“A crise atingiu de uma forma especial os mais jovens”
Presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, José Caldas de Almeida defende uma psiquiatria feita mais na comunidade e menos nos hospitais. Nesta sexta-feira são apresentados os primeiros resultados de um estudo com novos dados sobre a saúde mental dos portugueses.
O que poderíamos ter feito de diferente nos últimos anos para mitigar os efeitos da crise?
Podíamos ter feito muitas coisas diferentes. O principal problema é que não aproveitámos esta crise para aprofundar as reformas que tinham sido iniciadas antes da crise, ou mesmo no início da crise, quando se aprovou Plano Nacional de Saúde Mental (PNSM). Foi um erro suspender a implementação do plano, porque parámos as mudanças que eram mais necessárias do que nunca. Precisamos de mais serviços na comunidade, de mais serviços virados para a prevenção e reabilitação e de melhorar a colaboração entre os serviços especializados e cuidados de saúde primários.
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O que poderíamos ter feito de diferente nos últimos anos para mitigar os efeitos da crise?
Podíamos ter feito muitas coisas diferentes. O principal problema é que não aproveitámos esta crise para aprofundar as reformas que tinham sido iniciadas antes da crise, ou mesmo no início da crise, quando se aprovou Plano Nacional de Saúde Mental (PNSM). Foi um erro suspender a implementação do plano, porque parámos as mudanças que eram mais necessárias do que nunca. Precisamos de mais serviços na comunidade, de mais serviços virados para a prevenção e reabilitação e de melhorar a colaboração entre os serviços especializados e cuidados de saúde primários.
Houve algum grupo de pessoas que tenha sido especialmente afectado pela crise?
À medida que vamos subindo nos escalões etários a prevalência de problemas de saúde mental é sempre maior. Mas os dados de 2015, em relação a 2008, sugerem fortemente que há uma diminuição progressiva da importância dos mais velhos para haver um aumento crescente do escalão mais novo, dos 18 aos 34 anos. Ou seja, parece que a crise atingiu todos os grupos, mas atingiu de uma forma especial os mais jovens.
Nas mulheres, tanto antes da crise como agora, regista-se uma prevalência mais elevada de problemas de saúde mental. Mas, quando comparamos 2008 com 2015, proporcionalmente, os problemas de saúde mental aumentaram mais nos homens do que nas mulheres. Isto vem confirmar uma ideia que já tinha sido levantada por outros estudos, de que há sempre grupos especialmente afectados pela crise e que esta crise, por atingir muito o emprego, e o emprego dos mais jovens, afecta os problemas de saúde mental dos mais novos.
Que medidas considera que é preciso tomar no imediato?
Não há uma medida. Tem de haver uma estratégia global e holística que combine medidas de tipo social e económico, na área do emprego, com medidas que se dirijam à prevenção e ao tratamento dos problemas de saúde mental. Dentro do grupo das medidas na área social e económica assumem uma especial importância medidas como a protecção social das pessoas mais incapacitadas, programas que ajudem as pessoas desempregadas a integrarem-se no mercado de trabalho e pessoas em privação financeira a gerirem as suas dívidas. Ter dívidas é um factor altamente relacionado com a existência de problemas de saúde mental.
Do lado das medidas da área da saúde, o que este estudo mostra é que é preciso pôr a saúde mental como um tema importante da saúde pública do nosso país. A reforma deve investir não em camas mas em programas com equipas na comunidade, que possam trabalhar em conjunto com os cuidados de saúde primários e desenvolver programas onde as pessoas vivem e junto das mais vulneráveis.