Mercado de Matosinhos é novo pólo de lazer sem perder tradição
Desde 2012 abriram cerca de uma dezena de novos espaços comerciais no mercado. Autarquia quer apostar na diversidade e dar continuidade a esse novo fôlego. No entanto, afirma que os vendedores das bancas serão sempre “os protagonistas”.
Há uma nova dinâmica no mercado de municipal de Matosinhos. Poucos anos após as obras de restauro, em 2008, novas propostas de negócio foram surgindo, sobretudo a partir de 2012, convivendo lado a lado com as tradicionais bancas de peixe e de frescos, que serão para manter. A autarquia desenhou desde essa altura uma estratégia que passa por conservar o lado tradicional do mercado, criando ao mesmo tempo condições para que espaços comerciais e de trabalho se instalem no edifício. Reforçando a aposta no mercado municipal de Matosinhos, foi apresentada ontem pela autarquia a nova identidade gráfica do espaço.
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Há uma nova dinâmica no mercado de municipal de Matosinhos. Poucos anos após as obras de restauro, em 2008, novas propostas de negócio foram surgindo, sobretudo a partir de 2012, convivendo lado a lado com as tradicionais bancas de peixe e de frescos, que serão para manter. A autarquia desenhou desde essa altura uma estratégia que passa por conservar o lado tradicional do mercado, criando ao mesmo tempo condições para que espaços comerciais e de trabalho se instalem no edifício. Reforçando a aposta no mercado municipal de Matosinhos, foi apresentada ontem pela autarquia a nova identidade gráfica do espaço.
Estão lá as bancas de peixe fresco, a fruta, os legumes, o feijão a granel e o talho. Cheira a mercado tradicional, tem o som de um mercado tradicional e nas bancas fala-se como num mercado tradicional. Ao mesmo tempo, no edifício com dois andares, trabalha-se em design no piso superior, nos 15 escritórios da Incubadora de Design. Um pouco por todo o mercado, nas laterais do edifício, pode-se beber vinho a copo num wine bar, tomar um café de filtro da Guatemala, comer sushi, petiscos, uma fatia de bolo caseiro acabado de sair do forno ou peixe grelhado comprado na banca mais ao lado, escolhido pelo próprio cliente. Quem utiliza a bicicleta como meio de transporte pode deixá-la na oficina da loja de bicicletas do mercado enquanto vai ver uma exposição na nova galeria.
Foi esta dinâmica que incentivou Filipe Azevedo a abrir em Abril deste ano o Kioske de Mercado. Espaço que vende exclusivamente produtos produzidos em território nacional, alguns associados a Matosinhos, como é o caso das conservas. Dos últimos desta nova vaga de comerciantes que se foi instalando no mercado desde 2012, optou por esta localização por acreditar que este será um novo ponto de encontro, que surge como alternativa a uma baixa do Porto “sobrelotada de gente”. Com caminho aberto por outros negócios que se foram instalando anteriormente, entendeu ser a altura certa para arrancar com o projecto que criou por constatar que há novas pessoas a visitar o mercado, nomeadamente turistas que vêm visitar o edifício construído em 1936, classificado como Monumento de Interesse Público pelo IGESPAR.
Consciente de que os pioneiros correm o risco de ter mais dificuldades em se afirmar, Inês Pando, da Mafalda’s, salão de chá que também prepara refeições, diz que o arranque foi “a parte mais complicada”. Abriram portas em 2013, antes deles, dos espaços novos na área da restauração, só lá estavam a Comida de Rua e a Taberna Lusitana. Acredita no potencial do mercado e afirma que o negócio do qual faz parte é um projecto a longo prazo que aos poucos vai crescendo. A instalação da Incubadora do design, diz, acabou por, também, contribuir para esse crescimento pelo número de pessoas que acabou por trazer ao mercado.
João Festas, da Taberna Lusitana, aproveita essa dinâmica e as sinergias que foram criadas para o seu próprio negócio. Levou o seu negócio para o mercado precisamente por entender que o melhor caminho seria “não o desvirtuar” e mantê-lo como mercado tradicional. Aproveitando o peixe fresco que é vendido mesmo em frente ao seu estabelecimento, tem como uma das opções do seu menu cozinhar o peixe que é comprado pelos clientes no próprio mercado.
Desde 2012 abriram cerca de uma dezena de novos espaços no mercado de Matosinhos. Muitos deles ligados à área da restauração, como é o caso da Comida de Rua, Taberna Lusitana, a Mafalda’s ou o Sushi no Mercado. Há também a loja Menino e Moço, que vende exclusivamente artigos da Le Coq Sportif, a Velo Culture, loja e oficina de bicicletas, dos primeiros da nova vaga a chegarem ao mercado, em 2012, e o Manifesto um espaço que abriu portas recentemente com serviço de cafetaria, especializado em café de filtro de vários pontos do globo, que acumula a função de galeria de arte. De acordo com a autarquia, nos próximos meses abrirão mais três restaurantes: um italiano, um macrobiótico e um dedicado ao marisco.
De noite também há vida no mercado. Além dos restaurantes abertos à hora do jantar, o Mercado Food and Drinks, um wine bar que também serve cocktails e petiscos, é o primeiro espaço do edifício que fecha portas já de madrugada, às 4 da manhã. Carlos Azevedo, com alguma experiência nesta área, abriu este bar em 2014. Teria sido mais fácil escolher a baixa do Porto para o fazer, mas diz ter preferido arriscar. Tem a convicção de que o mercado poderá tornar-se numa alternativa à animação da baixa portuense, sobretudo para quem procura uma “noite mais recatada”. Para isso diz necessitar de “concorrência”. Concorrência que acredita ser, neste caso, uma vantagem para que se crie um “pólo alternativo” onde todos possam ganhar, “porque um bar ajuda o outro ao chamar mais gente para a área”, afirma.
Vendedores das bancas apoiam a vinda de novos comerciantes
Há 60 anos numa das bancas de peixe do mercado de Matosinhos, Maria Fernanda vê com bons olhos a chegada de novos comerciantes. São propostas “diferentes” das que está habituada e diz que não ajudam directamente o seu negócio. Contudo, diz que “servem para que se fale do mercado” o que faz com que “as pessoas não se esqueçam dele”. Vê cada vez mais turistas a passear por entre as bancas de peixe mas “é só para ver”, diz. “Os turistas não compram, talvez consumam mais nas novas lojas”, afirma.
Não compram, mas “dão ambiente”, diz Maria Guimarães, criada dentro de “uma giga” ao lado da banca de cereais e legumes de onde fala para o PÚBLICO. O negócio diz que já foi melhor, mas “se baixou a culpa é das grandes superfícies”. O novo comércio que foi surgindo no mercado diz ser “ bem-vindo”. “Coincidência ou não” há mais gente nova a comprar no mercado, também “por se preocuparem mais com alimentação”, afirma. Apoia a vinda de novas propostas comerciais e saúda a estratégia da autarquia de chamar novos negócios sem comprometer o lado tradicional do mercado.
Autarquia vai restaurar mercado de Angeiras e continuar a apostar no de Matosinhos
As obras de restauro do mercado municipal de Angeiras já arrancaram há cerca de um mês. Com conclusão prevista para daqui a seis meses, os proprietários das bancas vão continuar no mercado, que não encerrará durante o período de obras. De acordo com a câmara de Matosinhos, a obra será feita por fases. Durante essas fases as bancas serão movidas alternadamente para zonas não afectadas pelos trabalhos. Segundo o vice-presidente da autarquia, Eduardo Pinheiro, o mercado, à imagem do que aconteceu no municipal de Matosinhos, continuará a cumprir a função de um mercado tradicional. Contudo, adianta que toda a área de frescos passará “com o apoio dos próprios comerciantes” para o rés-do-chão. O piso de cima terá outra função que já está definida, mas que ainda não pode ser adiantada pela câmara por ainda estar a ser negociado.
Eduardo Pinheiro, afirma que tanto em Matosinhos como em Angeiras, os “grandes protagonistas” dos mercados municipais “serão sempre” quem está nas bancas de venda. Ao contrário do que aconteceu noutros mercados nacionais, em Matosinhos e em Angeiras, “a ideia nunca foi revolucionar, mas sim respeitar a sua função original”, afirma. No entanto, e no caso de Matosinhos, a autarquia pretende que este seja uma espaço aberto a outras áreas de negócio, no sentido de serem “criadas harmonias que podem ser uma mais-valia”. Essa mais-valia, de acordo com o vice-presidente matosinhense, foi sendo confirmada com os projectos que foram surgindo nos últimos anos, que contribuíram para que o mercado “seja agora” um lugar onde “convivem vários públicos”, diz. O desafio é agora “conciliar esses novos usos e populações”.
Reforçando a aposta no mercado de Matosinhos “e também no de Angeiras” foi lançada ontem a nova identidade gráfica dos mercados, entregue à empresa Vestígio, que custou à autarquia cerca de 7 mil e 800 euros.