Atentado em mesquita xiita em Cabul faz 27 mortos
É o último de uma série de ataques contra a minoria hazara registados nos últimos meses, todos reivindicados pelos jihadistas do Daesh.
Pelo menos 27 pessoas morreram e 35 ficaram feridas num atentado suicida contra uma mesquita xiita em Cabul, naquele que é o último de uma série de ataques registados nos últimos meses contra aquela minoria afegã – as acções anteriores foram reivindicadas pelo Daesh.
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Pelo menos 27 pessoas morreram e 35 ficaram feridas num atentado suicida contra uma mesquita xiita em Cabul, naquele que é o último de uma série de ataques registados nos últimos meses contra aquela minoria afegã – as acções anteriores foram reivindicadas pelo Daesh.
Segundo o Ministério do Interior afegão, o ataque ocorreu cerca das 12h30 (8h em Portugal continental) quando os fiéis se juntavam na mesquita Baqirul Olum para celebrar o fim dos 40 dias de luto que se seguem ao Ashura, celebração religiosa em que é recordada a morte do imã Hussein, neto do profeta Maomé e considerado pelos xiitas seu legítimo sucessor.
“Eu estava dentro da mesquita, as pessoas estavam a rezar quando ouvi um enorme ‘bang’ e os vidros explodiram. Não tenho ideia do que aconteceu, fugi dali a chorar”, contou à AFP Ali Jan, um dos sobreviventes.
As forças de segurança fecharam toda a zona envolvente, permitindo apenas a circulação de ambulâncias. As primeiras imagens captadas pelas agências mostram o edifício devastado e destroços espalhados sobre o chão manchado de sangue.
Os taliban, que lutam há 15 anos contra o Governo de Cabul, distanciaram-se de imediato do ataque. “Este acto não é nosso nem tem nada a ver connosco”, disse à BBC o porta-voz dos fundamentalistas, Zabihullah Mujahid.
O Presidente afegão, Ashraf Ghani, divulgou de imediato um comunicado a repudiar o ataque “bárbaro” e as “tentativas de divisão” da população do Afeganistão, um país onde a maioria da população é de etnia pashtun e confissão sunita, mas onde convivem inúmeros outros grupos étnicos, entre eles os hazara, uma comunidade que professa o xiismo.
Este grupo tem sido um alvo cada vez mais frequente de actos terroristas, primeiro às mãos dos fundamentalistas afegãos e, nos últimos meses, dos jihadistas do Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico) que tem já uma presença significativa em algumas províncias afegãs.
O ataque desta segunda-feira é o terceiro a visar os xiitas em Cabul desde o atentado que a 23 de Julho visou uma manifestação da minoria hazara. A explosão, que fez 85 mortos e mais de 130 feridos, foi reivindicada pelos jihadistas.
As celebrações do Ashura, a 13 de Outubro, voltaram a ficar ensombradas pela violência – uma série de ataques contra locais de concentração xiita em Cabul e Mazar-i-Sharif, a grande cidade do Norte do Afeganistão, fizeram mais de 30 mortos e uma centena de feridos.
“As forças de segurança são incapazes de proteger as nossas mesquitas, os peregrinos e as nossas manifestações”, indignava-se um habitante de Cabul, que se identificou à AFP como Rahmat, ao assistir às operações de socorro às vítimas do ataque. Acusou o Governo afegão, controlado pela maioria pashtun, de saber que os xiitas são um alvo privilegiado dos extremistas. “Eles deviam garantir a segurança dos nossos locais sagrados.”
A presença crescente do Daesh no Afeganistão é um novo desafio ao já imenso problema de segurança que o Governo afegão enfrenta, dois anos depois do fim da missão da NATO no país. O Exército e a polícia afegã foram treinados pelos militares aliados, mas continuam a não ter os meios, humanos e materiais, para enfrentar a rebelião taliban, que no último ano aumentou as zonas sob seu controlo e redobrou os ataques contra as zonas urbanas, tendo conseguido ainda em Outubro apoderar-se pela segunda vez da cidade de Kunduz, antes de terem sido rechaçados pelas forças de segurança.