Dois milhões de euros, 350 oportunidades para descobrir o CCB
Oferta cultural para 2017 pouco difere da apresentada nos últimos anos. Mantém parcerias e o peso da música. Graça Moura vai ser homenageado.
São mais de 350 espectáculos e iniciativas ao longo de 2017, numa programação que quer fazer com que o Centro Cultural de Belém (CCB) cumpra, diz o seu presidente, a sua missão em pleno – ser uma “cidade aberta” dentro da cidade, tal como a imaginou o seu arquitecto, o italiano Vittorio Gregotti. Aberta aos criadores, mas também ao público de todas as idades, que deve fazer dela um espaço que se atravessa, que se visita, que se recomenda.
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São mais de 350 espectáculos e iniciativas ao longo de 2017, numa programação que quer fazer com que o Centro Cultural de Belém (CCB) cumpra, diz o seu presidente, a sua missão em pleno – ser uma “cidade aberta” dentro da cidade, tal como a imaginou o seu arquitecto, o italiano Vittorio Gregotti. Aberta aos criadores, mas também ao público de todas as idades, que deve fazer dela um espaço que se atravessa, que se visita, que se recomenda.
Para isso, explicou esta terça-feira Elísio Summavielle na conferência de imprensa de apresentação da programação para 2017, a primeira que se faz no CCB nos últimos três anos, conta com uma série de parceiros que lhe permitem fazer co-produções, co-apresentações e receber determinados espectáculos internacionais, o que, de outra forma, seria impossível: “Nos tempos que correm é necessário engenho e arte para que o público possa ter acesso a grandes momentos de cultura.”
Com um orçamento de 18,3 milhões de euros anunciado para 2017, o CCB investirá perto de dois milhões em programação e cerca de 800 mil na renovação de equipamentos técnicos e noutras intervenções destinadas a actualizar as duas grandes salas de espectáculos, em especial o Pequeno Auditório. “O valor que se vai gastar com a programação é praticamente o mesmo do ano passado”, mas com uma expectativa de receita superior, garante o seu presidente.
Summavielle, que chegou em Fevereiro e hoje apresentou a sua primeira programação anual, está particularmente satisfeito por manter parcerias como a que liga o CCB ao Opart, o organismo que gere a Companhia Nacional de Bailado (CNB) e o Teatro Nacional de São Carlos, e à Orquestra Metropolitana de Lisboa, mas também por ver “cinema de grande formato no Grande Auditório”. Títulos como Lawrence da Arábia — o épico protagonizado por Peter O’Toole e Omar Sharif será o primeiro — constarão de uma programação feita com a colaboração da produtora Midas Filmes e que vai permitir usar o “equipamento muito sofisticado” de que a sala dispõe.
O CCB terá uma oferta cultural “equilibrada, prudente” e realista em termos orçamentais, garantiu ainda Summavielle, que há 15 dias passou a contar com uma nova administradora na sua equipa, Luísa Taveira, que será a partir de agora responsável pela programação (a que foi apresentada esta terça-feira partiu ainda do ex-administrador Miguel Leal Coelho, que esteve 23 anos no CCB). Para Taveira, que foi directora da CNB e durante anos responsável pela dança que se mostrava em Belém, este é um regresso “desafiante”.
O menu do costume
Com centenas de iniciativas, a oferta para 2017 não é muito diferente da que tem sido regra no CCB nos últimos anos e regista, como vem sendo habitual, um peso muitíssimo significativo da música. Concertos de orquestras sinfónicas e de câmara, ateliers de ópera, jazz, música barroca e contemporânea. Além dos tradicionais Dias da Música, o programador André Cunha Leal destacou a ópera Tristão e Isolda, de Wagner, uma produção do São Carlos (com Elisabete Matos), A Trompa Mágica do Rapaz, de Gustav Mahler, pela Metropolitana, e o minifestival Monteverdi, com que o CCB marca os 450 anos do nascimento do compositor italiano, “uma das maiores revelações da história da música”.
Na dança, a grande novidade é uma peça da coreógrafa alemã Sasha Waltz, que está ainda em fase de criação e será apresentada em estreia nacional. Nas reposições, destaque para Rain, da belga Anne Teresa de Keersmaeker, Ceci c’est pas un film. Dueto para Maçã e Ovo, de Paulo Ribeiro, e Suspensão, de Clara Andermatt. A Box Nova, projecto lançado há anos por Luísa Taveira e destinado aos jovens criadores, terá em 2017 quatro criações.
O grupo Teatro Praga, visita regular do CCB, vai explorar um texto do alemão Frank Wedekind (Despertar da Primavera, uma tragédia de juventude) e O Bando, a companhia de João Brites, vai encenar o romance Adoecer, de Hélia Correia. Também a partir de um romance — Orlando, de Virginia Woolf — trabalharão Carlos Pimenta (encenação) e Luísa Costa Gomes (texto). Num programa que renova a colaboração com o Festival de Almada e se junta à festa de aniversário do Teatro da Comuna (são 45 anos celebrados com Henrique IV, de Pirandello), há ainda espaço para a estreia em palco dos realizadores Gabriel Abrantes, com Fairy (F***ING) Tales, e Salomé Lamas, com Fatamorgana, encomendas da nova BoCA — Bienal de Arte Contemporânea.
Em registo efeméride parece viver o segmento da programação dedicado à literatura e ao pensamento. À homenagem a Mário de Cesariny no Dia da Poesia (25 de Março), assinalando o décimo aniversário da sua morte; ao ciclo dedicado aos 100 anos da Revolução Russa; e às comemorações dos 150 anos da abolição da pena de morte em Portugal, junta-se uma exposição que marca os 75 anos do nascimento de um antigo presidente do CCB, Vasco Graça Moura – A Grécia Antiga em Belém foi o último projecto que o poeta, tradutor e ensaísta concebeu para a casa que dirigiu até morrer, em Abril de 2014.
Na Fábrica das Artes, onde se concentra a oferta do CCB para o público mais novo, a liberdade, o colonialismo, a diáspora e a crise dos refugiados vão estar em foco numa série de espectáculos que, diz a programadora Madalena Wallenstein, querem “contrariar a ideia de uma juventude politicamente desconectada”.