O Trump foi eleito porque nós deixámos? Desculpa, fala por ti. Eu não deixei o Trump ganhar nem a direita vencer, porque olhei sempre para trás e para a história, aprendendo com a história a ver, e a ler, os sinais que se repetem ao sabor dos tempos, das mentalidades e da ignorância, passando a palavra, discutindo porta a porta, pessoa a pessoa, alertando, ensinando, gratuita e livremente, sem esperar nada em retorno a não ser a esperança de um mundo melhor, ciente de que talvez não o veja mas nem por isso baixando os braços.

O Trump foi eleito porque nós deixámos? Desculpa, fala por ti. Eu não deixei o Trump ganhar nem a direita vencer, porque olhei sempre para trás e para a história, aprendendo com a história a ver, e a ler, os sinais que se repetem ao sabor dos tempos, das mentalidades e da ignorância, passando a palavra, discutindo porta a porta, pessoa a pessoa, alertando, ensinando, gratuita e livremente, sem esperar nada em retorno a não ser a esperança de um mundo melhor, ciente de que talvez não o veja mas nem por isso baixando os braços.

Por isso não, não me encolhi a um canto com medo, nunca tive medo do Estado Islâmico, dos refugiados, da crise económica, dos imigrantes, da igualdade de género, das minorias étnicas, dos homossexuais e de todos quantos são diferentes de nós. Nunca tive medo, só raiva, a raiva de quem esteve sempre ao lado da diferença. E porque a melhor defesa é o ataque, ataquei, e ainda hoje ataco, sem paciência alguma para auto-comiserações, queixumes ou birras infantis de quem bate os dois pés contra o chão em sinal de protesto contra os "Trumps" deste mundo, porque com as vossas birras podem eles bem e até agradecem, por isso babem-se à vontade e depois não se queixem. Já dizia a minha mãe, mais choras, menos mijas.

Porque eu não tenho pavor de perder a minha vida de poliéster, já a perdi há muito quando emigrei e deixei tudo para trás para sentir na pele tudo o que o mundo tem para nos fazer sentir na pele, no corpo, nos punhos, no coração e nos olhos cerrados, incrédulos, doridos, sofridos, ainda hoje ao espelho.

E não, não me rodeei de uma vidinha costurada a um dólar por dia no Bangladesh porque aprendi a ler, e é para isso que servem as etiquetas e as manifestações na rua, procurando reduzir a minha pegada ecológica com produtos sustentáveis e duradouros, fechando as torneiras em casa, no trabalho e nas casas de todos quantos vêem estas palavras, para não desperdiçar e ao invés reduzir, reutilizar, reciclar. Porque cresci num mundo onde ecologia era somente uma palavra e hoje é um verbo, por detrás do qual caminha uma legião de crentes e combatentes pelo tal mundo, hoje sem dúvida melhor.

Porque eu não fiquei indiferente às famílias mortas no Mediterrâneo, levantando o rabo do sofá e protestando, votando, escrevendo, contribuindo em favor dos refugiados. E não, não tenho um carro para atestar com a gasolina que lhes estoirou a vida e a esperança, tenho uma bicicleta cujo depósito se enche a sandes e pequenos-almoços.

Quanto aos partidos, não são todos iguais nem farinha do mesmo saco, faço parte de um e, gratuitamente, ajudei mais de 100.000 pessoas a procurar trabalho lá fora, ou cá fora (depende da perspectiva). Quem está mal que se mude ou crie o seu próprio, pois assim são os remédios dos grandes males.

Por isso não hão-de ser os nossos filhos a fechar a porta quando a porta já não se fecha, está escancarada de tanto pontapé, sustida pelo que resta de meia dobradiça só. Porque de pouco importa o presente ou a satisfação imediata quando temos todo o futuro à nossa espera e este mundo não tem tempo, ou memória, para egos fartos de si próprios. Portanto, filha, não te peço desculpa, não tenho nada para me desculpar, antes tudo para me orgulhar. É este o mundo que a geração dos teus pais te deixa, peço-te que faças parte dele. Enche os pulmões e dá-me a mão, há tanto por fazer.