Turbinas eólicas são inimigas de aves regionais e migratórias
Estudo descobriu que 25% das 62 aves encontradas mortas, próximo de um dos maiores parques eólicos do mundo, provinham de outros sítios
A energia eólica é conhecida como uma forma de energia limpa e amiga do meio ambiente. Cheia de benefícios. Mas ao que tudo indica, as aves — vítimas frequentes das turbinas — podem não concordar totalmente com esta ideia. Um estudo recente dos investigadores da Universidade de Purdue e do Serviço Geológico dos Estados Unidos aponta para dados que preocupam os ambientalistas: não só as aves a viverem próximo dos parques eólicos são prejudicadas; uma parte relevante das espécies encontradas mortas provém de locais a centenas de quilómetros.
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A energia eólica é conhecida como uma forma de energia limpa e amiga do meio ambiente. Cheia de benefícios. Mas ao que tudo indica, as aves — vítimas frequentes das turbinas — podem não concordar totalmente com esta ideia. Um estudo recente dos investigadores da Universidade de Purdue e do Serviço Geológico dos Estados Unidos aponta para dados que preocupam os ambientalistas: não só as aves a viverem próximo dos parques eólicos são prejudicadas; uma parte relevante das espécies encontradas mortas provém de locais a centenas de quilómetros.
Em todo o mundo, as instalações eólicas mataram 140 a 328 mil aves e 500 a 1,6 milhões de morcegos. Um dos maiores parques do mundo — o mais antigo dos Estados Unidos, o "Altamont Pass" —, localizado no norte da Califórnia, com cerca de cinco mil turbinas, foi o escolhido pelos investigadores. Segundo explica o estudo, publicado na revista científica "Conservation Biology", a equipa analisou o ADN dos tecidos e os isótopos estáveis das penas de carcaças de águias-reais encontradas neste sítio.
Turbinas e águias dividem o mesmo território e as condições climáticas explicam porque não se trata de uma coincidência. “Como lá é ventoso, elas [as águias] podem poupar energia planando e as suas presas preferidas, os esquilos terrestres da Califórnia, são numerosas na zona”, sublinha, no comunicado de imprensa, o professor de genética da Universidade de Purdue, J. Andrew DeWoody. “Enquanto planam, estas águias costumam estar a olhar directamente para baixo e não vêem as pás das turbinas que se movem rapidamente”. E, assim, são atingidas.
Com a análise dos componentes presentes nas penas, os cientistas descobriram o ambiente natural das aves — onde viviam enquanto cresciam. “Quando uma ave bebe água ou come animais de um local específico, as proporções de isótopos de hidrogénio da precipitação nessa área ficam registadas nos seus tecidos”, informou David Nelson da Universidade de Maryland. “Podem usar-se essas proporções de hidrogénio para determinar a localização aproximada do pássaro quando se desenvolveram nele as suas penas.”
Isto permitiu concluir que das 62 águias analisadas, 75% eram da população local e 25% pertenciam a outras regiões —algumas delas chegaram a percorrer mais de 160 quilómetros antes de morrerem. Este resultado mostra como os riscos ambientais oferecidos pelas turbinas não se restringem a espécies regionais. “Se estiver em consideração apenas as aves locais numa avaliação ambiental, não se está realmente a avaliar o efeito que a instalação poderá ter na população inteira”, ressaltou o biólogo do Serviço Geológico dos Estados Unidos, Todd Katzner.
As mortes de aves por geradores de energia eólica já eram previstas, por isso estas instalações podem receber licenças que permitem um número de acidentes indesejados. Caso estes números sejam muito elevados, as empresas correm o risco de serem multadas, esclarece Andrew. Para o professor, a pesquisa, ao provar o impacto de "Altamont Pass" em pássaros de estados vizinhos, pode alterar a forma como este tipo de produção de energia é gerida.