“O investimento na linha vermelha é prioritário. Não abdiquei dele”

Fernando Medina defende a importância de se unir as estações do Rato e do Cais do Sodré para resolver o "estrangulamento" hoje existente, mas considera igualmente importante levar o Metropolitano de Lisboa à zona ocidental da cidade.

i-video

A entrega da Carris à câmara a um ano das autárquicas é uma prenda do Governo?
De forma alguma. É o cumprimento de um compromisso do programa do Governo, mas também de uma ambição antiga da Câmara de Lisboa. Chegámos a ter negociações muito avançadas no anterior Governo. Só não foram concluídas por uma opção de natureza estritamente ideológica, em particular do primeiro-ministro à época. Ele entendia que as câmaras não tinham vocação para gerir sistemas de transportes e que teriam de ser privados.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A entrega da Carris à câmara a um ano das autárquicas é uma prenda do Governo?
De forma alguma. É o cumprimento de um compromisso do programa do Governo, mas também de uma ambição antiga da Câmara de Lisboa. Chegámos a ter negociações muito avançadas no anterior Governo. Só não foram concluídas por uma opção de natureza estritamente ideológica, em particular do primeiro-ministro à época. Ele entendia que as câmaras não tinham vocação para gerir sistemas de transportes e que teriam de ser privados.

Quanto é que a Carris vai custar à câmara por ano? Em 2017 está reservada no orçamento uma verba de 15 milhões de euros.
É esse o valor de base de referência, que pode ser aumentado. Será completado com outras fontes de receita que a própria Carris irá desenvolver, como a negociação da publicidade dos meios, cujos contratos estão a terminar. Vai ser complementado com o acesso a fundos comunitários para o investimento na renovação da frota. Por isso, esse é um valor que vamos adaptando com a evolução das necessidades.

Não há o risco de a assunção da Carris comprometer a saúde financeira da câmara?
A questão da sustentabilidade financeira da Carris e desta operação é de grande importância. O país conheceu nas últimas décadas dois modelos profundamente errados. O primeiro é achar que temos um serviço de transporte público e que não o pagamos. O modelo em que uma autoridade de transportes, seja o Estado ou o município, queira desenvolver os transportes públicos não os pagando, acumulando dívida, é totalmente insustentável. Afastamo-nos por completo desse modelo. Há um segundo modelo que se mostrou insustentável, que foi o modelo de reduzir tanto o serviço público, à quase inexistência, que passámos a ter um serviço de transporte que não serve as necessidades de mobilidade. O que estamos a propor é um modelo em que assumimos com clareza que o transporte público tem um custo, que não se paga só com as receitas dos tarifários e que tem que ser completado com receitas adicionais.

E isso não pode comprometer as finanças da câmara?
Na minha opinião não. As finanças da câmara têm a solidez e a robustez para esta aposta. Teremos obviamente de ir fazendo escolhas do ponto de vista da gestão dos orçamentos, mas não tenho dúvida de que esta é uma área estratégica em que temos de apostar.

Eventuais despesas relacionadas com os swaps serão assumidas por quem?
Quer a dívida histórica, quer as contingências associadas à gestão da empresa até à câmara a assumir correrão por conta do Estado.

Em relação ao Metropolitano de Lisboa, no acordo de princípio com o Governo fala-se em integração com a Carris, mas não se diz como será garantida.
O que está previsto é haver um contrato interadministrativo entre o Estado e a câmara que regule a forma como as duas autoridades de transportes se vão relacionar. Ainda iremos negociar os termos mais precisos, mas posso adiantar alguns aspectos que para nós são essenciais. Primeiro a participação da câmara na administração do Metro, retomando o que tinha sido uma realidade durante um período da história.

A câmara passará a ter um elemento na administração do Metro?
Que na minha opinião deve ser um representante da Carris, para facilitar os elementos de articulação operacional. Em segundo lugar o que me parece mais importante é que fique muito claro, do ponto de vista até dos próprios estatutos das empresas, que vamos manter a integração da bilhética, do tarifário, do sistema de informação ao munícipe. E que vamos, aliás, ambicionar em conjunto mais, que é proceder a uma integração maior a nível metropolitano. Não há resolução dos problemas de mobilidade na cidade de Lisboa pensada dentro das fronteiras do município.

Já se pronunciou favoravelmente sobre a ligação do metro entre o Rato e o Cais do Sodré. Mas a verdade é que com ela a zona ocidental da cidade continuará a descoberto. Isto preocupa-o?
A falta de metro na zona ocidental? Sem dúvida, é um problema essencial na cidade e não abdicamos de forma nenhuma dessa expansão.

E não devia ser esta a prioridade?
A ligação da linha verde à linha amarela vai-nos permitir fazer uma mudança muito grande na forma como o metro opera. Vamos passar a ter uma linha circular com grande capacidade de distribuição. Agora quero ser muito claro: o investimento na linha vermelha, no prolongamento do eixo São Sebastião, Campolide, Amoreiras, Campo de Ourique e depois até à zona ocidental de Alcântara, Ajuda, Belém, é prioritário. Não abdiquei dele. De forma alguma. Como também acho que é muito importante ser completada a extensão da linha vermelha do Aeroporto até Entrecampos.