Polícia italiana acusada de espancar refugiados
Agressões ocorrem quando as pessoas se negam a fornecer impressões digitais, diz a Amnistia Internacional.
A polícia italiana é acusada de usar métodos violentos contra os refugiados, incluindo choques eléctricos e espancamentos. A organização não-governamental Amnistia Internacional (AI) elaborou um relatório em que documenta 24 casos de pessoas sujeitas a práticas “semelhantes a tortura” e pede uma investigação à conduta das autoridades italianas.
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A polícia italiana é acusada de usar métodos violentos contra os refugiados, incluindo choques eléctricos e espancamentos. A organização não-governamental Amnistia Internacional (AI) elaborou um relatório em que documenta 24 casos de pessoas sujeitas a práticas “semelhantes a tortura” e pede uma investigação à conduta das autoridades italianas.
As agressões atribuídas à polícia acontecem nos chamados hotspots – locais fronteiriços designados pela União Europeia sujeitos a um forte fluxo migratório onde deve ser feita a identificação dos refugiados. Perante as recusas de muitos migrantes em ceder as impressões digitais, a polícia recorre a meios violentos, acusa a AI.
Aslaidan, um etíope de 19 anos, chegou a Itália no Verão de 2015, onde foi obrigado a fornecer impressões digitais de dez dedos das duas mãos. O jovem tinha sido informado que geralmente são pedidas as impressões de apenas dois dedos e recusou-se a cumprir com o que lhe fora pedido. Foi levado para um local reservado a “pessoas que não dão as suas impressões digitais”. “Bateram-me, deram-me bofetadas na cara, não sei quantas vezes”, conta. Acabou por ceder.
No barco em que saiu do Egipto com a Itália como destino, Mariam, uma sudanesa de 23 anos, grávida, já estava a sangrar. Passaram-se várias horas em que teve de dar várias informações sobre si e os filhos, tirar impressões digitais, até que fosse levada de ambulância para um hospital.
Um homem de 27 anos, que não quis ser identificado, disse à Amnistia ter sido alvo agressões nos genitais pela polícia. “Estava numa cadeira de alumínio, com uma abertura no assento. Prenderam-me os ombros e as pernas, agarraram os meus testículos com alicates e puxaram duas vezes. Não consigo explicar quão doloroso foi.”
A polícia italiana desmente "categoricamente" as acusações feitas pela Amnistia e garante que os hotspots "são constantemente visitados por equipas da Comissão Europeia". "Nego categoricamente que sejam utilizados métodos violentos contra migrantes, seja durante a sua identificação ou durante o repatriamento", disse o chefe da polícia italiana, Franco Gabrielli, algumas horas depois da divulgação do relatório.
A AI sublinha que a conduta da maioria dos agentes italianos é adequada, mas critica a pressão posta sobre as autoridades por causa da abordagem da União Europeia. “A pressão da União Europeia sobre a Itália para ‘ser dura’ com os refugiados e migrantes originou a expulsões ilegais e maus-tratos, que em alguns casos podem ser equiparados a tortura”, diz a organização.
A estratégia dos hotspots também é fortemente criticada pela AI, que pede uma maior partilha das responsabilidades entre os Estados europeus. “A abordagem dos hotspots, elaborada em Bruxelas e executada em Itália, aumentou, não diminuiu, a pressão nos Estados na linha da frente. Está a dar origem a violações chocantes dos direitos de pessoas desesperadamente vulneráveis”, disse à BBC o dirigente do ramo italiano da Amnistia, Matteo de Bellis.
Desde o início do ano, já chegaram a Itália, através do Mar Mediterrâneo, mais de 158 mil pessoas, segundo dados da Organização Internacional das Migrações. Ao todo, morreram 3940 pessoas a tentar a travessia.