Van Gogh cortou a orelha quando descobriu que o irmão se ia casar

Martin Bailey procurou traçar o rumo da cama do famoso quarto do pintor e descobriu que poderá estar numa pequena vila holandesa.

Fotogaleria

As teorias sobre o que terá levado Van Gogh a cortar uma das suas orelhas multiplicam-se. Há quem diga que não era capaz de desenhar na perfeição a orelha no seu auto-retrato e que, num acto de desespero de artista, a terá cortado. Outra teoria mais popular afirma que terá sido consequência de uma intensa discussão com o pintor francês Paul Gauguin. Agora, de acordo com um estudo sobre a sua vida em Provença, França, surge uma nova teoria: o irmão ia casar-se e o pintor não aguentou.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As teorias sobre o que terá levado Van Gogh a cortar uma das suas orelhas multiplicam-se. Há quem diga que não era capaz de desenhar na perfeição a orelha no seu auto-retrato e que, num acto de desespero de artista, a terá cortado. Outra teoria mais popular afirma que terá sido consequência de uma intensa discussão com o pintor francês Paul Gauguin. Agora, de acordo com um estudo sobre a sua vida em Provença, França, surge uma nova teoria: o irmão ia casar-se e o pintor não aguentou.

Theo van Gogh, irmão mais novo de Vincent, era um negociador de arte, o mais leal confidente e apoio financeiro do artista holandês. Vincent ter-se-á sentido ameaçado pelo casamento e temia que isso significasse o fim da relação próxima entre os dois, inclusive o apoio financeiro do irmão.

Martin Bailey, historiador de arte e autor do livro Studio of the South, que será lançado em Novembro, acredita que Vincent recebeu uma carta do irmão a dar notícia do casamento a 23 de Dezembro de 1888, a mesma data em que a discussão com Gauguin aconteceu.

Depois de cortar a orelha, Van Gogh embrulhou-a num papel, dirigiu-se ao seu bordel preferido, onde a entregou a uma das mulheres que conhecia. Uma outra historiadoraBernadette Murphy, detalha que a mulher desmaiou ao abrir o “presente”. Van Gogh saiu e a polícia foi chamada ao local.

O casamento aconteceu, mas o episódio marcou o primeiro Natal do casal. Theo, que planeava passar a época com a sua noiva, acabou por visitar o irmão no hospital. Depois de sair do internamento, a 7 de Janeiro, Vincent escreveu uma carta a Theo em que dizia, referindo-se a um dos temas que constavam nos seus quadros: “Os dias bons vão voltar e vou regressar aos pomares em flor”. 

Para além da teoria sobre o que terá levado à mutilação mais famosa do mundo da arte, o investigador acredita que a cama pintada por Vincent Van Gogh em 1888, numa das suas obras mais conhecidas, “O Quarto em Arles”, pode ter resistido a um século de história e ainda existir. A possibilidade já chamou a atenção do Museu Van Gogh, que quer acompanhar de perto a investigação do historiador.

Martin Bailey seguiu o rasto da peça de mobiliário e descobriu que a cama poderá estar numa pequena vila holandesa. O investigador espera conseguir encontrar a peça que, depois de o artista se ter suicidado em 1890, acabou, ironicamente, nas mãos da mulher de Theo.

A mulher levou a cama de volta para a Holanda, usando-a numa casa de hóspedes que geria no país natal. Só em 1937 voltou a haver notícias sobre a cama, quando o sobrinho de Jo, também chamado Vincent, recebeu um pedido para emprestar obras de arte, destinadas a um possível museu instalado na casa de Arles onde viveu Van Gogh. Na carta de resposta, Vincent respondeu: “Posso dar-lhe a cama que aparece na pintura do quarto.”

O projecto do museu nunca se chegou a concretizar, uma vez que o edifício foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial e a cama foi oferecida a uma vila holandesa perto de Arnhem, em 1945. Bailey veio a descobrir, depois, que se tratava da vila de Boxmeer, onde ainda poderá estar nos dias de hoje, possivelmente na casa de alguém que não conhece a sua história. O historiador também admite a possibilidade de o dono se ter desfeito dela. “Mas permanece a possibilidade intrigante de que a cama ainda sobrevive em Boxmeer, uma testemunha silenciosa da história de Van Gogh em Arles”, conclui Bailey.