BCE preocupado com inflação na zona euro
Efeitos negativos do aumento da incerteza “poderão surgir posteriormente”, avisa Vítor Constâncio.
O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, mostrou-se nesta segunda-feira preocupado com a inflação na zona euro e afirmou que a entidade avaliará a situação em Dezembro, altura em que poderia decidir prolongar os estímulos monetários.
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O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, mostrou-se nesta segunda-feira preocupado com a inflação na zona euro e afirmou que a entidade avaliará a situação em Dezembro, altura em que poderia decidir prolongar os estímulos monetários.
"Se os níveis de inflação subjacente (que desconta os elementos mais voláteis como a energia e os alimentos) se mantiverem, isto poderia afectar com o tempo as dinâmicas da inflação geral, que é o nosso objectivo", afirmou Constâncio depois de intervir num congresso de banca em Frankfurt.
"Gostaríamos de ver um ponto de inflexão na inflação subjacente porque seria um bom indicador de que a inflação se está a beneficiar de factores internos", sublinhou Constâncio. Quando interveio na conferência, Constâncio advertiu para os efeitos económicos negativos de uma eventual adopção por Washington de políticas proteccionistas, tanto para a economia norte-americana como para a do resto do mundo.
Constâncio afirmou que "a percepção do mercado de que os Estados Unidos embarcam numa nova fase de política fiscal expansionista aumentou o optimismo com efeitos visíveis nos mercados financeiros na semana passada".
Os mercados consideram que os estímulos fiscais "podem quebrar a armadilha de liquidez que tem impedido o crescimento nas economias avançadas", adiantou Constâncio.
Na semana passada ocorreu uma deslocação de obrigações para acções, tendo os preços das acções subido e o das obrigações caído em todo o mundo em cerca de um bilião de euros, afirmou o vice-presidente.
Estes movimentos ocorreram porque o mercado considera que os estímulos fiscais aumentam o crescimento e a inflação mais à frente, permitindo uma normalização da política monetária dos Estados Unidos para taxas de juro mais elevadas, referiu.
Constâncio afirmou que "antecipando esta evolução, os mercados venderam obrigações o que conduziu a um incremento das rentabilidades a largo prazo", algo que é positivo para a rentabilidade dos bancos e se reflectiu na subida do preço das acções do sector na bolsa na semana passada.
Apesar de muitos comentadores terem dito que os últimos acontecimentos geopolíticos terão benefícios económicos, Constâncio advertiu que estes serão de curto prazo e que "os efeitos reais negativos do aumento da incerteza poderão surgir posteriormente".
O vice-presidente do BCE também pediu cautela na hora de tirar conclusões positivas resultantes destes movimentos, alegando que podem não indicar necessariamente que a recuperação da economia mundial acelere com um crescimento maior.
Constâncio mencionou neste sentido que a política proteccionista dos Estados Unidos ('America first') pode mitigar ou inclusivamente reverter o crescimento e colapsar o comércio mundial, provocando danos em todas as economias abertas que dependem das exportações.
Na semana passada o candidato republicano, Donald Trump, ganhou as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Na campanha eleitoral, Trump apresentou posturas proteccionistas que limitarão o comércio dos Estados Unidos com outras regiões.