Facebook ensaia ferramenta de censura prévia para o mercado chinês
A empresa alocou mais recursos ao projecto no último ano, avança o New York Times.
Uma das ferramentas que o Facebook está a desenvolver para voltar a operar no apetecível mercado chinês é uma novidade absoluta para a rede social: um sistema que permitiria a um putativo parceiro na China – para já, é uma mera hipótese – censurar publicações antes de estas aparecerem nos feeds como habitualmente. A notícia é do New York Times.
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Uma das ferramentas que o Facebook está a desenvolver para voltar a operar no apetecível mercado chinês é uma novidade absoluta para a rede social: um sistema que permitiria a um putativo parceiro na China – para já, é uma mera hipótese – censurar publicações antes de estas aparecerem nos feeds como habitualmente. A notícia é do New York Times.
O Facebook retira conteúdos da sua rede em diversos países, cumprindo as leis locais. O mesmo jornal norte-americano dá como exemplo o segundo semestre de 2015, no qual a rede social bloqueou cerca de 55 mil publicações em duas dezenas de países. Cumprir este tipo de pedidos das autoridades de cada país é uma prática comum à generalidade das tecnológicas.
A diferença é que a nova ferramenta possibilita que essa triagem seja feita a priori, isto é, antes de os posts serem publicados. O New York Times cita, sob anonimato, “três actuais e antigos funcionários” da empresa, que disseram que o projecto tem o aval de Mark Zuckerberg. O presidente executivo da empresa chegou mesmo a responder a uma questão sobre o assunto numa das sessões semanais de perguntas e respostas. “É melhor o Facebook fazer parte de quem possibilita o diálogo, ainda que não seja o diálogo todo”, terá dito.
A China tem uma população de 1400 milhões, um mercado tão volumoso que pode fazer disparar as taxas de crescimento mesmo de gigantes como o Facebook – que está fora do país desde 2009. Em 2010, o Google anunciou que deixaria de autocensurar os resultados do seu motor de pesquisa, passando a redireccionar os chineses para Hong Kong. Resultado: a empresa afundou a penetração na China de um terço das pesquisas para um valor residual.
O New York Times não conseguiu descobrir o ponto de partida do projecto, mas escreve que quem o está a supervisionar é Vaughan Smith, um dos vice-presidentes do Facebook, que fala algum mandarim. Tal como Mark Zuckerberg, que já usou essa capacidade linguística em encontros de alto nível, incluindo com o Presidente chinês, Xi Jinping.
No Facebook, a ferramenta está classificada como um projecto confidencial. Dentro da empresa, que tem alocado recursos ao seu desenvolvimento ao longo do último ano, os engenheiros têm acesso ao código deste novo instrumento – que não é a única ideia em cima da mesa para reabrir as portas do mercado chinês à rede social.
O diário norte-americano noticia ainda que “vários” funcionários que estavam a trabalhar no projecto deixaram a empresa, depois de se mostrarem desagradados com as potencialidades da ferramenta. Além das preocupações com a legitimação da censura chinesa, cria-se um precedente que pode ser accionado por governos de outros países e fica também latente a possibilidade de censura prévia para resolver a questão das notícias falsas levantada pela eleição de Donald Trump nos EUA.