Faltam dez dias para que se comece a morrer à fome no Leste de Alepo

Alerta foi lançado pelo chefe dos Capacetes Brancos. Bombardeamentos mataram mais de 30 pessoas só na quinta-feira.

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Muitas famílias têm fugido das suas casas, procurando refúgio noutros bairros da zona Abdalrhman Ismail/Reuters

Dezenas de civis mortos nas últimas 24 horas – cinco dos quais crianças – e o receio de que dentro de dez dias as mais de 250 mil pessoas que vivem cercadas no Leste de Alepo já nada tenham para comer. A situação, garantem várias fontes, é de total emergência nos bairros controlados pela rebelião, numa altura em que as forças leais a Bashar al-Assad continuam a ganhar terreno.

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Dezenas de civis mortos nas últimas 24 horas – cinco dos quais crianças – e o receio de que dentro de dez dias as mais de 250 mil pessoas que vivem cercadas no Leste de Alepo já nada tenham para comer. A situação, garantem várias fontes, é de total emergência nos bairros controlados pela rebelião, numa altura em que as forças leais a Bashar al-Assad continuam a ganhar terreno.

“Não podem imaginar como a situação está”, disse quinta-feira à Reuters o chefe dos Capacetes Brancos, a organização de socorristas voluntários que trabalha nas zonas controladas pela oposição, garantindo que dentro de dez dias não haverá medicamentos para salvar vidas ou comida para matar a fome. Em Estocolmo para receber o Right Livelihood Award, classificado como o Nobel da Paz Alternativo, Raed Al Saleh explicou que depois do início da mais recente ofensiva militar do regime de Bashar al-Assad, os médicos e socorristas que resistem no Leste de Alepo “limitam-se a usar o equipamento que resistiu aos bombardeamentos e a fazer o que podem”.

Os hospitais, um dos alvos da aviação síria, deixaram de funcionar e os médicos “já não conseguem aceitar todos os feridos”. Os Capacetes Brancos gastaram também todos os kits de emergência e todas as máscaras antigás. “E dentro de dez dias teremos esgotado o combustível de que precisamos para manter a funcionar as nossas ambulâncias e camiões.”

Também na quinta-feira, Jan Egeland, conselheiro humanitário das Nações Unidas, revelou que os rebeldes aceitaram um plano da organização para levar ajuda de emergência ao Leste de Alepo, mas o regime não tinha ainda autorizado a entrada de camiões na zona, cercada pelo Exército desde Julho. As últimas rações enviadas pela ONU, acrescentou, foram distribuídas à população a 13 de Novembro.

“Já não suporto viver mais nestas condições”, disse à AFP Mohamed Haj Hussein, residente no bairro de Tariq al-Bab, um dos visados pelos intensos bombardeamentos dos últimos 12 dias – segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos só na quinta-feira 32 pessoas morreram no Leste de Alepo, o pior balanço desde o início da ofensiva.

A agência, que mantém jornalistas na zona, conta que nos últimos dois dias cinco famílias conseguiram deixar o Leste de Alepo, refugiando-se no bairro de Sheik Maqsoud, um enclave no Norte da cidade que é controlado pelas forças curdas. O regime sírio acusa repetidamente os rebeldes de impedirem a saída de civis na zona, para os usar como escudos humanos. Muitos civis receiam, no entanto, passar para o Oeste de Alepo, nas mãos do Exército, por temerem represálias do regime.

Mas ficar no Leste de Alepo é uma opção cada vez mais impossível. “É muito perigoso e difícil sair à rua em busca de comida por causa da intensidade dos bombardeamentos”, disse à mesma agência Abu Raed, residente no bairro de Ferdus e pai de quatro filhos. “Tenho medo do avanço do Exército e da intensificação dos bombardeamentos. Não há nenhum sítio onde a minha família e eu estejamos em segurança.”

Segundo o observatório, as forças leais a Assad controlam já 69% do bairro de Massaken Hanano, na entrada nordeste da cidade, e continuam a avançar rapidamente. A tomada da zona permitiria ao Exército cortar as ligações entre o Nordeste da cidade e as restantes zonas sob controlo dos rebeldes.

Em entrevista ao jornal alemão Sueddeutsche Zeitung, o enviado especial da ONU para a Síria disse ter regressado de Damasco, onde esteve no início da semana, com a convicção de que o regime sírio se sentiu incentivado pelos comentários de Donald Trump, o Presidente eleito dos EUA, de que poderá deixar de apoiar a oposição síria e admitindo cooperar com a Rússia e a Síria no combate ao Daesch. Dias antes Staffan de Mistura tinha dito temer que Assad lançasse uma “ofensiva brutal” para assegurar o controlo de Alepo antes de Trump assumir a presidência, a 20 de Janeiro.