“Quem não reconhece a lei não serve” para a CGD, diz BE

Nas reacções à saída de António Domingues, Bloco diz que o processo de recapitalização foi prejudicado pela polémica e PCP critica "opções erradas do Governo". A Comissão de Trabalhadores alerta que não pode haver um vazio no banco. E Arménio Carlos lamenta "a novela".

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Rui Gaudencio / Publico

Depois de semanas de impasse e da polémica sobre a entrega das declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, o gestor escolhido pelo Governo abandonou o cargo na Caixa Geral de Depósitos (CGD). António Domingues bateu com a porta e agora o Governo informa que muito brevemente "será designada uma personalidade" para substituir o actual administrador, que sairá no final de Dezembro.

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Depois de semanas de impasse e da polémica sobre a entrega das declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, o gestor escolhido pelo Governo abandonou o cargo na Caixa Geral de Depósitos (CGD). António Domingues bateu com a porta e agora o Governo informa que muito brevemente "será designada uma personalidade" para substituir o actual administrador, que sairá no final de Dezembro.

BE: "Demissão peca por tardia"

O Bloco de Esquerda afasta o cenário de demissão do ministro das Finanças por causa da forma como geriu o processo da nova administração da Caixa e coloca toda a responsabilidade em cima do ainda presidente do Conselho de Administração. "Quem não reconhece a lei não serve para gerir o banco público”, afirmou Mariana Mortágua, acrescentando que “a demissão de António Domingues já só peca por tardia”. Para a dirigente bloquista, “quem se demite por não estar disposto a assumir as regras de transparência, nunca esteve à altura de assumir o cargo”, acrescentou.

Domingues, frisou a deputada, “ouviu a palavra do Presidente da República, do primeiro-ministro, do Parlamento – onde todos os partidos disseram que tinha de apresentar as declarações de rendimentos - e por fim do Tribunal Constitucional, que deixou muito claras as obrigações de transparência” por parte dos administradores da CGD.A forma como o gestor conduziu este processo é “prova de uma irresponsabilidade que agora se encerra”, sublinhou.

Mariana Mortágua garantiu que “o BE dará sempre voto favorável a qualquer mecanismo que reforce as obrigações de transparência”, seja da Caixa ou de qualquer outra instituição pública, pois a transparência é um “desígnio” do partido.

O Bloco, acrescentou a dirigente aos jornalistas, está “empenhado no processo de recapitalização da CGD”, processo que diz ter sido “fragilizado” por esta polémica. O importante agora, frisou, é que “o processo seja terminado rapidamente e que a Caixa possa cumprir o desígnio de apoiar a economia portuguesa” continuando a ser “um banco público”.

PCP aponta "opções erradas" do Governo

O dirigente comunista Jorge Pires deseja uma Caixa Geral de Depósitos que ajude a economia portuguesa, sem atender aos "falsos argumentos" de CDS-PP e, sobretudo, PSD que "escondem o objectivo da privatização" do banco público. Mas não deixa de imputar responsabilidades ao Governo neste processo. "Esta demissão do presidente da CGD é resultado decorrente de opções erradas do Governo que, ao longo destas últimas semanas, meses, foram sendo aproveitadas para uma acção determinada por parte de PSD e CDS, particularmente do PSD, para vir a criar dificuldades à CGD, no sentido de vir a criar condições para a sua privatização", afirmou o dirigente comunista.

Para o PCP, Centeno não tem responsabilidade directa, que possa conduzir à assumpção de que se deve demitir "porque não há informação de que foi ele que fez essa opção de contratar aqueles administradores, com a condição de que podiam não apresentar a declaração de rendimentos".

Agora, diz, “o que é necessário é pôr a CGD a funcionar, dar-lhe os instrumentos para que possa cumprir com as suas missões: emprestar dinheiro às empresas, ajudar a economia a funcionar, ajudar as famílias, é esta a missão principal da CGD enquanto banco público e este problema deve ser resolvido o mais rápido possível", reforçou Jorge Pires.

Comissão de Trabalhadores: "Não pode haver um vazio"

O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) alertou que não pode haver um vazio no banco e pediu que seja encontrada rapidamente uma solução após a demissão do presidente do conselho de administração.
"Obviamente, estávamos com esperança de que o dr. António Domingues pudesse levar a cabo esta tarefa. Entendemos também que temos de ter um conselho de administração, que não pode haver um vazio na Caixa e que é fundamental que a tutela delibere rapidamente uma solução para este tipo de problema", afirmou Jorge Canadelo à Lusa.

O responsável relembrou que "há mais de três meses que a Comissão de Trabalhadores solicitou ao gabinete do primeiro-ministro e à tutela, o Ministério das Finanças, reuniões para que os trabalhadores dessem a sua opinião acerca desta matéria, situações que não ocorreram e não por culpa" da comissão.

À pergunta se ficou surpreendido com a demissão de António Domingues, o dirigente considerou que "muitas situações que têm sido criadas, nomeadamente este mediatismo é negativo não apenas para a Caixa, mas certamente atinge todos os seus oponentes". "E tem sido uma situação que praticamente todos os dias caem em cima da Caixa Geral de Depósitos. Há situações que se passam no sector bancário e noutras áreas de actividade que eu não vejo retratadas desta maneira", criticou.

Para Jorge Canadelo, "realmente há uma pressão tão grande que é possível que a pessoa se tenha sentido, de alguma forma, incomodada ou que tenha atingido o seu limite", mas isso só António Domingues "poderá dizer".

Para o líder da CGTP, todos saem com a "imagem chamuscada"

O secretário-geral da CGTP-IN não ficou surpreendido com a demissão e considerou que esta “novela”, da qual todos saem com a "imagem chamuscada", já devia ter terminado há muito tempo. “Esta é uma novela que já devia ter terminado há muito tempo e, portanto, a partir deste momento, com a demissão do dr. António Domingues, esperamos sinceramente que possamos passar uma nova fase e neste caso concreto encontrar um novo conselho de administração que seja mais diminuto, seja mais reduzido, cujos salários sejam mais baixos e, acima de tudo, tenha uma visão estratégica de gestão da CGD diferente daquela que é feita no sector privado”, afirmou.

Para Arménio Carlos, é necessário colocar a Caixa “ao serviço do desenvolvimento do país e, simultaneamente, para dar respostas à economia, às empresas, aos trabalhadores e à população”. “É isso que se pretende, é isso que se exige, é isso que se justifica agora mais do que nunca”, defendeu o secretário-geral da CGTP.

Questionado sobre quem sai mal desta “novela”, Arménio Carlos começou por referir “a administração da Caixa Geral de Depósitos ou, pelo menos, o presidente que agora pediu a demissão” que “já podia ter resolvido este problema há muito tempo”. “Se não estava interessado, pura e simplesmente já podia ter apresentado a demissão há mais tempo”, declarou.

UGT pede rapidez na nomeação da nova administração

O secretário-geral da UGT defendeu que o Governo deve ser célere na nomeação de uma nova administração para a Caixa. Carlos Silva insistiu “há que dar corpo a uma nova nomeação, a uma nova administração para que resolva os problemas da Caixa Geral de Depósitos tão rápido quanto possível”, sobretudo quando o Governo, do PS, foi autorizado por Bruxelas “a fazer a recapitalização da Caixa sem que isso entre para as contas do défice”, que classificou como “uma mais-valia para o país”.

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“Eu acho que, naturalmente, este brilhantismo de actuação do Governo neste capítulo não pode sair prejudicado com esta actuação um pouco desastrada em relação à matéria que teve a ver com a apresentação ou não de declarações de rendimento”, adiantou. Carlos Silva criticou ainda esta “novela”, considerando que “se arrastou demasiado tempo quando todos em Portugal sabem que em democracia ninguém está acima da lei”.

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 “Bem necessita o país que de que o sistema financeiro estabilize e essa estabilidade, com esta situação da Caixa, não ajudou nada, não ajudou a instituição, não ajudou o país e também não ajudou, sobretudo, os trabalhadores”, referiu Carlos Silva, argumentando que estes, “com esta convulsão, acabam por se ver numa situação difícil em termos internos da própria estabilidade numa eventual reestruturação que estava em cima da mesa”.<_o3a_p>