Alina Ibragimova, uma violinista surpreendente!

A violinista russa Alina Ibragimova e a Orquestra Barroca Casa da Música encerraram, no passado domingo, a edição 2016 do ciclo À Volta do Barroco.

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Alina Ibragimova com a Orquestra Barroca Casa da Música Alexandre Delmar/ Casa da Música

O ciclo À volta do Barroco contou, como é habitual, com uma programação rica e variada, incluindo géneros e estilos musicais que, de modos diversos, se relacionam com a música barroca. Na edição de 2016 houve também espaço para a divulgação de música relacionada com a Rússia (país-tema de 2016) e para a estreia no Porto da internacionalmente aclamada violinista russa Alina Ibragimova (artista em Associação desta edição), que claramente se destacou, apresentando-se em três concertos com repertório diversificado. No primeiro, com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, realizou uma impressionante interpretação do Concerto para Violino e Orquestra nº1 de Dmitri Chostakovitch, marcada por uma enorme solidez técnica e por uma vigorosa intensidade expressiva. Quatro dias depois, em recital a solo, apresentou repertório tão interessante quanto difícil e variado (a Passacaglia de H. von Biber,  a Partita nº 2 de J. S. Bach, a Sonata de Béla Bartók e a Sequenza VIII de Luciano Berio). E, no passado domingo, encerrou o ciclo, interpretando concertos para violino e orquestra de J. S. Bach com a Orquestra Barroca Casa da Música.

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O ciclo À volta do Barroco contou, como é habitual, com uma programação rica e variada, incluindo géneros e estilos musicais que, de modos diversos, se relacionam com a música barroca. Na edição de 2016 houve também espaço para a divulgação de música relacionada com a Rússia (país-tema de 2016) e para a estreia no Porto da internacionalmente aclamada violinista russa Alina Ibragimova (artista em Associação desta edição), que claramente se destacou, apresentando-se em três concertos com repertório diversificado. No primeiro, com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, realizou uma impressionante interpretação do Concerto para Violino e Orquestra nº1 de Dmitri Chostakovitch, marcada por uma enorme solidez técnica e por uma vigorosa intensidade expressiva. Quatro dias depois, em recital a solo, apresentou repertório tão interessante quanto difícil e variado (a Passacaglia de H. von Biber,  a Partita nº 2 de J. S. Bach, a Sonata de Béla Bartók e a Sequenza VIII de Luciano Berio). E, no passado domingo, encerrou o ciclo, interpretando concertos para violino e orquestra de J. S. Bach com a Orquestra Barroca Casa da Música.

Para além dos concertos de Ibragimova, o ciclo contou ainda com um excelente concerto a cappella pelo Coro Casa da Música, integralmente constituído por obras de compositores russos do século XVI ao século XX; a estreia na Sala Suggia do aclamado grupo português Divino Sospiro e da soprano Francesca Aspromonte; e a apresentação da versão inglesa da oratória A Criação, de Franz Joseph Haydn, pela Orquestra Sinfónica e Coro Casa da Música, com a participação de um elenco de solistas que incluiu a soprano portuguesa Susana Gaspar.

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No concerto de encerramento do ciclo, a Orquestra Barroca Casa da Música apresentou-se numa formação reduzida ao naipe de cordas de arco e à secção de contínuo. Esta formação terá, provavelmente, sido definida em função dos dois concertos para violino e orquestra BWV 1055 e BWV 1056R de J. S. Bach interpretados por Alina Ibragimova.

De acordo com as notas de programa o repertório seleccionado procurou interligar três elementos distintos: música russa, sinfonias de Antonio Vivaldi (justificadas pelo facto de o veneziano Baldssare Galuppi, que trabalhou para a czarina Catarina II, ter contactado com Vivaldi na sua juventude) e os concertos para violino e orquestra de Bach (repertório de referência na discografia de Ibragimova). Paradoxalmente, apesar deste cuidado, o concerto não apresentou um conceito claro, nem um fio condutor bem definido. Após a primeira peça – a abertura da ópera Alcide, do compositor russo Dmitri Bortnianski (breve e interessante obra de contornos claramente clássicos, no entanto empobrecida pela ausência de sopros e de timbales) –, o concerto consistiu essencialmente na alternância entre breves sinfonias de Antonio Vivaldi (três delas aberturas de óperas e outra al Santo Sepolcro) e três obras de proporções mais amplas: os dois concertos de Bach e um belíssimo Concerto a quatro em dó menor de Baldassare Galuppi.

Se, por um lado, a variedade estilística em nada contribuiu para a coerência do programa, por outro o facto de Ibragimova tocar apenas em duas das obras (uma em cada parte) tornou o concerto um pouco insípido para quem pretendia escutar a jovem violinista russa. O programa teria sido sem dúvida mais interessante e equilibrado se incluísse mais um dos concertos que Ibragimova gravou no disco Bach – Violin Concertos (disco aclamado pela crítica internacional e considerado um dos melhores do ano passado pelos críticos do Ípsilon).

Numa sala que acusticamente não é favorável a grupos pequenos, a orquestra nem sempre conseguiu produzir uma sonoridade coesa e equilibrada (particularmente na primeira parte), notando-se também algum desacerto na afinação. Na segunda parte esteve melhor, demonstrando uma maior robustez sonora e uma interpretação mais clara, definindo melhor o fraseado e as texturas, nomeadamente no concerto de Galuppi.

A interpretação de Ibragimova demonstrou mais uma vez uma forte intensidade expressiva, fazendo uso do seu impressionante rubato, que parece fazer flutuar a linha do violino sobre a orquestra com uma liberdade pouco habitual. Nos concertos de Bach a orquestra deixou transparecer a dificuldade em acompanhar a "rebeldia" interpretativa de Ibragimova, particularmente no Larghetto do concerto BWV 1055, que resultou pesado e sem a desejável coordenação solista-orquestra. Já no Largo do concerto BWV 1056, com o seu singelo acompanhamento orquestral em pizzicato, Ibragimova teve toda a liberdade para dar asas à fantasia do seu fraseado  momento que fez recordar o seu fabuloso encore no concerto de abertura do ciclo, quando interpretou o Andante da Sonata a solo BWV 1003 de J. S. Bach.

Neste concerto final o encore foi o Largo ma non tanto do Concerto para dois violinos BWV 1043 de J. S. Bach, com Ibragimova a partilhar o lugar de concertino com o violinista Huw Daniel. A escolha desta peça equilibrou um pouco o programa, sem no entanto o corrigir (claramente faltou mais um concerto de Bach!...). A solução poderia ter passado pela inclusão do concerto para dois violinos de Bach em detrimento de algumas das sinfonias.

Deste modo imperfeito, mas apesar de tudo com vários motivos de inegável interesse, se encerrou a edição 2016 do ciclo À Volta do Barroco