Estudo revela que água mais quente leva anfíbios a adoptar dieta vegetariana
O aumento da temperatura da água leva os anfíbios omnívoros, que comem animais e plantas, como as rãs, a adoptar uma dieta mais vegetariana, o que pode afectar o equilíbrio dos ecossistemas, concluiu um estudo do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Animal Ecology Unit da Universidade de Uppsala, na Suécia, publicado na revista Ecology.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O aumento da temperatura da água leva os anfíbios omnívoros, que comem animais e plantas, como as rãs, a adoptar uma dieta mais vegetariana, o que pode afectar o equilíbrio dos ecossistemas, concluiu um estudo do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Animal Ecology Unit da Universidade de Uppsala, na Suécia, publicado na revista Ecology.
Os investigadores analisaram como as ondas de calor, relacionadas com as alterações climáticas, afectam a dieta dos girinos de três espécies de anfíbios presentes em Portugal. O estudo focou-se na rã-de-focinho-pontiagudo, na rela ou rã-arborícola-europeia e na rela-meridional, e "demonstra que o aumento da temperatura da água leva anfíbios omnívoros a adoptar uma dieta mais herbívora", informa um comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Bruno Carreira, investigador do cE3c e primeiro autor do estudo, explica que, como foram encontrados resultados semelhantes em outros organismos omnívoros de água doce, como lagostins e caracóis, concluiu-se que "a temperatura pode ter um efeito generalizado sobre as preferências alimentares das espécies aquáticas omnívoras, o que pode ser de grande relevância para a aquacultura".
Esta é a primeira vez que é estudada em vertebrados a assimilação de dietas mais ou menos ricas em proteínas em função da temperatura e "os resultados sugerem que as alterações climáticas podem ter impactos até agora desconhecidos na dinâmica dos ecossistemas", acrescenta.
Para o grupo dos investigadores liderados por Rui Rebelo "esta descoberta exige uma reavaliação dos efeitos das alterações climáticas nos ecossistemas", uma vez que as mudanças na dieta de animais omnívoros afectam vários níveis da cadeia alimentar.
"A relevância deste processo pode aumentar no futuro, visto que as projecções climáticas indicam que as ondas de calor vão tornar-se mais frequentes, intensas e longas ao longo do século", explica o comunicado.
Uma das consequências das alterações climáticas, caracterizadas pelo aumento da temperatura global do planeta e pelo aumento da frequência e gravidade dos fenómenos climáticos extremos, é a ameaça à biodiversidade. Secas, furacões, inundações e ondas de calor expõem os seres vivos a desafios que podem levar as espécies a alterar o seu comportamento, fisiologia ou mesmo as suas estratégias de vida.
Os anfíbios, com muitas espécies e populações em declínio rápido por todo o mundo, estão entre os grupos afectados pelos efeitos das alterações climáticas.
As medidas para tentar limitar a subida da temperatura do planeta a 1,5 graus Celsius vão estar no centro da conferência para as alterações climáticas da ONU (COP 22), que se inicia na segunda-feira e decorre até 18 de Novembro, em Marraquexe. As acções foram aprovadas na anterior COP, realizada em Dezembro de 2015, em França, e estão reunidas no Acordo de Paris, que entrou em vigor a 4 de Novembro.