Este território desconhecido
Neste dia 1 da era Trump cabe-nos procurar as causas que levaram ao sucesso de Trump e ao desejo americano de fazer uma ruptura total com o status quo. Urgentemente.
Sim, ganhou. E convém começar por aqui: Donald Trump será o 45.º Presidente dos Estados Unidos da América, vencendo legitimamente uma eleição democrática. Não era seguramente o que desejávamos, mas esta não é a hora para enterrar a cabeça na areia.
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Sim, ganhou. E convém começar por aqui: Donald Trump será o 45.º Presidente dos Estados Unidos da América, vencendo legitimamente uma eleição democrática. Não era seguramente o que desejávamos, mas esta não é a hora para enterrar a cabeça na areia.
Esta quarta-feira abriu-se uma página em branco na nossa história. E isso obriga-nos a parar e a fazer perguntas. Desde logo sobre a América, tal como a conhecíamos. Porque Trump não foi só eleito com o voto dos homens brancos. Foi também também com a ajuda das mulheres brancas. Não o foi apenas pelos americanos rurais, também os urbanos mostraram confiança nele. E nem o voto jovem serviu Hillary – este encaminhou-se para uma divisão total.
Os jornais nos Estados Unidos passaram as últimas horas de cabeça perdida por causa disto. Se todos eram anti-Trump, como é que Trump acabou eleito? Se todos fizeram "fact checking" explicando que ele mentia, como é que tantos americanos votaram nele? Será que, na era da tecnologia, não conhecemos os nossos leitores? Terá sido a nossa influência ultrapassada pela das redes sociais? Ou os americanos deixaram de dar importância à verdade, assumindo que os políticos são todos igualmente mentirosos?
Um problema ligado a outro: porque o que aconteceu na América já tinha acontecido no Reino Unido, porque num e outro caso os académicos e especialistas estiveram publicamente do lado derrotado, porque os manifestos, o financiamento, a opinião, o apoio estava todo de um lado (e esse lado perdeu), será que a maioria voltou as costas às elites?
E a economia, claro. Dizem-nos os dados que a americana já passou a barreira da crise – o que levaria a crer que os democratas tinham caminho aberto na substituição de Obama. Mas Hillary perdeu votos entre os mais pobres e ganhou entre os mais ricos. Já Trump, o investidor que se fez milionário com a economia aberta, ganhou votos entre os mais pobres, com um discurso anti-globalização (ele, republicano). E isso, sim, obriga-nos a olhar para os dados mais micro, para as marcas que deixou esta crise, e tentar tirar lições disto tudo.
Convictos da nossa verdade, podemos dizer que os americanos cederam à promessa de soluções fáceis para problemas complexos. Que abriram a porta a um mundo virado de pernas para o ar, até particularmente perigoso. E até podemos questionar se Trump conseguirá governar com o que prometeu. Mas isso só vamos poder julgar mais tarde. E ao ritmo a que esta história se está a escrever, não vamos ter tempo para esperar as respostas.
Neste dia 1 da era Trump cabe-nos procurar as causas que levaram ao sucesso de Trump e ao desejo americano de fazer uma ruptura total com o status quo. Urgentemente. Porque, olhando para o calendário, só aqui na Europa, vemos movimentos populistas similares a ganhar apoio na Áustria, Itália, França, Holanda e República Checa, países que vão a votos no próximo ano. Por isso é que temos que fazer as perguntas agora: para não nos surpreendermos outra vez, neste mundo novo de profunda incerteza, que parece feito à medida dos inimigos da democracia.
Pelo caminho, resta-nos confiar nos pais fundadores da América. Eles deram ao seu país a maior arma de defesa da sua democracia: criaram um sistema de contra-pesos que haverá de proteger os EUA deste seu novo Presidente. Apesar de todo este poder.