Trump diz que quer manter algumas medidas do Obamacare
Durante a campanha, o republicano chegou a dizer que a reforma de saúde era “uma catástrofe” e prometeu revogá-la. A reunião com Obama fê-lo recuar.
Revogar o programa de saúde universal, conhecido como Obamacare, foi uma das pedras de toque da campanha do agora Presidente eleito Donald Trump. Mas três dias depois de ter vencido as eleições presidenciais, na primeira entrevista que deu, Trump alterou a sua posição e admitiu querer manter dois pilares da reforma diabolizada pelo seu partido.
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Revogar o programa de saúde universal, conhecido como Obamacare, foi uma das pedras de toque da campanha do agora Presidente eleito Donald Trump. Mas três dias depois de ter vencido as eleições presidenciais, na primeira entrevista que deu, Trump alterou a sua posição e admitiu querer manter dois pilares da reforma diabolizada pelo seu partido.
Ao Wall Street Journal, Trump voltou a definir o Obamacare como uma das prioridades nos seus primeiros dias na Casa Branca. Mas, pela primeira vez, o multimilionário nova-iorquino reconheceu que poderia preservar uma parte do programa de saúde. Em concreto, trata-se da proibição contra as seguradoras que negam um plano de saúde a pacientes por causa da sua condição pré-existente e de um artigo que permite aos pais estender a cobertura do seu seguro aos filhos por mais anos.
“Gosto muito destas”, disse Trump, referindo-se aos dois princípios que pretende aproveitar do Obamacare. A mudança de posição ocorreu depois da conversa que manteve com Barack Obama, logo no dia seguinte às eleições. “Eu disse-lhe que ia pensar nas suas sugestões e, por respeito, irei fazê-lo”, afirmou Trump.
No programa 60 Minutos da CBS, Trump reafirmou a sua intenção de “tentar manter” aqueles que são, na sua opinião, “os grandes activos” da reforma do funcionamento do sistema de saúde, em vigor desde 2010.
As declarações do Presidente eleito representam um recuo significativo, pelo menos no plano retórico, das posições que manifestou durante a campanha, quando qualificou o Obamacare como “um desastre total”, uma “catástrofe” e um “assassino de emprego”. A verdade é que – como em muitas outras áreas – Trump foi omisso quanto à forma como desejava concretizar uma reforma alternativa.
Desde que foi aprovado em 2010, o Obamacare tornou-se num alvo a abater para o Partido Republicano, pelo qual Trump foi eleito. Depois de mais de 50 tentativas falhadas de o revogar por via legislativa, no Congresso, os republicanos viram na vitória de Trump – associada às maiorias nas duas câmaras parlamentares – o momento perfeito para enterrar a maior reforma de saúde nos EUA desde o fim da II Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, é questionável como é que Trump pensa em manter “os grandes activos” da reforma de saúde que referiu sem os pilares que considera negativos – como a obrigação de que todos os cidadãos tenham um seguro de saúde, a base de financiamento do programa. “Manter as cenouras da lei enquanto se abandonam os paus pode mostrar-se difícil”, diz o correspondente da BBC nos EUA, Anthony Zucker.
A maioria que detêm no Senado não permite aos republicanos revogar o Obamacare, mas podem cortar grande parte do financiamento. Calcula-se que 22 milhões de pessoas ficariam desprotegidas assim que o programa fosse anulado.
Na entrevista ao WSJ, Trump anunciou ainda a desregulação das instituições financeiras como outra das grandes prioridades para que “os bancos possam voltar a emprestar dinheiro” e referiu a protecção da fronteira contra o tráfico de droga e a imigração ilegal.
Sobre a promessa, feita num dos momentos mais tensos da campanha, de que iria nomear um procurador especial para investigar a utilização do servidor de e-mail privado pela sua adversária, Hillary Clinton, enquanto era secretária de Estado, Trump mostrou relutância. “Não é algo a que tenha dado muita atenção, porque quero tratar da saúde, emprego, controlo de fronteiras e reforma fiscal.”
Trump voltou ainda a referir-se aos protestos que levaram milhares de pessoas às ruas de várias cidades por todo o país, contra a sua vitória. “Quero um país que se ame”, afirmou. Mas quando foi questionado sobre se era da opinião que o seu discurso durante a campanha terá ido longe de mais, o magnata foi cortante: “Não. Eu ganhei.”