Maizum leva à Casa da Achada “maratona” de comédias portuguesas quinhentistas
Leituras encenadas de três autores clássicos, seguidas de tertúlias, é a proposta ousada do Teatro Maizum. Começam hoje, às 18h30, na Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, em Lisboa.
A Casa da Achada, em Lisboa, recebe a partir desta quarta-feira uma verdadeira “maratona” de comédias portuguesas quinhentistas. A iniciativa é do Teatro Maizum, dirigido por Silvina Pereira, que ao longo da sua história tem vindo a batalhar pela divulgação de autores e de autênticos tesouros do teatro clássico português.
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A Casa da Achada, em Lisboa, recebe a partir desta quarta-feira uma verdadeira “maratona” de comédias portuguesas quinhentistas. A iniciativa é do Teatro Maizum, dirigido por Silvina Pereira, que ao longo da sua história tem vindo a batalhar pela divulgação de autores e de autênticos tesouros do teatro clássico português.
Depois de, em Janeiro, ter lançado o catálogo da exposição sobre Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515/1524?-1585) e de, em Junho, ter levado à cena no Teatro Romano de Lisboa A Paz, do comediógrafo grego Aristófanes (444-385 a.C.), chega agora a vez de uma trilogia assente em obras de Francisco Sá de Miranda, Jorge Ferreira de Vasconcelos e António Ferreira. “O público quer ver estes espectáculos, quer ver as suas melhores jóias em palco, a mentalidade dos seus avoengos, os seus vícios e virtudes, o seu “caso” colectivo em cena. É uma questão de identidade e de referente”, diz Silvina, que condena o facto de, desse período, se falar apenas de Gil Vicente. “Ele é sem dúvida um gigante na história do teatro peninsular e europeu, mas não é o único, ele produzia num contexto em que a época respirava teatro, havia outros dramaturgos, outras propostas, e é esse mosaico cénico que é preciso estudar, dar a conhecer, fazer em palco. Num ensaio que juntou profissionais, estudantes universitários e amadores de teatro, foi possível verificar a reacção electrizante que provoca a leitura da Comédia Ulysippo. Não sejamos pois ingratos com dramaturgos de tamanho engenho.”
Mesmo que isto implique andar a contracorrente, diz ela. “Em tempos tão duros e vazios, onde as palavras de ordem são contemporaneidade, rapidez, futuro, é difícil passar a mensagem que o presente é consequência do passado e que, sem esse passado e a sua memória, não há futuro. Um futuro que projecte o que fomos, o que somos e o que queremos ser. Não podemos aceitar apenas referentes acabados de chegar.”
"Missão nobre e generosa"
Quarta, quinta e sexta-feira, às 18h30, serão apresentadas, respectivamente, as obras Os Vilhalpandos, de Francisco Sá de Miranda; Comédia Ulysippo de Jorge Ferreira de Vasconcelos; e Comédia O Cioso de António Ferreira. Cada uma delas será seguida, às 19h30, por conversas com José Camões (dia 9), Silvina Pereira (10) e Vanda Anastácio (11). No dia 12, sábado, as três obras serão apresentadas em sequência, pela mesma ordem, às 16h, 17h30 e 19h, seguindo-se (20h30) um período de “convívio e iguarias”.
Estas leituras encenadas estarão a cargo de Augusto Portela, Carmen Santos, Daniel Albergaria, Elisiária Ferreira, Esmeralda Veloso, Eduardo Frazão, Isabel Fernandes, João Ferrador, José Gil, Júlio Martín, Margarida Rosa Rodrigues, Miguel Vasques, Rui Pedro Cardoso, Rogério Jacques, São José Lapa, Silvina Pereira e Susana Sá.
Tudo isto na Casa da Achada – Centro Mário Dionísio. “É uma casa da Cultura no sentido mais nobre do termo”, diz Silvina. “E queremos agradecer-lhe. Respira-se bem, dá gosto estar ali a ensaiar e poder aí apresentar este I ciclo da Festa dos Clássicos.” Haverá mais, por certo. Garrett, lembra Silvina, dizia: “Ai do país que não se orgulha da sua história e da sua cultura”. E dizia também: “Andemos com a missão por diante, que é nobre e generosa”. É o que ela tenciona fazer, mesmo que os apoios rareiem.