,1% – contra 4,9% no crédito pessoal. Já os cartões de crédito apresentam um rácio de incumprimento mais baixo (1%), ainda assim mais alto do que os 0,7% registados no primeiro semestre de 2015. Com Luís Villalobos