França tinha "acordo secreto" com UE para não cumprir défice

Revelação feita em livro sobre Hollande afirma que foi permitido à França divulgar previsões de défice falsas, para não ser sancionada.

Foto
As promessas francesas à União Europeia de manter défice abaixo dos 3% "foi uma mentira pura e simples" afirmou Hollande citado pelos autores do livro Reuters/FRANCOIS LENOIR

François Hollande admitiu a existência de um alegado “acordo secreto” entre o Governo francês e a União Europeia para que o país não ficasse obrigado a cumprir as metas do défice.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

François Hollande admitiu a existência de um alegado “acordo secreto” entre o Governo francês e a União Europeia para que o país não ficasse obrigado a cumprir as metas do défice.

Un président ne devrait pas dire ça (Um presidente não deveria dizer isto) é o livro da autoria de dois jornalistas do jornal francês Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme, que realizaram 61 entrevistas e mais de 100 horas de gravações durante cinco anos com o Presidente François Hollande. Na obra, são relatados vários episódios e declarações de Hollande que levam muitos especialistas a considerarem a publicação do livro  “um suicídio político” do socialista, a poucos meses das eleições presidenciais em França.

O semanário Expresso, que leu o referido livro, conta que o primeiro-ministro gaulês, Manuel Valls, já revelou a "vergonha e cólera" dos militantes socialistas devido às revelações incluídas na obra.

Agora a polémica está a chegar à União Europeia. Segundo os relatos, as promessas à União Europeia de manter o défice abaixo dos 3% do PIB, tal como é exigido pelas instituições europeias, foi “uma mentira pura e simples, aceite por todas as partes”, afirmou Hollande citado no livro.

Segundo os autores, este acordo foi estabelecido em 2012, ano em que Hollande foi eleito, e seria válido até 2017. Ou seja, abrangeu a presidência de Durão Barroso e de Jean-Claude Juncker.

Para concretizar este objectivo, a França foi apresentando sempre previsões falsas, escapando por isso a sanções económicas: “Podemos escrever que, durante todo o quinquénio, as autoridades francesas apresentaram previsões do défice intencionalmente falsas, e isso com a aprovação das próprias autoridades europeias”, lê-se no livro citado pelo Expresso.

Além disso, o Presidente gaulês explica a fórmula para se alcançar um acordo deste tipo: “É o privilégio dos grandes países (…) nós dizemos: nós somos a França, nós protegemo-vos, temos umas forças armadas, uma força de dissuasão, uma diplomacia (…) Eles, os europeus, sabem que precisam de nós e, portanto, isso paga-se”.

François Hollande, nem ninguém ligado ao seu gabinete, desmentiu até agora quaisquer revelações divulgadas no livro.

Os autores do livro citam ainda Hollande a referir que a França “tem um problema com o Islão”, que existe “demasiada” imigração indesejada e que “a mulher de véu de hoje” vai tornar-se o símbolo da República francesa, a Marianne, de amanhã. A vida amorosa ou considerações sobre jogadores de futebol são também reveladas em Un président ne devrait pas dire ça.