Ao radicalismo dos populismos responder com o radicalismo do amor
Não conseguimos mudar o mundo sozinhos, mas talvez consigamos mudar a nossa rua. E isso já é um começo.
Em tudo o que nos acontece é preciso encontrar um sentido, procurar ler nas entrelinhas, aproveitar para aprender. As eleições americanas, e os vários episódios de populismo que parecem hoje ser tendência no mundo, devem ser para nós, em Portugal e na Europa, precisamente o pretexto para essa reflexão.
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Em tudo o que nos acontece é preciso encontrar um sentido, procurar ler nas entrelinhas, aproveitar para aprender. As eleições americanas, e os vários episódios de populismo que parecem hoje ser tendência no mundo, devem ser para nós, em Portugal e na Europa, precisamente o pretexto para essa reflexão.
Mais do que saber como vai se vai orientar a nova administração americana, quanto do prometido nos exageros da retórica eleitoral, que a todos arrepiou, vai ou não ser cumprido, interessa-me perceber como nos podemos inventar, permanecendo fieis à nossa matriz, àquilo em que acreditamos, e ao mesmo tempo garantimos, com uma ação eficaz, a contenção dos populismos de direita e de esquerda, que multiplicam episódios em todo o mundo.
O meu ângulo de análise só pode ser um: a voz de Portugal na Europa e no Mundo. Porque o meu espaço de ação é apenas um: o papel do CDS na construção dessa voz.
Primeiro as causas: os vários episódios de radicalismos populares mostram como muita gente se foi sentindo abandonada, esquecida pela política, pela economia, pela sociedade. Pode não saber exatamente o que quer, mas sabe o que não quer, sente a globalização mais como rolo compressor do que como espaço de oportunidades. Recordo-me de um estudo em Portugal há uns anos que trabalhava em torno da abstenção e dos partidos políticos. Boa parte dos inquiridos dizia que não estava satisfeito com os partidos, mas também não considerável útil o aparecimento de outros partidos ou movimentos. Simplesmente não acreditava em nada.
A facilidade com que no mundo digital se exprimem opiniões, se denunciam situações, se revelam problemas, leva talvez a crer que com a mesma rapidez é possível ter respostas para questões muitíssimo complexas e muitas vezes de solução a vários níveis. Há pouco tempo a propósito da campanha eleitoral nos Açores, ouvi esta análise simples: quando perceber quem manda, volto a votar, por enquanto, como não sei se é a Região Autónoma, a República (Portuguesa), ou a União Europeia, não o faço.
Este simples exemplo convoca-nos para algo muito básico: é preciso explicar, sempre. E quando se explica, as pessoas percebem. O problema é quando nós, políticos, não conseguimos explicar. Porque não temos tempo, porque não sabemos, porque não nos é conveniente. E esta opacidade abre espaço para discursos populistas radicais.
Mas alguma coisa temos de aprender com estes populismos até agora bem-sucedidos. Não é certamente nas mensagens, que só podem merecer a nossa total desaprovação. Mas talvez seja na forma e no radicalismo do discurso.
A forma é a ligação direta às pessoas e aos seus problemas quotidianos. Às suas aspirações, às suas inquietudes. Só conheço uma maneira de o fazer: estar junto delas. Ter a presença e a proximidade sempre e cada vez mais como modo de estar. Ouvir, ouvir, ouvir. E explicar, explicar, explicar, o que soubermos, e o que não sabemos assumir que não sabemos e que precisamos de descobrir em conjunto.
Ao radicalismo do discurso populista temos de saber contrapor o discurso radical do amor: da centralidade da pessoa, de toda a pessoa, independentemente da cor da pele, da religião, do género, da orientação sexual, da idade, da profissão, dos meios financeiros ao seu dispor. O discurso radical do amor não apenas tolera ou respeita cada um na nossa sociedade, ama-o na sua integralidade e plenitude, mesmo se não compreende, e procura encontrar a concórdia. É nessa concórdia que temos de nos empenhar ao nosso nível, nacional, certamente, mas também internacional.
Explicando aos esquecidos da globalização que temos de trabalhar para encontrar oportunidades para todos, e que não é fechando-nos sobre nós próprios que seremos mais bem-sucedidos. Que nos outros lados do mundo também há gente, famílias, pais e filhos, que hoje vivem melhor por causa da globalização. Que são gente de carne e osso como todos nós, com as mesmas inquietudes e sentimentos. E que tem de se encontrar um equilíbrio para todos.
E no palco europeu e global trabalharmos para que também nessas geografias se progrida ao nível dos direitos sociais e das responsabilidades ambientais para podermos ambicionar trabalhar de igual para igual com todo o mundo.
Acredito no efeito multiplicador dos bons exemplos. E em Portugal devemos trabalhar para sermos um bom exemplo. De país em que uns puxam pelos outros, em que o mérito é certamente valorizado, mas onde não há perdedores e esquecidos da sociedade, em que não desistimos uns dos outros.
Não conseguimos mudar o mundo sozinhos, mas talvez consigamos mudar a nossa rua. E isso já é um começo.