O dia em que morreu
As dores de todas as pessoas que choram a morte de Leonard Cohen começam a dividir-se e a ficar sozinhas.
A seguir a uma morte há um turbilhão de luto em que sofremos em público, com cada nova dor a distrair as outras dores. E todas juntas têm o efeito de consolar-se, num abraço terrestre que se aproxima do sagrado.
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A seguir a uma morte há um turbilhão de luto em que sofremos em público, com cada nova dor a distrair as outras dores. E todas juntas têm o efeito de consolar-se, num abraço terrestre que se aproxima do sagrado.
É sexta-feira e à hora portuguesa de 17h08m, quando os judeus acenderam as velas do Shabbat, Leonard Cohen, pela primeira vez na morte, não acendeu as velas como sempre fez durante a vida, fosse qual fosse a religião – ou falta dela – pela qual estivesse a divagar.
Caiu o sol e começa a dor. As dores de todas as pessoas que choram a morte de Leonard Cohen começam a dividir-se e a ficar sozinhas. É mais difícil no escuro. Também é difícil escrever seja o que for sobre ele sem que a minha cabeça seja visitada por versos que ele cantou.
Foi na segunda-feira que ele morreu. Mas nós soubemos na sexta-feira, já ele estava enterrado. No site da New Yorker lia-se “Leonard Cohen, who died this week…” Foi na segunda-feira e eles acharam mais elegante. Porque é que a New Yorker não garantiu uma actualidade ainda mais duradoura e disse que ele tinha morrido “este ano” ou até, considerando que o ano está quase a acabar, “em 2016”?
Foi só por isso que vim para aqui escrever que ele morreu na segunda-feira, no dia 7 de Novembro de 2016. Seja em que dia for em que isto for lido, foi na segunda-feira que morreu Leonard Cohen.
Chegará o tempo de dizer que morreu esta semana ou numa segunda-feira ou em Novembro. Ainda é muito cedo.
Fizeram bem em só nos dizerem agora.