Curadores e críticos consideram “muito importante” acordo com Berardo
Especialistas querem conhecer as alterações ao protocolo assinado em 2006.
É preciso saber os termos do acordo entre o Estado e o empresário Joe Berardo que vai ser assinado no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, esta quarta-feira, diz a maioria dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO. Com esse cuidado, os quatro curadores e críticos mostram-se "muito satisfeitos" com a notícia avançada pelo PÚBLICO esta terça-feira dando conta do fim das negociações entre o Ministério da Cultura e Berardo que vão permitir manter a Colecção Berardo por mais seis anos no CCB com uma adenda ao protocolo assinado em 2006.
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É preciso saber os termos do acordo entre o Estado e o empresário Joe Berardo que vai ser assinado no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, esta quarta-feira, diz a maioria dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO. Com esse cuidado, os quatro curadores e críticos mostram-se "muito satisfeitos" com a notícia avançada pelo PÚBLICO esta terça-feira dando conta do fim das negociações entre o Ministério da Cultura e Berardo que vão permitir manter a Colecção Berardo por mais seis anos no CCB com uma adenda ao protocolo assinado em 2006.
“Era muito importante esta renovação”, diz o crítico de arte Alexandre Pomar, comentando o acordo. “Não me parece haver alternativa, porque não há nada para lá pôr que possa substituir uma colecção com esta envergadura. A ideia de usar o espaço para [o CCB] fazer exposições temporárias é caríssima. Além disso, o Museu Berardo já assegura exposições temporárias constantemente.”
De forma genérica, porque ainda não se conhece grande parte do acordo que será assinado na quarta-feira, o filósofo e curador Paulo Pires do Vale saúda o fim das negociações que permitem manter a colecção disponível em Lisboa. “É um privilégio, e um direito, termos em Lisboa uma exposição permanente com obras importantes e com os melhores artistas da arte do século XX. O Museu Berardo é um dos poucos sítios onde isso pode acontecer.” É bom também poder terminar com a incerteza numa instituição que precisa de estabilidade para programar, num museu que tem organizado, com a direcção de Pedro Lapa, “exposições memoráveis”, como a dedicada à colecção de cartazes de Ernesto de Sousa ou as dos artistas Christian Marclay, Stan Douglas, Nicolás Paris e Carla Filipe, cruzando artistas consagrados com mais novos, estrangeiros e portugueses, e também curadores de várias gerações.
Além de ficar "muito satisfeito" com o facto de a colecção ficar em Portugal, Delfim Sardo, actual consultor de programação de artes plásticas da Culturgest (fundação da Caixa Geral de Depósitos), não tem mais nada a dizer sobre um acordo que não conhece. Sardo, que dirigiu o Centro de Exposições do CCB entre 2003 e 2006, quando a Colecção Berardo estava ainda aí em depósito, afirma que é preciso saber qual é o estatuto do Museu Berardo, se se trata apenas de uma colecção privada a que o Estado dá albergue – "uma barriga de aluguer" – ou se o Estado tem alguma "capacidade negocial", por exemplo, para discutir o nome do director, cujo trabalho tem sido muito difícil, uma vez que a instabilidade sobre o futuro o impediu de programar com antecedência o próximo ano.
Alexandre Pomar é da opinião de que o Museu Berardo tem, no entanto, “um problema de gestão” neste momento. “Não basta prolongar o contrato, é preciso que existam meios financeiros e um critério de programação que lhe permita recuperar o lugar que já teve na cidade." O Estado e o empresário desinvestiram no museu “e essa falta de fundos não lhe permite manter uma programação de qualidade capaz de captar um público alargado”.
O crítico diz que a direcção de Jean-François Chougnet – a primeira do Museu Berardo, que durou até à entrada de Pedro Lapa, em 2011 – foi “excelente e marcou os grandes anos da colecção”. Sublinha que o actual director não enfrenta só uma falta de fundos – terá passado de um orçamento de programação de 2,5 a três milhões de euros anuais para cerca de 500 mil euros – mas uma orientação “discutível”, “porque tem tendência para fechar em direcção a um público de arte contemporânea muito restrito”.
Neste momento, o Museu Berardo tem três exposições temporárias que terminam em Dezembro: a fotografia de um nome histórico como Fernando Lemos, uma mostra dedicada à arte portuguesa na Colecção Berardo, e uma terceira exposição sobre o cruzamento de seis artistas internacionais com o trabalho do teórico Stuart Hall, um pioneiro do multiculturalismo.
Filipa Oliveira, curadora da exposição do artista colombiano Nicolás Paris que esteve há um ano no CCB, também ainda não sabe nada sobre o acordo e adianta que é importante saber se Pedro Lapa, “que tem feito um muito bom trabalho”, fica na direcção do museu (o contrato do actual director temina no final de Março de 2017). Além de uma programação importante no panorama artístico contemporâneo, Lapa foi “muito estóico na defesa que fez da permanência da colecção [no CCB]”. Quanto à substância do acordo, que permite que a colecção fique em Lisboa e em Portugal, a directora artística da Fundação Eugénio de Almeida, diz que “é óptimo que um património tão importante, uma colecção fundamental, tenha acesso público”. “Não há nenhum sítio nem em Lisboa nem no país que nos permita ver assim a história da arte em vez de a ler. É uma riqueza para a cultura de Lisboa e de Portugal.”
No passado, Delfim Sardo defendeu que deve existir uma estratégia integrada para as várias colecções privadas em que o Estado tem uma intervenção por determinação legal – além da de Berardo, as colecções do Novo Banco, da Fundação Ellipse (ex-BPP) e da própria Caixa-Geral de Depósitos, que a Culturgest tem como uma das suas missões conservar e divulgar.