Chegará o protesto do Partido Pirata ao poder na Islândia?
Islandeses votam este sábado e sondagens davam os Piratas em primeiro ou segundo lugar. O sucesso pode dever-se ao voto de protesto, mas os Piratas já têm um pré-acordo de coligação para governar.
Parece impossível, até para os seus membros: o Partido Pirata da Islândia deverá ser um dos mais votados – surge em primeiro ou segundo lugar, com cerca de 20% – nas eleições deste sábado no país. E já está a preparar-se para governar, com um pré-acordo eleitoral com três outros partidos para serem uma alternativa aos partidos no poder. Se vencer, ou se, ficando empatado ou em segundo, conseguir fazer uma coligação, será a primeira vez que um Partido Pirata entra num Governo de um país europeu.
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Parece impossível, até para os seus membros: o Partido Pirata da Islândia deverá ser um dos mais votados – surge em primeiro ou segundo lugar, com cerca de 20% – nas eleições deste sábado no país. E já está a preparar-se para governar, com um pré-acordo eleitoral com três outros partidos para serem uma alternativa aos partidos no poder. Se vencer, ou se, ficando empatado ou em segundo, conseguir fazer uma coligação, será a primeira vez que um Partido Pirata entra num Governo de um país europeu.
Porquê na Islândia? Analistas destacam dois momentos: um é a crise do subprime em 2008, quando a economia da Islândia ficou arruinada e o país nacionalizou três bancos e pôs os banqueiros e empresários no banco dos réus (alguns acabaram mesmo presos, embora mais tarde se descobrisse que fora do escrutínio público alguns tinham sido entretanto libertados).
O segundo foi quando, depois de divulgação dos Panama Papers, se descobriu que o então primeiro-ministro Sigmundur Davío Gunnlaugsson, do Partido Progressista (centro) e a mulher tinham uma empresa no Panamá e potencial conflito de interesse por não ter declarado a venda da sua parte na empresa à mulher. Gunnlaugsson acabou por se demitir, provocando estas eleições.
Birgitta Jónsdóttir, webdesigner, poeta, e antiga activista da WikiLeaks que é na prática a líder do partido, diz que “as pessoas querem mudanças reais e percebem que temos de mudar o modo como fazemos as leis”, sublinha, citada pela revista norte-americana Time. “A democracia directa pode ser muito canstiva", dizia a candidata Oktavia Hrund Jónsdóttir ao site Politico. “Mas os resultados são magníficos”, defendeu.
Valorizando a transparência do Governo e a participação dos cidadãos nas decisões, os Piratas islandeses afastam-se no entanto um pouco das origens dos piratas originais, que nasceram há dez anos na Suécia para lutar contra leis de copyright.
Ainda assim, o partido quer fazer da Islândia “a Suíça dos bits”, livre de vigilância, como a Suíça para o sistema bancário, e propõe oferecer a nacionalidade islandesa a Edward Snowden, o americano que denunciou a espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA).
Uma excepção na Europa
A investigadora Eva Önnudóttir, da Universidade da Islândia, diz que os eleitores dos Piratas têm mais em comum com partidos como o espanhol Podemos ou o Movimento 5 Estrelas em Itália: “Um partido populista de centro esquerda no sentido de que são contra o sistema e contra a elite corrupta”.
O partido já é uma excepção entre os Piratas europeus, sendo o único com deputados num Parlamento nacional, depois de em 2013 ter conseguido eleger três deputados (em 63), com 5% dos votos. Nas eleições europeias, os Piratas suecos conseguiram eleger dois eurodeputados em 2009, que perderam em 2014, deixando então apenas uma eurodeputada alemã com a bandeira pirata no hemiciclo europeu.
Na Alemanha, o Partido Pirata teve sucesso em eleições em estados-federados, mas uma série de divisões internas e diferenças de objectivos levaram à quase irrlevância do partido.
Na Islândia, um tema foi curiosamente pouco discutido nestas eleições: a economia. Apesar de os partidos tradicionais criticarem o Partido Pirata por poder ser um perigo para a economia, os seus responsáveis dizem ter noção da sua inexperiência. “Sabemos que somos novos nisto”, disse Jónsdóttir ao diário britânico The Guardian. “E é muito importante que sejamos extremamente cautelosos e muito críticos de nós próprios para não tentarmos fazer demasiado.”