Reintegração dos divorciados recasados na Igreja continua a abrir brechas

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“Até onde o Papa for, nós vamos com ele”, diz o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa Nelson Garrido

A simplificação do processo de anulação dos casamentos católicos enquadra-se na atenção do Papa Francisco à nova realidade das famílias, assunto que esteve, aliás, no centro dos dois sínodos que, em 2014 e 2015 puseram bispos de todo o mundo a discutir questões como o casamento dos casais homossexuais e a reintegração na Igreja Católica de alguns divorciados recasados. Mas esta questão, conforme se verificou em Abril, com a publicação da exortação pós-sinodal Amoris Laetitia (em que Francisco, ainda que com uma linguagem propositadamente dúbia, desafia a Igreja a pôr de parte a “fria moralidade burocrática” e a ser “misericordiosa com quem se divorciou ou vive numa união fora do casamento porque “ninguém pode ser condenado para sempre”) continua a motivar braços-de-ferro entre os católicos. Há uma semana, quatro cardeais conotados com o sector mais conservador da Igreja, incluindo pesos-pesados como o norte-americano Raymond Leo Burke, divulgaram uma carta aberta onde acusavam o Papa de ter lançado a confusão e instavam-no a clarificar, por exemplo, se a possibilidade de os divorciados recasados acederem aos sacramentos se restringe ou não apenas àqueles que, no segundo casamento, se abstêm de ter vida sexual. Para o teólogo Anselmo Borges esta dúvida é “simplesmente insensata”, porque exigi-la seria “atentar contra a natureza humana”. A Conferência Episcopal Portuguesa não passou ao lado desta questão e, no passado dia 10, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, concordou na interpretação de que o Papa abre a porta para a revisão de uma série de exclusões dos sacramentos por parte dos divorciados recasados e predispôs-se a partilhar desse esforço comum para uma maior integração dos divorciados recasados. “Vamos ver o que pode ser feito, mas até onde o Papa for, nós vamos com ele”, assegurou.

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A simplificação do processo de anulação dos casamentos católicos enquadra-se na atenção do Papa Francisco à nova realidade das famílias, assunto que esteve, aliás, no centro dos dois sínodos que, em 2014 e 2015 puseram bispos de todo o mundo a discutir questões como o casamento dos casais homossexuais e a reintegração na Igreja Católica de alguns divorciados recasados. Mas esta questão, conforme se verificou em Abril, com a publicação da exortação pós-sinodal Amoris Laetitia (em que Francisco, ainda que com uma linguagem propositadamente dúbia, desafia a Igreja a pôr de parte a “fria moralidade burocrática” e a ser “misericordiosa com quem se divorciou ou vive numa união fora do casamento porque “ninguém pode ser condenado para sempre”) continua a motivar braços-de-ferro entre os católicos. Há uma semana, quatro cardeais conotados com o sector mais conservador da Igreja, incluindo pesos-pesados como o norte-americano Raymond Leo Burke, divulgaram uma carta aberta onde acusavam o Papa de ter lançado a confusão e instavam-no a clarificar, por exemplo, se a possibilidade de os divorciados recasados acederem aos sacramentos se restringe ou não apenas àqueles que, no segundo casamento, se abstêm de ter vida sexual. Para o teólogo Anselmo Borges esta dúvida é “simplesmente insensata”, porque exigi-la seria “atentar contra a natureza humana”. A Conferência Episcopal Portuguesa não passou ao lado desta questão e, no passado dia 10, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, concordou na interpretação de que o Papa abre a porta para a revisão de uma série de exclusões dos sacramentos por parte dos divorciados recasados e predispôs-se a partilhar desse esforço comum para uma maior integração dos divorciados recasados. “Vamos ver o que pode ser feito, mas até onde o Papa for, nós vamos com ele”, assegurou.

De resto, são já muitas as paróquias que, contra a doutrina formal e oficial da Igreja Católica mas em consonância com a orientação que vem sendo dada por Francisco, administram a comunhão e a confissão a divorciados recasados. “Nunca recusei”, assume o presidente da Associação portuguesa de Canonistas e vigário judicial de Aveiro, Manuel Rocha. “Desde que a situação em que a pessoa está não cause escândalo, confesso e dou comunhão, sim senhor. Deixo sempre claro que não sou juiz, sou pastor, e é a pessoa que deve, perante a sua consciência discernir o que deve fazer”, acrescenta.

A abertura não deverá ir muito além disto, porque o próprio Papa manteve que o princípio da indissolubilidade do matrimónio continua actual e deve ser defendido. Recorde-se, aliás, que a anulação do casamento não pode ser equiparada a divórcio. “No divórcio, é a vontade da pessoa que está em causa. No caso da Igreja, o que está em causa não é a vontade das pessoas, mas o saber-se se aquele matrimónio foi verdadeiro e válido, ou se, pelo contrário, houve ali alguma coisa que o tornou nulo. Não se trata de dissolver, mas de considerar que não existiu verdadeiramente”, destrinça o vigário judicial de Leiria-Fátima, Fernando Clemente Varela.