Jorge Palma volta ao piano de Só, com um disco na calha e Beethoven pelo meio
Vinte e cinco anos depois da sua primeira edição, Só volta às lojas e aos palcos. Começa esta segunda-feira, no CCB, às 21h. Jorge Palma explica como será.
São seis concertos, quase consecutivos, para Jorge Palma reapresentar ao vivo um dos seus discos mais singulares e também mais aplaudidos: Só, gravado em Fevereiro de 1991, apenas voz e piano. Para os que se habituaram a vê-lo de guitarra (fosse acústica ou eléctrica) podia parecer estranho, mas era a mais natural das coisas. Jorge Palma começou a tocar piano aos 5 anos, a estudá-lo aos 6 e aos 8 já prestava provas no Conservatório. Aos 13 anos, ganhou o 2.º prémio do Concurso Internacional de Piano, em Palma de Maiorca. Mas aos 14 abraçou o rock’n’roll e o piano ficou para trás.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
São seis concertos, quase consecutivos, para Jorge Palma reapresentar ao vivo um dos seus discos mais singulares e também mais aplaudidos: Só, gravado em Fevereiro de 1991, apenas voz e piano. Para os que se habituaram a vê-lo de guitarra (fosse acústica ou eléctrica) podia parecer estranho, mas era a mais natural das coisas. Jorge Palma começou a tocar piano aos 5 anos, a estudá-lo aos 6 e aos 8 já prestava provas no Conservatório. Aos 13 anos, ganhou o 2.º prémio do Concurso Internacional de Piano, em Palma de Maiorca. Mas aos 14 abraçou o rock’n’roll e o piano ficou para trás.
Até que, mas tarde, decide retomá-lo. Depois de fazer o Curso Geral de Piano no Conservatório (1983-1986), Jorge Palma abalançou-se ao então designado Curso Superior de Piano. Teve aulas primeiro com Olga Prats e depois com Miguel Henriques. E teve mais professores, até concluir o curso mais professores e inspiradores. “Foram três a quatro anos de composição, com o António Sousa Dias, depois com o Jorge Peixinho, a Maria de Lourdes Martins. Foram uns anos entusiasmantes, apanhei uma época de ouro no Conservatório.” No livro Na Palma da Mão (biografia oficial de Jorge Palma, da autoria de Pedro Teixeira, Ed. Prime Books, 2008), Olga Prats diz: “Ele não queria aprender o ‘B, A, BA’ nem aquelas coisas chatas, mas sim aprender a música através do piano.” E mais adiante: “Na música do Jorge, que ainda hoje me continua a encantar, existe a mistura de criatividade com o saber. Ele sabe o que faz. O Jorge não se senta ao piano para fazer qualquer coisa.”
Feito o exame, surge-lhe uma proposta gravar um disco só voz e piano. O que, como ele diz agora ao PÚBLICO, “está ligadíssimo” à conclusão, com êxito, do Conservatório. “Porque eu estava em forma, os dedos estavam impecáveis. Tinha estado a tocar coisas dificílimas, Liszt, Chopin, Scriabin, Rachmaninov, Mozart. Portanto, quando o Tó Zé Brito me propõe isto (parece que naquela altura não havia muita massa, também), em vez de ter orquestra ou uma banda, tive um piano Steinway de concerto e o estúdio da Valentim de Carvalho. Fui o último a gravar lá, depois modificaram aquilo tudo.”
De volta ao estúdio em 2017
Então ele foi rever o seu repertório e escolheu as canções que faziam mais sentido. “Algumas que tinham sido feitas à guitarra, fiz-lhes arranjos mais pianísticos. Foi tranquilo.” E foi um desafio. “Por exemplo, o Jeremias, o fora-da-lei anda na onda do bluegrass, da country, da folk… Tenho partituras do Scott Joplin e tudo, mas nunca me dei ao trabalho de estudar o ragtime.”
O disco (agora reeditado, voltando às lojas 25 anos depois da primeira edição) inclui 15 canções, entre as quais algumas icónicas, como Canção De Lisboa, Frágil, Bairro do amor, Terra dos sonhos, Deixa-me rir ou Jeremias, o fora-da-lei. Gravado o disco, Palma mudou de rumo. “Um bocado como me tinha acontecido aos 14 anos, depois de gravar o Só atirei-me de cabeça ao mundo do rock outra vez, com o Palma’s Gang, muito heavy metal, boémia, noitadas, e estupidamente deixei esquecer na cabeça e nos dedos essas peças de Bach que toquei.”
Isso não o afastou do piano, a que regressa com frequência. E voltou a estudá-lo com mais afinco agora, para preparar os concertos. “Há coisas que estão a dar um bocado de trabalho, até porque vou entrar na área clássica, que também é o meu mundo, e vou tocar uma peça que me diz muito, que é a Sonata N.º 8 Op.13 de Beethoven.” O que se vai ouvir em palco? “Vou tocar na íntegra o Só, mas não pela ordem que está no disco. É uma outra ordem, que eu estabeleci. Depois tocarei a sonata e volto às minhas coisas. Hei-de tocar versões de Dylan, que costumo tocar, Leonard Cohen, que toquei muito ao longo da minha vida, e Prince. E há os franceses: Jacques Brel e Léo Ferré. Desta vez vou tocar uma das mais conhecidas do Ferré, o Avec les temps. Vou mostrar também um dos temas que estou a fabricar, tenho para aí uns cinco novos. Já tenho muitas ideias para o próximo disco e logo a seguir a esta série de concertos, em Janeiro e em metade de Fevereiro, vou entrar em estúdio.”
Só vai ser apresentado ao vivo em Lisboa, no CCB (dias 28 e 29, às 21h), no Porto, na Casa da Música (dia 1 e 3 de Dezembro, às 21h30), em Coimbra, no Convento de São Francisco (dia 6, às 22h) e em Faro, no Teatro das Figuras (dia 10, às 21h30).