Em Arouca, os habitantes dão o benefício da dúvida a Pedro Dias
Na terra onde foi detido, é visto como um "gentleman". “Se ele é culpado tem de pagar, se não foi ele é preciso meter os culpados lá dentro”.
O “gentleman” de Arouca, aquele que diz bom dia e boa tarde quando passa e “beija as mãos às senhoras”, como o descrevem alguns habitantes da terra à mesa de um restaurante, deixou de ser o homem mais procurado de Portugal. Pedro João Dias entregou-se na noite de terça-feira às autoridades, um momento captado em directo pela RTP e seguido com toda a atenção pelos habitantes da vila que adormeceram e acordaram esta quarta-feira com a notícia.
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O “gentleman” de Arouca, aquele que diz bom dia e boa tarde quando passa e “beija as mãos às senhoras”, como o descrevem alguns habitantes da terra à mesa de um restaurante, deixou de ser o homem mais procurado de Portugal. Pedro João Dias entregou-se na noite de terça-feira às autoridades, um momento captado em directo pela RTP e seguido com toda a atenção pelos habitantes da vila que adormeceram e acordaram esta quarta-feira com a notícia.
“A primeira parte desta história está terminada. Agora vem a segunda e quem sabe o prolongamento e até vai aos penáltis”, sintetizou Luís de Matos, que esta quarta-feira à hora do almoço, num restaurante no centro da Arouca, liderava a conversa. O assunto era inevitavelmente o alegado homicida de um militar e um civil em Aguiar da Beira. Nem as eleições nos Estados Unidos da América eram um tema relevante.
Um “comezanas”
Vinte e nove dias depois dos acontecimentos, à opinião dos habitantes de Arouca de que Pedro João Dias não podia ser o autor dos crimes, juntam-se agora as perguntas sobre as razões que levaram este homem de 44 anos a andar fugido à polícia.
“Se ele é culpado tem de pagar, se não foi ele é preciso meter os culpados lá dentro. A verdade tem de vir ao de cima”, advogou Adelino Pedro. Já o companheiro de mesa, Carlos Almeida, vaticinava que “a história ainda vai trazer muita gente à baila”.
Para este grupo de amigos só havia um desfecho possivel. “A única solução que ele tinha era entregar-se”, concordam. Recusam, no entanto, que a estratégia seja sinónimo de “culpabilidade”. Sobre o alegado homicida, muitos dos habitantes que falaram ao PÚBLICO continuam a dizer que era uma pessoa educada, “um comezanas” que andava sempre “de um lado para o outro”.
Homicida entregou-se em casa de amiga
A casa onde Pedro João Dias aguardou pelas autoridades fica a cerca de 150 metros da habitação dos pais, na Rua dos Bombeiros Voluntários de Arouca, e era aqui que o alegado homicida passava grande parte do seu tempo. Num dos apartamentos do edifício morava a avó. A casa está virada para a estrada, perto da câmara municipal e quase colada ao quartel da corporação.
Nos últimos dias, quem por ali passa diariamente admite nunca se ter apercebido que Pedro João Dias pudesse estar dentro do apartamento habitado por uma amiga. Nem mesmo na noite em que a Polícia Judiciária o foi buscar, notaram qualquer tipo de movimentações antes da chegada das autoridades.
“Não nego que não me tenha passado pela cabeça que ele pudesse lá estar, até porque passava ali a maior parte do tempo”, conta um vizinho. O mesmo que sublinhou que havia uma relação muito próxima com a avó com quem Pedro João Dias foi criado praticamente desde pequeno. “Antes era normal ver os pais de Pedro Dias a deixar o almoço e a jantar lá em casa. Desde o que aconteceu, nunca mais os vimos por aqui. A avó foi para junto de outros familiares”, contou um casal que mora em frente.