Trumpificação e o que de pior poderia haver em 2016
Tome nota, por favor: o centro deste risco é a Europa, que acumulou os maiores erros ao longo da década e os vai pagar agora com a trumpificação da sua política na França e na Alemanha.
No final de 2015, diversas instituições publicaram as suas listas de pesadelos sobre tudo o que de pior poderia acontecer em 2016. Em resumo, temiam três famílias de riscos, a que chamam os “cisnes negros” ou o improvável mas que pode ocorrer: Brexit e crise europeia, acidentes financeiros e degradação económica, eleição de Trump e crise da globalização. Admitia-se então que estes seriam cenários extremos e pouco prováveis. Ora, só com mês e meio para ver o que mais virá neste ano, o quadro já não é simpático.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No final de 2015, diversas instituições publicaram as suas listas de pesadelos sobre tudo o que de pior poderia acontecer em 2016. Em resumo, temiam três famílias de riscos, a que chamam os “cisnes negros” ou o improvável mas que pode ocorrer: Brexit e crise europeia, acidentes financeiros e degradação económica, eleição de Trump e crise da globalização. Admitia-se então que estes seriam cenários extremos e pouco prováveis. Ora, só com mês e meio para ver o que mais virá neste ano, o quadro já não é simpático.
A Bloomberg, baseada em inquéritos a empresários de topo, fez então um ranking dos pesadelos e apresentou um gráfico com o cálculo dos seus efeitos. Os três piores seriam um ataque do Daesh aos pipelines do Médio Oriente fazendo subir o preço do petróleo, o Brexit e um ciberataque destrutivo contra a banca internacional.
A eleição de Trump, em contrapartida, só seria viável se Clinton desistisse. Provocaria uma grande incerteza que favoreceria a indústria militar, um arranjo com a Rússia para uma nova Guerra Fria deslocada para o Pacífico e impactos imprevisíveis na ordem internacional, mas seria do domínio dos impossíveis. Na União Europeia, o pesadelo seria a saída do Reino Unido, o enfraquecimento de Merkel e o recuo do BCE na política de expansão monetária. Na economia, os piores cenários seriam um fraco crescimento chinês ou a aceleração do aquecimento climático com efeitos devastadores na agricultura e acesso a água. Outro focos de tensão poderiam ser o Brasil se Dilma fosse afastada e a Venezuela se a crise se prolongasse. Como é bom de ver, os pesadelos chegaram pela calada do dia.
Outra instituição que apresentou os seus cenários foi o The Economist: o pior, embora com baixa probabilidade, seria a eleição de Trump, que destabilizaria a economia global. A União Europeia poderia fracturar-se se o Reino Unido saísse, se a crise dos refugiados criasse novas tensões internas e atingisse Merkel e se a Grécia fosse empurrada para fora do euro.
De tudo isto, já temos quanto baste – mas só pode piorar.
Primeiro, a crise europeia: muros contra os refugiados e ascenso da xenofobia, aventura de Cameron no referendo britânico, sangria da Grécia. Mas vem mais: referendo em Itália e eleições austríacas em Dezembro e depois eleições francesas e alemãs em 2017. Cada um destes processos só pode acentuar a crise europeia.
Segundo, a vitória de Trump. Ameaça imediata, renegar o Acordo de Paris sobre alterações climáticas. Mas olhe para o governo que se perfila, com o peso dos tubarões de Wall Street e a ressurreição dos profetas conservadores, e percebe-se o que está a chegar: maná dos céus para a finança e o neoliberalismo casado com o autoritarismo, como nos seus mais esfusiantes momentos.
Há no entanto um pesadelo de que ainda não acordámos, uma nova crise financeira. A pergunta, aliás, não é se ocorrerá, é quando ocorrerá. O aumento da volatilidade nos mercados financeiros e a acumulação de dívidas são as consequências de uma política ameaçadora: o BCE espalhou dinheiro que valorizou as acções mas não o investimento, enquanto as taxas de juro negativas comprimiam as margens bancárias e estimularam novas operações financeiras de risco, de que o Deutsche Bank é o exemplo mais conhecido (o valor nocional dos seus derivados é superior ao valor do PIB mundial). Ou seja, o nosso problema são as soluções para o problema.
Chegados ao fim de 2016, temos então uma crise da procura mundial e zero capacidade para responder a uma recessão, porque os bancos centrais não podem fazer nada. Tome nota, por favor: o centro deste risco é a Europa, que acumulou os maiores erros ao longo da década e os vai pagar agora com a trumpificação da sua política em França e na Alemanha.