Contratar uma pessoa com autismo? Federação cria guião para sensibilizar empregadores
Associação quer mostrar que pessoas com autismo são pontuais, organizadas no trabalho, persistentes na tarefa, competentes, responsáveis e respeitadores das hierarquias.
As pessoas com autismo consideram-se pontuais, organizadas, competentes e responsáveis, mas também muitas vezes discriminadas no local de trabalho, o que levou a Federação Portuguesa de Autismo a criar um guião para empregadores, apresentado nesta quinta-feira.
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As pessoas com autismo consideram-se pontuais, organizadas, competentes e responsáveis, mas também muitas vezes discriminadas no local de trabalho, o que levou a Federação Portuguesa de Autismo a criar um guião para empregadores, apresentado nesta quinta-feira.
"Nós queremos sensibilizar os empresários e os empregadores para terem pessoas com autismo a trabalhar com eles", explicou a presidente da Federação Portuguesa de Autismo (FPDA), em declarações à agência Lusa, destacando que este foi um documento feito por pessoas com autismo que estão ou já estiveram empregadas.
A FPDA avançou então com um projeto de investigação, juntamente com 13 jovens com perturbações do espectro do autismo, dez rapazes e três raparigas, que responderam a um questionário e depois a uma entrevista semi-estruturada, em que apontaram o que deveria ser dito aos empregadores.
As entrevistas tinham vários temas, como a inclusão, os elogios, a discriminação, e, dentro desses temas, há conselhos que as pessoas com autismo dão aos empresários.
"Os chefes têm de aprender a não discriminar. Não somos diferentes, não somos deficientes. Queremos ser tratados de igual para igual, sem tratamento especial", diz P.P., um dos entrevistados.
Já I.P. pede que o chefe seja simpático com os seus trabalhadores e que não os maltrate, enquanto P.P. refere que um chefe deve ser acessível e democrático.
"Um chefe deve ajudar a estabelecer a comunicação entre os empregados e a entidade empregadora, o que causa um bom ambiente de trabalho", refere A.A., outro dos participantes no projecto.
"São os conselhos que eles dão aos empresários e cada página tem um conselho, ou seja, como é que devem fazer os elogios, para eles irem trabalhar bem num sítio têm que ser primeiro apresentados às pessoas, etc. Dito por todos", adiantou Isabel Cottinelli Telmo, presidente da Federação Portuguesa de Autismo.
A.A., por exemplo, achou "importante" ter tido "formação pelo funcionário anterior", enquanto P.P. gostava que houvesse um "dia de apresentação como há as apresentações na escola, o colega X, o fulano tal, o beltrano, o cicrano".
R.N., por outro lado, pede que os chefes expliquem "de forma calma" o que querem que ele faça, enquanto M.C. gostava que o avisassem antes de lhe mudarem as funções, porque em cima da hora pode tornar-se "uma grande pressão".
A.A. também prefere que lhe peçam uma coisa de cada vez, sublinhando que não se sente muito confortável quando tem de fazer duas tarefas ou mais ao mesmo tempo, porque fica sem saber qual delas é prioritária.
Além dos conselhos, o guião tem também ilustrações que foram feitas por uma pessoa com autismo, no caso um funcionário da FPDA, que "tem um dom especial para o desenho" e que já fez vários cursos na área.
O guião é apresentado nesta quinta-feira no decorrer do seminário Sei Trabalhar, na União das Associações de Comércio e Serviços, em Lisboa, para mostrar que as pessoas com autismo são pontuais, organizadas no trabalho, persistentes na tarefa, competentes, responsáveis e respeitadores das hierarquias.
A presidente da FPDA espera que, com este guião, possa haver mais empresários e empregadores a contratarem pessoas com autismo, pois só "uma percentagem baixíssima" é que está inserida no mercado de trabalho.
Uma das psicólogas ligadas ao projecto frisou que as pessoas com autismo "são capazes de uma maior adaptação do que aquela que por norma é pensada".
"Por norma, as pessoas pensam que seria melhor um sítio mais calmo [para as pessoas com autismo trabalharem], por exemplo, mas eles têm-nos surpreendido imenso com as respostas que deram, já que foi possível verificar que muitos deles gostavam de trabalhar ao ar livre", revelou Rita Santos, mestre em psicologia clínica.
Para a responsável, esta pode ser uma ferramenta para que mais empregadores contratem pessoas com autismo, salientando que há ainda muita discriminação, quando alguém assume que tem esta síndrome.