Tiros e casas queimadas lançam o pânico nas comunidades de Santo Aleixo
Desde Setembro que se sucedem actos de vandalismo contra a família cigana que mora nesta pequena freguesia do concelho de Moura.
Em Santo Aleixo da Restauração, freguesia do concelho de Moura, vive uma única família cigana, um agregado com cerca de meia centena de pessoas. E, ao contrário do que acontece no Bairro das Pedreiras em Beja, é uma comunidade sedentária que reside há 15 anos na freguesia, integrada na comunidade autóctone, em casas adquiridas pelos vários membros da família de José Manuel Caixinha, irmãos, filhos e sobrinhos, sem que haja registo de conflitualidade... até meados do passado mês de Setembro.
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Em Santo Aleixo da Restauração, freguesia do concelho de Moura, vive uma única família cigana, um agregado com cerca de meia centena de pessoas. E, ao contrário do que acontece no Bairro das Pedreiras em Beja, é uma comunidade sedentária que reside há 15 anos na freguesia, integrada na comunidade autóctone, em casas adquiridas pelos vários membros da família de José Manuel Caixinha, irmãos, filhos e sobrinhos, sem que haja registo de conflitualidade... até meados do passado mês de Setembro.
Um sobrinho de Manuel Caixinha conta como se deu início ao conflito que lançou em sobressalto as comunidades cigana e autóctone. “Um membro da nossa família teve uma discussão com um espanhol do Rosal de la Frontera [povoação espanhola vizinha de Barrancos, a cerca de 20 quilómetros de Santo Aleixo da Restauração].” Foi o “álcool” que provocou o incidente que viria a ter consequências que deixaram as duas comunidades em sobressalto, acrescenta Manuel Caixinha, que também é pastor na Igreja Evangélica de Filadélfia. O pequeno templo que mandaram construir há oito anos, e onde realizavam o culto, foi incendiado na madrugada de 20 Setembro.
A estrutura exterior, feita em chapa metálica, resistiu às chamas, mas no seu interior “ardeu tudo”, salienta o sobrinho de Manuel Caixinha, convicto de que a sua comunidade “está a ser vítima de racismo e de vandalismo”.
Duas semanas depois, “puxaram fogo” à casa de um membro da comunidade cigana e a um carro que estava para abate, acrescenta o pastor evangélico. Seguem-se a um ritmo semanal os incêndios em duas casas habitadas e mais três carros. “Ainda hoje não sabemos quem pegou fogo e quais as razões”, garante o sobrinho de Manuel Caixinha.
O PÚBLICO quis saber como é o relacionamento com as outras pessoas da freguesia. “Uns falam-nos bem, a outra parte não quer nada connosco”, diz o pastor evangélico. “Ainda se nós fizéssemos mal a alguém”, lamenta-se, realçando como os incidentes assustaram as crianças.
O presidente da Associação dos Mediadores Ciganos, Prudêncio Canhoto, está a acompanhar a situação e confirmou ao PÚBLICO que as pessoas “sentem-se inseguras com receio do que lhes possa acontecer”.
Sérgio Escoval Baião, natural de Santo Aleixo da Restauração e reformado, confirma a existência de conflitos e que a GNR “até à noite tem vindo à freguesia por causa dos tiros”. Está convicto que os culpados não estão entre a população.
“As razões são dos dois lados”, sentencia o major Carlos Bengala, oficial de Relações do Comando Territorial de Beja da GNR, deixando claro que a situação está a ser acompanhada e que foram reforçados os patrulhamentos. Os inquéritos às causas dos incidentes ainda não estão concluídos e a Polícia Judiciária continua a investigar, assinala Carlos Bengala, afirmando não haver indicação que “tenha ardido um carro que estivesse em condições de funcionar”. E numa das casas “o incêndio terá sido provocado uma ligação ilegal de energia”, observa.
O porta-voz da GNR de Beja diz que numa comunidade tão pequena e maioritariamente idosa, “é incompreensível a existência de 14 ocorrências só no mês de Outubro”, o que prova que a conflitualidade em Santo Aleixo “atingiu uma proporção que não é normal” .
O presidente da Câmara de Moura, Santiago Macias, diz que autarquia tem vindo “a reclamar mais meios de segurança para o concelho”, como o reforço da presença da GNR nas áreas rurais.