Como medir as desigualdades dentro das escolas?
Comparação entre melhores escolas do Estado e colégios mostra turmas mais homogéneas nos privados
Um dos indicadores incluídos, nesta terça-feira, no portal InfoEscolas, do Ministério da Educação, permite avaliar a dispersão dos resultados dos estudantes nos exames nacionais. Analisadas as cinco escolas do Estado e as cinco privadas que mais se destacaram no ranking do ensino secundário às cinco disciplinas com mais alunos inscritos nos exames, conclui-se que os colégios têm turmas mais homogéneas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um dos indicadores incluídos, nesta terça-feira, no portal InfoEscolas, do Ministério da Educação, permite avaliar a dispersão dos resultados dos estudantes nos exames nacionais. Analisadas as cinco escolas do Estado e as cinco privadas que mais se destacaram no ranking do ensino secundário às cinco disciplinas com mais alunos inscritos nos exames, conclui-se que os colégios têm turmas mais homogéneas.
O indicador de desigualdade de resultados dentro das escolas afere a distância média entre as notas que os alunos de uma mesma escola obtiveram nos exames nacionais. Em 2015/16, a dispersão média das notas dos estudantes dos cinco colégios analisados foi de 3,65 valores, ao passo que nas escolas públicas esse número chegou a 4,2 valores.
A conclusão “não é surpreendente” para Gil Nata, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto: “Se tivesse que adivinhar, seria exactamente isto que esperava.” Estes colégios cobram propinas elevadas que são um constrangimento económico à entrada dos alunos. “Necessariamente têm um público mais homogéneo por isso”, analisa o mesmo investigador.
“Na escola pública temos que acolher todos os alunos. Temos alguns dos melhores do país, mas também temos a outra face da moeda”, acrescenta o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima.
A mesma avaliação permite ainda perceber que nos colégios existe sempre uma menor dispersão de notas qualquer que seja a escola ou a disciplina em análise. Por exemplo, em Matemática A, a diferença entre os alunos destes cinco colégios atinge, no máximo, 4,9 valores (colégio S. João de Brito, em Lisboa). Na escola secundária D. Filipa de Lencastre, também em Lisboa, esta média sobre para 5,8 valores. Nesta análise foram tidos em conta, para cada escola, os resultados dos exames de Português, Matemática A, Física e Química, Biologia e Geologia e Filosofia.
O novo indicador permite avaliar até que ponto os alunos de uma mesma escola formam um grupo homogéneo. O Ministério da Educação valoriza as possibilidades abertas por estes dados, avançando que estes podem permitir, por exemplo, intervenções de diferenciação pedagógica para permitir reduzir estas assimetrias internas.
O portal InfoEscolas passou a contar também com um comparativo das notas dos alunos em cada disciplina com aquilo que seria esperado face aos resultados alcançados nas restantes. Sem surpresa, os estudantes das escolas públicas e privadas analisadas pelo PÚBLICO com melhores resultados nos rankings nunca têm notas abaixo do esperado e só em um quarto das matérias estão dentro das expectativas.
Esta é, de resto, a primeira vez que o portal InfoEscolas compara resultados dos alunos nas diferentes disciplinas — e não apenas no Português e Matemática. “Nós temos um historial de muitos anos em que não temos dados sobre uma série de disciplinas. Nós não sabemos como é o ensino da disciplina de História ou da Físico-química em Portugal e precisamos de dados sobre isso”, sublinhou o secretário de Estado da Educação, João Costa. “Há vida para além do Português e da Matemática.”
Está disponível informação no InfoEscolas sobre alunos dos cursos científico-humanísticos do ensino secundário (cerca de 192.000 alunos matriculados em 592 escolas), alunos do 3.º ciclo (317.000 em 1263 escolas) e do 2.º ciclo (cerca de 216.000 em 1104 escolas).