Ali Smith só chegou ao Fórum do Futuro via Skype (e falou de Saramago)
A escritora britânica, com vários livros traduzidos em Portugal, não compareceu no Porto por estar doente, numa noite em que pouca coisa correu como o esperado.
A última conferência do terceiro dia do programa Fórum do Futuro, esta quarta-feira no Porto, esteve muito longe de cumprir as expectativas. Ali Smith (n.1962), premiada escritora britânica que tem parte da sua obra traduzida em Portugal (Hotel Mundo, A Metamorfose do Amor ou O Passado É um País Estrangeiro), foi a oradora convidada, numa conversa no Teatro Municipal Rivoli moderada pelo também romancista Richard Zimler – uma conversa que acabou por acontecer através do Skype, pois Smith teve de cancelar a sua presença no Porto por se encontrar doente. Foi a primeira desilusão da noite, e várias pessoas optaram por sair a meio da sessão.
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A última conferência do terceiro dia do programa Fórum do Futuro, esta quarta-feira no Porto, esteve muito longe de cumprir as expectativas. Ali Smith (n.1962), premiada escritora britânica que tem parte da sua obra traduzida em Portugal (Hotel Mundo, A Metamorfose do Amor ou O Passado É um País Estrangeiro), foi a oradora convidada, numa conversa no Teatro Municipal Rivoli moderada pelo também romancista Richard Zimler – uma conversa que acabou por acontecer através do Skype, pois Smith teve de cancelar a sua presença no Porto por se encontrar doente. Foi a primeira desilusão da noite, e várias pessoas optaram por sair a meio da sessão.
A ausência da escritora – lamentavelmente, a única mulher no painel dos oradores internacionais deste terceiro Fórum do Futuro – foi anunciada por Richard Zimler no arranque da conferência, às 21h30. Não houve aviso prévio de que a conversa iria ser por Skype. Nem na bilheteira onde se levantavam gratuitamente os bilhetes, nem à entrada da sala, nem nas páginas de Facebook onde se comunica o festival, organizado pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto. O PÚBLICO pediu esclarecimentos à câmara para perceber o sucedido, mas ainda não obteve resposta.
Doente mas bem-humorada (“Parece que estou num concurso da Eurovisão”, gracejou no início, a propósito da ligação por Skype) e a partir de Cambridge, Inglaterra, onde reside, Ali Smith começou por responder a algumas questões do autor de O Evangelho segundo Lázaro sobre a actual turbulência política, do Brexit às eleições americanas. “Só vejo divisões a serem erguidas”, lamentou, evocando o potencial regenerador e libertário da literatura e da arte enquanto veículo de mudança e de emancipação. “Tudo é político”, assinalou.
Entre matérias como a democratização do acesso à cultura e a necessidade de se protegerem as bibliotecas públicas, a conversa passou por alguns pontos biográficos da escritora, que foi criada numa família de classe operária. Ali Smith explicou como começou a cultivar uma relação séria com os livros desde tenra idade (das histórias de Winnie the Pooh a James Joyce) e como também aprendeu a ler com a colecção de discos das irmãs. Falou ainda sobre o seu fascínio pela “capacidade rítmica” e plástica das palavras, e pela mutabilidade do tempo, das narrativas e dos formatos na literatura, assumindo a influência directa do Nobel da Literatura, José Saramago.
Tanto as temáticas mais políticas como as pessoais foram abordadas pela tangente, sem profundidade e sem continuidade, ao contrário do que se espera num “festival de pensamento”. Houve vontade de picar o ponto em vários assuntos (incluindo o novo romance de Smith, Autumn), mas sem nunca construir uma verdadeira linha de pensamento e de discussão. A convidada leu ainda dois excertos das duas partes de How To Be Both (2014) – o seu penúltimo e celebrado romance, que lhe valeu comparações a Virginia Woolf e vários prémios literários (Goldsmith, Costa, Baileys Women’s Prize) –, mas a leitura via Skype, com algumas falhas de som, não resultou.
A fluidez e a performatividade de género, contra noções normativas e binárias de identidade de género, alimenta How To Be Both – e a julgar pela sinopse do programa iria ser um dos temas principais da conversa, enquadrado nos universos feministas e queer. Contudo, as expectativas saíram defraudadas. Houve apenas um comentário da escritora na sequência de uma pergunta do público.
“Estava à espera que o caminho fosse mais sobre questões de género e o How To Be Both, como o programa dava a entender. Foi muito superficial a esse nível e acho que teria sido uma boa oportunidade para falar sobre isso e mais sobre os seus livros”, diz Ana Caeiro, que esteve entre a audiência. “Fiquei um bocado desiludida, mais a desilusão de ela não estar em palco.” Para Ana, a organização devia ter avisado previamente o público de que Ali Smith só ia estar presente à distância. “São opções difíceis, mas é uma questão de honestidade. Acho que isso não teria feito com que eu não fosse.”
A terceira edição do Fórum do Futuro de entrada gratuita está a decorrer até domingo, com nomes como o arquitecto israelita Eyal Weizman, o escritor marroquino Tahar Ben Jelloun e o cineasta americano Joshua Oppenheimer.