Papa estende perdão do aborto para lá do Jubileu da Misericórdia

A decisão alarga a decisão aplicada até agora, que concedia aos bispos e padres a faculdade de perdoar as mulheres arrependidas de terem feito abortos.

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AFP/TIZIANA FABI

O Papa Francisco anunciou nesta segunda-feira que vai alargar a todos os sacerdotes indefinidamente a possibilidade de “perdoarem” o aborto.

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O Papa Francisco anunciou nesta segunda-feira que vai alargar a todos os sacerdotes indefinidamente a possibilidade de “perdoarem” o aborto.

A decisão, comunicada na carta apostólica Misericordia et Misera, que marca o encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia, sublinha que o aborto continua a ser um “grave pecado”, mas “não existe pecado algum que a misericórdia de Deus não possa alcançar”.

“Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.”

Esta faculdade de perdão tinha sido estendida aos padres no início do Ano Jubilar, que começou a 8 de Dezembro do ano passado e terminou este domingo. Fica “agora alargado no tempo”, escreve o líder da Igreja Católica.

“Para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto.”

A absolvição do “pecado do aborto” era uma prerrogativa dos bispos que estes podiam delegar aos padres “em situações especiais”, explicou à BBC Brasil, na abertura do Ano Jubilar, o padre Gerardo dos Reis Mata. “Todavia, durante o Ano Santo, para facilitar ainda mais o perdão, o Papa concedeu essa faculdade a todos os sacerdotes.” O Ano Jubilar acabou no dia 20 de Novembro, a possibilidade do perdão continua.

Jornada dos Pobres

Na mesma carta, Francisco apelou a “uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”.

“Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma casa ou uma terra onde habitar, ser discriminado pela fé, a raça, a posição social... estas e muitas outras são condições que atentam contra a dignidade da pessoa”, continua o líder da Igreja Católica.

Prolongando assim o espírito do Jubileu, o Papa escreve que “este chega ao fim e a porta santa [aberta em igrejas de todas as dioceses do mundo] fecha-se, mas a porta da misericórdia do nosso coração fica para sempre aberta”.

Depois de ter marcado o último ano com uma série de gestos em defesa dos excluídos, o Papa apela agora à “imaginação” dos sacerdotes e dos crentes para que encontrem novos meios de se preocuparem com os mais pobres.

“O mundo continua a produzir novas formas de pobreza espiritual e material que atenta contra a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve estar sempre vigilante e pronta a identificar novas obras de misericórdia e aplicá-las com generosidade e entusiasmo”, insiste.

Francisco instituiu ainda “uma Jornada Mundial dos Pobres”, a ter lugar todos os anos num domingo em meados de Novembro — uma decisão na linha da que este ano permitiu convidar milhares de excluídos para o Vaticano, no passado dia 13. “Será uma jornada que ajudará as comunidades e cada baptizado a reflectir sobre a forma como a pobreza está no coração do Evangelho e no facto de que, enquanto houver um pobre à porta, não pode haver justiça nem paz social”, diz o Papa Francisco.