Depois da Bulgária, um pró-russo vence eleição presidencial na Moldávia
Moscovo aumenta a sua influência nos “elos fracos” da UE e da NATO. Tal parece traduzir uma nova paisagem geopolítica.
O candidato pró-russo Igor Dodon venceu no domingo a segunda volta das eleições presidenciais na Moldávia, uma antiga república soviética. Obteve 56,5% dos votos contra 43,5 da "pró-europeia" Maia Sandu. Uma semana antes, outro pró-russo, o general Rumen Radev, derrotara na segunda volta das presidenciais búlgaras o candidato do governo, levando ontem à demissão do primeiro-ministro, Boiko Borissov.
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O candidato pró-russo Igor Dodon venceu no domingo a segunda volta das eleições presidenciais na Moldávia, uma antiga república soviética. Obteve 56,5% dos votos contra 43,5 da "pró-europeia" Maia Sandu. Uma semana antes, outro pró-russo, o general Rumen Radev, derrotara na segunda volta das presidenciais búlgaras o candidato do governo, levando ontem à demissão do primeiro-ministro, Boiko Borissov.
Ambos os candidatos denunciaram fraudes ou a falta de boletins de voto para os numerosos eleitores da diáspora. O clima político na Moldávia está altamente polarizado entre adeptos da aproximação à Russia e defensores de maior integração na União Europeia. O ambiente é envenenado por escândalos de corrupção que têm levado inúmeras a manifestações de rua. O maior escândalo verificou-se no ano passado quando o governo confirmou o desaparecimento de mil milhões de dólares das caixas-forte de três bancos — quase 15% do PIB de um dos mais pobres países da Europa.
A Moldávia, de maioria romena, separou-se da União Soviética em 1990, dando lugar a uma secessão de facto da região da Transnístria, de dominância russa e sustentada por Moscovo. País-membro do Acordo Centro-Europeu de Livre Comércio, tem vivido em permanente instabilidade política.
Dodon, 41 anos, antigo ministro da Economia, foi adepto da integração na UE. Mudou de posição, passando a dar prioridade à aproximação da Rússia. Não tem muitos poderes formais mas ameaça convocar um referendo sobre a orientação geopolítica do país. "Perante uma classe política esgotada, Dodon dispõe de alavancas para fazer descarrilar o processo de integração europeia", declarou à AFP o politólogo Dionis Cenusa. Moscovo quer alargar a sua influência num país ex-soviético com 20% de russófonos.
Uma das forças que agiu contra Sandu foi a imprensa tablóide que a acusou de prometer a Angela Merkel acolher 30 mil refugiados sírios. A razão de fundo estará na falência dos partidos pró-ocidentais, desacreditados pela corrupção dos oligarcas, sobretudo o Partido Democrata, que controla as coligações governamentais desde 2009, explica o Le Monde.
As vitórias pró-russas na Moldávia e na Bulgária — esta membro da UE e da NATO — "soam como um trovão no céu europeu e são uma séria advertência a Bruxelas". Tratam-se de países de peso e de natureza muito diferentes.
Os analistas búlgaros afirmam que "não há alternativa à pertença da Bulgária à União uropeia e à NATO" e o próprio general Radev, ex-comandante da Força Aérea, não põe em causa o alinhamento "pró-atlântico", pretendendo antes um "reequilíbrio" de relações. Defende designadamente o fim das sanções à Russia. Para Moscovo, diz à AFP o politólogo Antonyi Galabov, a sua eleição é uma benesse na aquisição de "aliados" dentro da UE e da Aliança Atlântica.
Para o analista Parvan Simeonov, isto traduz "um novo contexto internacional que encoraja a vontade de mudança (...) e o declínio das autoridades tradicionais na Europa Ocidental", fenómeno que poderá vir a ser reforçado pela eleição de Donald Trump.