Ter um filho homossexual é como ter um filho toxicodependente?

Dogmas há muitos; há, pelo menos, um por momento, e não me venham com a história dos genitais, pois há muito que nos apartámos do passado em que o corpo era, aparentemente, "puro"

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Tertia van Rensburg/Unsplash

Em parte, ter um filho homossexual é como ter um filho toxicodependente, sem qualquer dúvida, e isso acontece porque a homossexualidade e a toxicodependência gozam ambas de um processo de demonização, alvo de quem nelas vislumbra um "mal", ficando, assim, as duas com aura de "patologia", quando poderiam ser apenas compensação, comportamento idiossincrático, mira de uma suposta escolha pessoal.

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Em parte, ter um filho homossexual é como ter um filho toxicodependente, sem qualquer dúvida, e isso acontece porque a homossexualidade e a toxicodependência gozam ambas de um processo de demonização, alvo de quem nelas vislumbra um "mal", ficando, assim, as duas com aura de "patologia", quando poderiam ser apenas compensação, comportamento idiossincrático, mira de uma suposta escolha pessoal.

E escolher, todos escolhemos, com que "com-pesar" nossas frustrações, no exercício do que queremos ou desejamos, se é um "bem" ou um "mal", isso é coisa que assenta na convicção, no critério, de cada um. Sim, indubitavelmente, a homossexualidade é uma patologia, porque a palavra provém do "pathos", que é um "sofrer", e o homossexual sofre, tanto ou mais do que o toxicodependente, precisamente porque foi "patologizado", "a-mal-diçoado", "anormalizado".

Não, não me considero mais do que o gay ou o toxicodependente; eles respondem, à sua maneira, à "normalidade" do mundo, com sua "anormalidade", e o mundo fica em pânico, porque o "anormal" puxa a "normalidade" para aquela "anormalidade", quiçá venha o "normal" a tornar-se "anormal", aliás, "normal", ficando o "normal" de hoje "anormalizado" amanhã. Que pulhas são estes inadaptados, que direito têm eles de mexer com a estabilidade, com a lei há tanto perfilhada? Se mudar a lei, muitos sofrerão, virão novos "pathos", mas, olha, isto há que dar a mesma oportunidade a todos para serem (a)normalizados.

Mas então não é a homossexualidade falha de identidade sexual? Certa psicanálise o diz, é certo, mas isso é o "normal" daquele sistema, tal como aceitar que o "género" tem de estar em conivência com o "sexo", mas quem pode, em absoluto, fixar o verdadeiro "real", primevo, das coisas? Dogmas há muitos; há, pelo menos, um por momento, e não me venham com a história dos genitais, pois há muito que nos apartámos do passado em que o corpo era, aparentemente, "puro". Agora, distantes do princípio dos tempos, há que saber lidar com o futuro, e este deve aplaudir a tolerância, bem como a igualdade de oportunidades em poder fornicar quem queremos sem parecer "estranho" ao vizinho.

Mas, oh Maria José Vilaça, eu respeito a tua opinião, até acho que deve haver todos os paradigmas possíveis de psicólogos, e também acho que os pais sofrem com seus filhos sofredores, e também sei que, se os pais sofrem, os filhos sofrem também por eles, sei, igualmente, que, se os pais e os filhos sofrem, é também porque pessoas como tu "anormalizam", "patologizam", as condições deles, porque o que é "normal" e "aceitável" não possui o mesmo poder de magoar, de traumatizar. E é por isso que um paneleiro, um "viado", uma fufa, não são "naturais", pois são forçados a cumprir o seu papel "extraterreno", porque lhes chamam daqueles nomes e lhes apontam a condição, e isso contagia a sociedade, que, cedo e a toda a hora, esculpe seus padrões de normalidade vs. anormalidade.

Já a mim cansa-me a normalidade. Não é que seja avesso aos homofóbicos. Sou mais aos normofílicos, exceptuando os dias em que me canso de ser eu mesmo, nesses, deixo-me ir na corrente, onde a felicidade e a estupidez se misturam num elixir capaz de cerzir a "toxicodependência da normalidade". E porque sou avesso à "normalidade", deixem que vos diga que me cansa tal-qualmente o politicamente correcto, ora se a senhora Maria José Vilaça quer ver um "mal" nesta coisa de ser gay, deixem lá a senhora em paz, pois o "mal" existe, ela faz parte dele, mas nós também, dando importância à coisa, patologizando, nós mesmos, uma simples opinião, às tantas, de tanto querermos "anormalizar" a dita, fica ela digna da indulgência dos normofóbicos, e olhem que não me apetece nada andar a defender a rata da sacristia.

E quanto à ciência, esqueçam! Isto são temas irredutíveis a estudos. E, de qualquer modo, o julgamento moral nada tem a ver com investigação científica, se é "bom" ou é "mau", isso é coisa que interessa ao "antes" e ao "para quê", por isso não venham lançar mais confusão para o lodo que já aqui grassa.

Bem, dou por terminada a crónica. Se esperavam uma coisa mais "certinha direitinha", perderam o vosso tempo. É favor seguir as instruções para a "normalidade", esta estrada é cheia de curvas.