Denunciados abusos contra civis na ofensiva de Mossul
Pelo menos seis pessoas foram torturadas e executadas por suspeitas de pertencerem ao Estado Islâmico.
Elementos identificados como fazendo parte da polícia iraquiana foram acusados de torturar e matar civis de aldeias próximas de Mossul, suspeitos de pertencerem ao Daesh. A denúncia, revelada pela Amnistia Internacional, sinaliza o perigo de mais violência na região na sequência da operação de tomada da cidade do Norte iraquiano.
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Elementos identificados como fazendo parte da polícia iraquiana foram acusados de torturar e matar civis de aldeias próximas de Mossul, suspeitos de pertencerem ao Daesh. A denúncia, revelada pela Amnistia Internacional, sinaliza o perigo de mais violência na região na sequência da operação de tomada da cidade do Norte iraquiano.
Pelo menos seis pessoas terão sido detidas e executadas por homens que vestiam uniformes da polícia federal Iraquiana no final de Outubro em várias aldeias dos distritos de Al-Shura e Al-Qayyara, a sul de Mossul. Os investigadores da Amnistia Internacional não conseguiram confirmar de forma independente se se tratava realmente de elementos das forças de segurança e a direcção da polícia federal negou as acusações.
Um grupo de civis foi capturado e levado para uma área deserta, onde foram agredidos com fios eléctricos e cabos de espingardas. A barba de um dos homens foi incendiada e alguns foram obrigados a colocarem-se de barriga para baixo e foram disparadas balas para o meio das suas pernas.
O episódio aconteceu durante os confrontos entre as forças iraquianas e militantes pertencentes ao Daesh, que tentavam travar o avanço até Mossul. Os autores das execuções assumiram que apenas combatentes pertencentes ao grupo jihadista permaneciam na aldeia, apesar de os civis se terem apresentado desarmados.
“Matar deliberadamente detidos e outras pessoas indefesas é proibido pela lei humanitária internacional e é um crime de guerra”, avisa a vice-directora do gabinete regional de Beirute da AI, Lynn Maalouf. A organização pede que as autoridades iraquianas investiguem as acusações.
O desencadeamento de episódios de violência sectária nos territórios libertados pela coligação que combate o Estado Islâmico é um dos principais riscos que a operação para reconquistar Mossul acarreta. A região é maioritariamente habitada por sunitas – embora também haja uma população considerável de cristãos – que temem a retaliação por parte dos elementos xiitas presentes nas forças governamentais.
Na ofensiva participa uma ampla coligação que, para além de reunir as forças de segurança e o exército iraquiano – cujos elementos são maioritariamente xiitas –, junta ainda milícias curdas peshmerga, tribos sunitas e grupos armados xiitas. Para tentar travar a violência, as milícias peshmerga e xiitas não vão entrar nos limites urbanos de Mossul.
“Esta é a última batalha no Iraque [contra o Estado Islâmico] e todos querem ser incluídos”, dizia no início de Outubro ao Guardian um membro dos serviços secretos iraquianos. “Foi uma decisão inteligente permitir o envolvimento das milícias xiitas apenas em áreas determinadas e sob controlo, [mas] não penso que depois de dois anos a combater o ISIS [acrónimo em inglês do Estado Islâmico] se pudesse impedir os xiitas de participarem na última batalha no Iraque”, acrescentou.
Nos últimos dias, as forças da coligação têm feito progressos a partir da zona leste de Mossul, onde já estão perto dos limites urbanos da cidade. A sul, o exército conseguiu retomar o controlo sobre a aldeia mais próxima da antiga cidade de Nimrud cujo património foi destruído no ano passado pelo Estado Islâmico.