Alegado terrorista marroquino detido em França tinha residência em Portugal

Sete pessoas foram detidas este fim-de-semana em França. Ministro do Interior diz que preparavam um grande atentado.

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As detenções foram anuncias pelo ministro do Interior francês AFP

O cidadão marroquino, cuja detenção foi anunciada nesta segunda-feira em França, por suspeitas de estar a preparar um novo atentado terrorista, tinha residência em Portugal. O suspeito, segundo um comunicado da Polícia Judiciária (PJ), vivia em Aveiro e possuía uma autorização de residência emitida em 2014. Tinha número de contribuinte e da Segurança Social portugueses, o que indicia que chegou a trabalhar no país. 

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O cidadão marroquino, cuja detenção foi anunciada nesta segunda-feira em França, por suspeitas de estar a preparar um novo atentado terrorista, tinha residência em Portugal. O suspeito, segundo um comunicado da Polícia Judiciária (PJ), vivia em Aveiro e possuía uma autorização de residência emitida em 2014. Tinha número de contribuinte e da Segurança Social portugueses, o que indicia que chegou a trabalhar no país. 

A detenção deste alegado terrorista, e de mais seis pessoas, cinco franceses e um afegão, teve a colaboração das autoridades portuguesas, PJ e Serviço de Informações de Segurança, que avisaram várias congéneres europeias das suspeitas que existiam quanto a este cidadão marroquino. O suspeito, que está a ser investigado em Portugal, foi vigiado pela PJ mais de um ano por alegadamente recrutar pessoas para o Estado Islâmico. Em Abril, o Expresso noticiava que uma rede de recrutadores, oriundos do Norte de África, actuava em pequenas lojas e cafés da capital e da zona Centro, onde dariam sermões sobre as vantagens da vida do califado. Na altura, o semanário referia que o grupo tinha estado activo durante várias semanas, mas já não se encontrava em Portugal.

A PJ confirma que o marroquino era ainda alvo de uma medida de vigilância discreta. Tal significa que sempre que a sua presença era detectada por uma autoridade europeia, seja num controlo aeroportuário seja numa fiscalização de trânsito, a informação era comunicada à entidade que emitiu o alerta através de um sistema de informação europeu, sem alertar o visado. Este instrumento está previsto nas medidas compensatórias ao Acordo de Shenguen, que estabelece a livre circulação de pessoas e bens. 

A Unidade Nacional Contraterrorismo da PJ adianta, na nota, que "identificou, investigou e transmitiu às sua congéneres internacionais" a possibilidade de este cidadão marroquino, de 26 anos, "poder vir a integrar um grupo terrorista".

"Esse homem, que estava a ser investigado pela Polícia Judiciária, desde o Verão de 2015, foi objecto de um pedido de cooperação internacional e de vigilância discreta inserido no Sistema de Informação Schengen, tendo sido detido pelas autoridades francesas durante o passado fim-de-semana", diz o comunicado.

O PÚBLICO sabe que o inquérito corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal. "As investigações prosseguem em articulação com as nossas congéneres de outros países", diz a PJ. 

O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, revelou nesta segunda-feira que foram detidas sete pessoas, durante o fim-de-semana, que planeavam um atentado. Na altura, Cazeneuve tinha revelado que o cidadão marroquino não tinha residência em França, mas não disse qual o país onde residia. Afirmou ainda que a sua detenção teve a ajuda de um Estado parceiro da França, igualmente sem revelar qual.

A notícia foi inicialmente avançada por alguns órgãos de comunicação social franceses e confirmada pelo PÚBLICO.

Operação antiterrorismo em Estrasburgo e Marselha

A polícia francesa fez uma operação antiterrorismo em Estrasburgo e Marselha, em que deteve sete pessoas, com idades entre os 26 e os 37 anos de nacionalidades francesa, marroquina e afegã. 

“Foi um novo atentado que evitámos”, disse Bernard Cazeneuve, revelando que a investigação durava há oito meses.

Dos sete detidos, seis não estavam referenciados pelos serviços secretos franceses e um deles foi sinalizado por um país aliado, avançou ainda Cazeneuve. Sabe-se agora que o país aliado é Portugal.

O ministro disse ainda que desde o início do ano foram feitas 418 detenções em operações antiterrorismo. Desde 1 de Setembro foram detidas 143 pessoas, 52 foram presas e 21 colocadas sob controlo judicial.

Nas intervenções policiais em quatro residências em Estrasburgo foram apreendidas diversas armas, munições e documentos de propaganda jihadista. Foram ainda apreendidos vários computadores que estão a ser analisados.

O Governo francês anunciou ainda que vai pedir um novo prolongamento do estado de emergência, em vigor em França desde Novembro de 2015, pelo menos até às eleições presidenciais em Maio (primeira volta) de 2017.

Registados oito crimes de terrorismo em 2015

O último Relatório Anual de Segurança Interna, relativo a 2015, dá conta que nesse ano foram registados em Portugal oito crimes de terrorismo, cinco de carácter nacional e três de carácter internacional. Os dados relativos a 2014 não estão disponíveis, porque são inferiores a três e, por isso, estão protegidos pelo segredo estatístico. O ano passado a PJ partilhou informações com a Europol em 106 casos de terrorismo e com a Interpol em 12.

No último relatório lê-se que a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT), que reúne as várias polícias e as secretas, identificou "casos de radicalização e conexões entre cidadãos e/ ou estruturas, e organizações jihadistas de cariz transnacional". Diz-se ainda que os serviços secretos rastrearam "cidadãos nacionais que se deslocam para palcos de jihad com o fito de se afiliarem ao Grupo Estado Islâmico, ou à Al-Qaida". As autoridades referem igualmente que, desde 2013, acompanham "um grupo de indivíduos de nacionalidade portuguesa, e luso-descendentes, que se encontra actualmente na Síria, ligados ao Grupo Estado Islâmico".