Oceanário de Lisboa é o único da Europa a ter a jamanta-do-golfo

Cardume da espécie Mobula hypostoma que veio para Portugal foi apanhado ao largo da Florida, nos EUA.

Foto
Jamantas-do-golfo no tanque principal do Oceanário de Lisboa Pedro A. Pina

A viagem foi feita dos mares da Florida para o aquário central do Oceanário de Lisboa. Um cardume de seis jamantas-do-golfo, ou Mobula hypostoma, está pela primeira vez num aquário da Europa, sublinha em comunicado o oceanário.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A viagem foi feita dos mares da Florida para o aquário central do Oceanário de Lisboa. Um cardume de seis jamantas-do-golfo, ou Mobula hypostoma, está pela primeira vez num aquário da Europa, sublinha em comunicado o oceanário.

“O Oceanário de Lisboa reúne as condições necessárias para acolher esta espécie”, diz-nos a curadora do Oceanário de Lisboa, Núria Baylina. Desde 1997 a trabalhar no oceanário, a bióloga conhece bem as condições que o aquário tem para oferecer às jamantas. E quando Núria Baylina fala de condições, refere-se à dimensão e à forma do tanque central do oceanário.

Com capacidade de cerca de cinco milhões de litros de água e uma profundidade de sete metros, permite que animais de maior envergadura nadem à vontade. As seis jamantas chegaram em Julho a Lisboa, anunciou recentemente o oceanário. Tinham então 80 centímetros de envergadura, mas podem alcançar os 1,20 metros.

O cardume veio do oeste do Oceano Atlântico, mais exactamente da zona da Florida (EUA). Núria Baylina conta que o Oceanário de Lisboa fez o pedido à Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Florida, criada em 1999 para gerir e regular os recursos selvagens. Nesta “encomenda”, um dos factores decisivos, além das condições necessárias para o oceanário receber as jamantas-do-golfo, foi o facto de esta espécie despertar interesse no público.

Até agora, o oceanário apenas tinha uma jamanta, da espécie Mobula mobular, também conhecida como diabo-do-mar. Esta espécie é mais pequena do que a jamanta-do-golfo, tem uma cauda mais longa e sem espinho na sua base. Além disso, a jamanta-do-golfo é pouco conhecida, como refere o oceanário, em comunicado. Por isso, o objectivo é também estudá-la.

Foto
Jamantas-do-golfo no Oceanário de Lisboa Pedro A. Pina

Numa primeira fase, quando chegaram ao oceanário, as jamantas passaram por um período de quarentena às novas condições de vida. Por exemplo, como são animais de mar aberto não estavam habituadas a viver num aquário. Depois, começaram a ser treinadas. Um dos métodos usados foi treinar as jamantas a alimentarem-se num determinado local, o que permite observá-las de perto, explica Núria Baylina.

E o que comem? Estas jamantas consomem zooplâncton, animais muito pequenos, como peixes e krill (pequenos camarões). As jamantas levam o alimento à boca através da projecção dos lobos cefálicos. Ao todo, as seis jamantas comem quatro quilos de krill por dia.

Mas ainda é cedo para ter novas informações sobre as jamantas recém-chegadas. “Retiraremos dados ao nível do crescimento, peso e comportamento, mas ainda não temos nada concreto. Elas ainda nem chegaram ao seu tamanho adulto, que corresponde aos 120 centímetros”, diz a bióloga.

Em tempos, gigantes assustadores

Esta não é só uma estreia num aquário na Europa, é também em território português. O biólogo Pedro Afonso – do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e um dos autores de um estudo sobre a jamanta-oceânica (Mobula tarapacana) no arquipélago açoriano e que foi publicado na revista Nature em 2014 – diz que a jamanta-do-golfo vive apenas entre a superfície e os 50 metros de profundidade no oeste do Atlântico, percorrendo as zonas costeiras entre os Estados Unidos e o Uruguai. “Nunca foi avistada nos Açores”, reforça.

Em tempos, estes animais da família dos cartilagíneos (não possuem ossos, mas sim cartilagens) eram também conhecidos como “gigantes do oceano”, causando medo a pescadores e marinheiros. Os motivos? Ao longo do dia mantêm a boca aberta, enquanto vão percorrendo os mares, e têm projecções cefálicas que se assemelham a “cornos”, como descreve Rogério Ribeiro Ferraz, também biólogo do DOP, no texto Jamantas, gigantes do oceano, publicado no site do DOP. Mas essa é já uma história antiga: “As jamantas, ou mantas, são animais muito curiosos e mesmo afáveis, contrariando as lendas e estórias do passado.”