Décimo inédito de Bolaño chega às livrarias 13 anos depois da sua morte

Chama-se El Espíritu de la Ciencia-Ficción e é publicado pela Alfaguara espanhola. Romance saiu directamente do arquivo pessoal do autor chileno e foi posto à venda esta quinta-feira. Em Portugal sai em Abril do próximo ano na Quetzal.

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Roberto Bolaño morreu em Barcelona, em 2003 DR

O diário El País publicou há dias um excerto do romance inédito do escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), antecipando a sua chegada às livrarias, esta quinta-feira. El Espíritu de la Ciencia-Ficción acompanha dois jovens poetas latino-americanos, Remo Morán e Jan Schrella, que tentam viver do ofício da escrita no México dos anos 1970. Mas, enquanto o primeiro se agarra afincadamente a esse objectivo de subsistir sem deixar a literatura, o segundo fecha-se no sótão onde ambos vivem e desata a escrever “cartas delirantes aos seus autores de ficção científica favoritos”, lê-se na breve sinopse que a editora espanhola Alfaguara tem online: “Na cidade e nas suas vidas, tudo o que é importante parece acontecer nesse momento mágico e efémero que separa a noite do dia, nesse fio finíssimo em que qualquer amor se pode transformar em desamor e toda a obsessão pode ser a semente de um novo êxito.”

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O diário El País publicou há dias um excerto do romance inédito do escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), antecipando a sua chegada às livrarias, esta quinta-feira. El Espíritu de la Ciencia-Ficción acompanha dois jovens poetas latino-americanos, Remo Morán e Jan Schrella, que tentam viver do ofício da escrita no México dos anos 1970. Mas, enquanto o primeiro se agarra afincadamente a esse objectivo de subsistir sem deixar a literatura, o segundo fecha-se no sótão onde ambos vivem e desata a escrever “cartas delirantes aos seus autores de ficção científica favoritos”, lê-se na breve sinopse que a editora espanhola Alfaguara tem online: “Na cidade e nas suas vidas, tudo o que é importante parece acontecer nesse momento mágico e efémero que separa a noite do dia, nesse fio finíssimo em que qualquer amor se pode transformar em desamor e toda a obsessão pode ser a semente de um novo êxito.”

A história deste El Espíritu de la Ciencia-Ficción, que será apresentado na Feira do Livro de Guadalajara, começa com a transcrição de uma entrevista improvável, regada a álcool e feita por uma jornalista sem nome a um escritor premiado, precisamente na noite em que ele é distinguido.

Inscrevendo-se na linha narrativa de outro título, Os Detectives Selvagens (editado em Portugal pela Teorema, 2008) – parece até que relata a adolescência dos protagonistas deste romance, especulam os editores -, El Espíritu de la Ciencia-Ficción é um Bolaño típico, misturando ingredientes da literatura realista com outros fantásticos, próprios do sonho.

Este novo romance faz parte de um amplo projecto da espanhola Alfaguara que prevê a edição de toda a obra do autor chileno: os 21 títulos que hoje a compõem, como o aclamadíssimo 2666, Nocturno Chileno ou Amuleto, e dois inéditos (além do que agora chega às livrarias há ainda um livro que junta três novelas, Patria). Num comunicado em que apresenta este ambicioso programa dedicado a Bolaño, a editora, que faz parte do gigante Penguin Random House, assegura que o romance inédito marca um “ponto de viragem” na obra do autor que parece ter tomado de assalto o mundo literário em 2004 com 2666, funcionando como “uma espécie de introdução às obras de maturidade do seu último período criativo, os produtivos anos de 1985 a 2003, em que escreveria o grande caudal da sua obra e sem dúvida as suas melhores páginas”, cita o jornal El País.

El Espíritu de la Ciencia-Ficción é o decimo livro póstumo de Roberto Bolaño. A publicação de obras do chileno nos últimos anos, envolvendo herdeiros, amigos e editores, tem provocado algum debate, já que há quem questione a sua legitimidade, uma vez que o escritor não deixou qualquer indicação expressa para que fossem editadas depois da sua morte, nem é absolutamente certo de que as tivesse dado por terminadas.

Antecipando críticas, a editora da espanhola Alfaguara, Pilar Reyes, disse ao diário que não adianta especular sobre se El Espíritu de la Ciencia-Ficción era ou não uma obra acabada para Bolaño. O que pode dizer, acrescenta é que o seu manuscrito “está fechado e assinado”. É composto por três cadernos, correspondentes a três fases da escrita – notas, o primeiro esboço e a transcrição a limpo – e por um quarto que tem a entrevista que o leitor pode encontrar no arranque do romance, com indiciações precisas do autor sobre o lugar que deve ocupar na narrativa. “Isto leva-nos a pensar que Bolaño pensou ao pormenor a estrutura do livro.”

Ano Bolaño

Em Portugal, Roberto Bolaño faz hoje parte do catálogo da Quetzal, chancela do grupo Bertrand Círculo, que conta publicar este novo romance na primeira semana de Abril. A tradução de O Espírito da Ficção-Científica, entregue a Cristina Rodriguez e Artur Guerra, a dupla que se encarregou de 2666, de A Pista de Gelo ou de Os Dissabores do Verdadeiro Polícia, já está pronta. Francisco José Viegas, o editor, diz mesmo que “2017 vai ser um ano Bolaño”, já que a Quetzal vai lançar também o outro inédito já anunciado pela Alfaguara espanhola, Patria, volume que reúne as novelas Patria, Sepulcros de vaqueros e Comedia del horror de Francia; uma nova tradução de Os Detectives Selvagens (1998); e Putas Assassinas (2001), nunca antes publicado em Portugal.

Estes livros saem em Abril e Setembro, sendo que a “operação Bolaño” do próximo ano só fica completa lá para o final, com a reedição de 2666, a obra magistral do chileno, “numa edição que será muito mais barata do que o habitual e com uma solução gráfica supreendente, nunca antes feita em Portugal”, garante Viegas, sem adiantar pormenores.

Também o editor da Quetzal concorda com os colegas e críticos literários espanhóis que vêem em El Espíritu de la Ciencia-Ficción sementes de Os Detectives Selvagens e mesmo de 2666. "Há temas que transitam, personagens, cenários, e há uma mesma maneira de contar”, acrescenta Francisco José Viegas. “Esta maneira de os livros comunicarem uns com os outros acontece muito na obra de Bolaño e não é exclusiva da ficção - muitas das chaves para compreender a sua última fase criativa estão na poesia.”

Em 2019 a Quetzal deverá editar a poesia do autor chileno.