A “grande diferença” é o “eleitorado branco com baixos níveis de instrução”
O voto dos brancos com pouca instrução pode ser a novidade das eleições para Presidente dos EUA. Entre estes amplia-se a tendência para votar em Trump.
Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considera que “a grande diferença nesta eleição [para Presidente dos EUA] parece ser o comportamento do eleitorado branco com baixos níveis de instrução, nomeadamente sem curso superior”, cuja “tendência, desde o início dos anos 1990, tem sido a de cada vez mais votarem no Partido Republicano”, uma tendência que “parece ter-se ampliado muito”. De resto, o comportamento dos grupos sociais deve manter-se, numa eleição que, de acordo com a análise das sondagens, deverá ser ganha por Hillary Clinton.
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Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considera que “a grande diferença nesta eleição [para Presidente dos EUA] parece ser o comportamento do eleitorado branco com baixos níveis de instrução, nomeadamente sem curso superior”, cuja “tendência, desde o início dos anos 1990, tem sido a de cada vez mais votarem no Partido Republicano”, uma tendência que “parece ter-se ampliado muito”. De resto, o comportamento dos grupos sociais deve manter-se, numa eleição que, de acordo com a análise das sondagens, deverá ser ganha por Hillary Clinton.
Tem acompanhado a evolução das sondagens sobre as eleições norte-americanas? Que pistas dão elas?
As sondagens dão muitas pistas, mas neste momento a principal é a indicação genérica de uma provável vitória de Hillary Clinton. Mas há divergências de análise e de leitura, nomeadamente sobre quão improvável será uma vitória de Trump. Há quem coloque isso no domínio da quase impossibilidade, mas também há quem lhe dê uma hipótese em três, o que é muito, mas mesmo muito, diferente. Essas divergências radicam na análise das tendências estado a estado, que acabam por ser as decisivas para a composição do colégio eleitoral, mas também as mais difíceis de interpretar, porque tem havido menos sondagens estaduais do que em eleições anteriores e têm amostras geralmente pequenas.
O que vai ser decisivo na determinação dos resultas das eleições para Presidente dos EUA?
Diria que o mais importante de tudo é a mobilização das bases de cada partido. Uma das razões para a relativa recuperação de Trump nos tempos mais recentes parece ser que os simpatizantes do Partido Republicano parecem estar a vencer as reticências que tiveram em relação ao candidato. Nesta altura, já não há muitos indecisos para persuadir num sentido ou noutro. Mas esta questão da mobilização é também um factor que aumenta a incerteza, porque as sondagens têm enorme dificuldade — como é natural — para incorporar nos seus resultados a probabilidade de uma pessoa ir de facto votar como diz numa sondagem que tenciona fazer.
Tendo em conta os números que tem visto, quais diria que são os estados mais determinantes?
Há uma série de estados cujos resultados podem praticamente ser dados como certos, tão grande é a vantagem de um candidato sobre outro. No mínimo dos mínimos, esses estados dão 160 lugares no colégio eleitoral a Trump e 183 a Clinton. Mas para ganhar é preciso 270. E aí entram os estados onde a vantagem de um candidato sobre outro é reduzida. Em alguns deles, há tendências relativamente claras a favor de um candidato ou de outro, tais como Georgia ou Arizona a favor de Trump, ou Michigan ou Minnesota a favor de Clinton. Mas há outros onde a incerteza é quase total, tais como a Carolina do Norte, a Florida ou o Nevada. Deste ponto de vista, o quadro geral parece globalmente mais favorável a Clinton, mas com alguma incerteza.
E os grupos sociais: mulheres, negros, hispânicos, muçulmanos, imigrantes?
As diferenças deste ponto de vista em relação às eleições anteriores são menores do que se pensa. Olhando para os relatórios das sondagens com alguma profundidade, vemos uma vantagem de Clinton entre as mulheres, uma vantagem ainda maior entre os eleitores hispânicos (que representarão provavelmente cerca de 9% dos votantes) e enorme vantagem entre os afro-americanos (provavelmente cerca de 12% dos votantes). Estes padrões também se repetiram nas eleições anteriores, pelo menos desde 2004 (se bem que aí a vantagem entre as mulheres foi mais reduzida). A grande diferença nesta eleição parece ser o comportamento do eleitorado branco com baixos níveis de instrução, nomeadamente sem curso superior. Entre estes, a tendência, desde o início dos anos 1990, tem sido a de cada vez mais votarem no Partido Republicano, e nesta eleição essa vantagem dos Republicanos entre esses eleitores parece ter-se ampliado muito.