Mobilidade em Câmara lenta

Pensar a cidade implica conjugar todos os elementos que a constituem num objectivo de harmonia e fluidez.

Lisboa tem um grave problema de mobilidade. As ruas da cidade entopem, e não apenas nos períodos de horas de ponta, perturbando vidas, serviços, negócios. Numa frase, perturbando anossa qualidade de vida e a economia.

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Lisboa tem um grave problema de mobilidade. As ruas da cidade entopem, e não apenas nos períodos de horas de ponta, perturbando vidas, serviços, negócios. Numa frase, perturbando anossa qualidade de vida e a economia.

Actualmente, cerca de um terço do território da cidade não tem cobertura da rede de metropolitano. Não são zonas limítrofes ou pouco habitadas. Falamos do terço que tem as entradas ocidentais da cidade: a Auto-estrada de Cascais, a Marginal, o Eixo Norte-Sul e a Ponte sobre o Tejo. Trata-se de parcelas do território densamente povoadas e com forte ofertade serviços (desde escritórios a hospitais), encontrando-se totalmente dependentes de outrosmeios de acesso, nomeadamente o automóvel.

São dezenas de milhares de viaturas que, diariamente, entopem as ruas de Belém, Ajuda,Alcântara, Campolide, Campo de Ourique e Estrela, muitas sobrecarregando os passeios em estacionamento selvagem e que perturba tanto o trânsito automóvel como a circulação pedonal. Seria, por isso, de elementar senso comum planear a extensão do Metro para assegurar alternativas para a entrada na cidade dessas viaturas e procurando, simultaneamente, assegurar acesso a habitações e serviços.

Mas não. O Governo e a Câmara Municipal de Lisboa assumiram como prioridade para a expansão do metropolitano um projecto que, ao invés de ir retirar mais viaturas da superfície, se limita a fechar um circuito dentro da cidade. As duas estações de metropolitano previstas na área da Junta de Freguesia da Estrela mais não fazem do que unir das linhas de Metro no centro da cidade, sendo, portanto, irrelevantes para o esforço de diminuir o número de carros que circulam em Lisboa.

As prioridades deveriam ser outras. Alcântara é disso um bom exemplo. Em primeiro lugar, é uma zona que receberá milhares de novas habitações, centenas de escritórios e um dos recentes e importantes projectos hospitalares, o Hospital Tejo. Em segundo lugar, Alcântara dispõe de centenas de lugares de estacionamento, verdadeiros dissuasores da circulação de carros no centro da cidade. Está, portanto, dentro dos melhores critérios para receber uma expansão do metropolitano, ainda para mais recordando que é onde desaguam algumas dos principais acessos rodoviários à cidade: a Auto-estrada de Cascais, a Marginal, o Eixo Norte-Sul e a Ponte sobre o Tejo.

Em terceiro lugar, Alcântara é um “hub” de transportes públicos, com a confluência de vários tipos de transportes: comboios, autocarros, táxis, eléctricos. Em quarto lugar, porque representa uma aproximação da cidade a zonas ainda não cobertas por esta solução e carentes por se encontrarem vulneráveis à pressão das entradas na cidade.

Por exemplo, não faz sentido que Belém continue sem este meio de transporte e que, por exemplo, o Hospital São Francisco de Xavier não tenha esta solução perto (como tem o Hospital de Santa Maria). Em quinto e último lugar, porque não faz sentido manter por muito mais anos a barreira criada pela linha de comboio de Cascais, que separa a cidade do Rio Tejo.

Como podemos honestamente dizer que pensamos cidade e que queremos acabar com essa barreira se as nossas opções a dez anos não incluem esta solução? “Afundar a linha de Cascais” não é solução. A solução é substituí-la pela expansão da rede de metropolitano.

É errado estar a desenvolver o PUA (Plano de Urbanização de Alcântara), que fica numa das principais zonas de entrada e de saída da cidade, que além do mais irá receber milhares de novos habitantes, e depois não contemplar esse território com soluções de transportes públicos. Não faz sentido estarmos a aprovar um plano de urbanização na cidade, prevendo construir mais prédios com habitações, escritórios e hospitais e depois não pensar em como vamos levar as pessoas de, e para, esse local.

A expansão do metropolitano é um desígnio fundamental na gestão de cidade, pela influência que tem em políticas de mobilidade e, mais importante, na circulação. Serve para ligar pontos relevantes na vida da cidade, para substituir a entrada em Lisboa de milhares de carros e para assegurar que todo o território é beneficiado por esta acessibilidade, evitando criação de zonas isoladas.

Por isso, é desconcertante que o Governo e o Executivo Camarário não sejam consequentes enão saibam pensar Lisboa. Pensar a cidade implica conjugar todos os elementos que a constituem num objectivo de harmonia e fluidez. Qual o sentido de se estar a investir na ligação de duas linhas quando ainda temos tantas pessoas e automóveis para fazer circular?

A resposta é fácil: nenhum. Governar significa decidir as prioridades que melhor defendem a qualidade de vida das nossas Comunidades e, em matéria de metropolitano como  em tantas outras, o desnorte do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa é evidente.

Presido à Junta de Freguesia que receberá as duas novas estações de Metro. Deveria, por isso, seguindo o tradicional umbiguismo autárquico, dar-me por satisfeito e aplaudir. Contudo, creio que, como autarca, tenho a especial responsabilidade de pensar a cidade como um todo, além da natural preocupação com a Junta de Freguesia da Estrela. É chegada a hora de olhar para lá dos nossos interesses imediatos e fazer de Lisboa uma cidade funcional e cómoda para quem nela vive e para quem a visita.

 

Luís Newton é presidente da Junta de Freguesia da Estrela