"Até Setembro foram vendidos cerca de 1500 veículos eléctricos"

Associação dos utilizadores de veículos eléctricos diz que novas medidas vão fazer crescer adesão dos particulares ao carro eléctrico.

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Associação aplaude decisão de alocar verbas para requalificar a rede Mobi.e RIB Rita Baleia

Novos apoios à mobilidade eléctrica foram bem recebidos pela Associação dos Utilizadores do Veículo Eléctrico (UVE), mas o presidente, Henrique Sánchez, diz que ainda falta estender os incentivos aos veículos de duas rodas e introduzir medidas de discriminação positiva como isenções de portagens.

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Novos apoios à mobilidade eléctrica foram bem recebidos pela Associação dos Utilizadores do Veículo Eléctrico (UVE), mas o presidente, Henrique Sánchez, diz que ainda falta estender os incentivos aos veículos de duas rodas e introduzir medidas de discriminação positiva como isenções de portagens.

Como é que viu as alterações que estão a ser preparadas para 2017?
Há um aspecto muito positivo que é a separação do incentivo da obrigatoriedade de entregar um carro com mais de dez anos para abate. Isto vai permitir que os particulares possam, por um lado, recorrer ao apoio e, por outro, ao desconto da marca. Outros aspectos positivos são as verbas para requalificar a rede Mobi.e e os descontos no ISV para o híbrido plug in.

Há aspectos negativos no OE?
Há pontos de que discordamos. O primeiro é que estes incentivos deveriam ser alargados aos veículos de duas rodas, porque se o que queremos também é melhorar a mobilidade, sabemos que temos de tirar automóveis das cidades. Gostávamos de ver mais investimento na rede de transportes públicos, nomeadamente a introdução de veículos 100% eléctricos, mas também isenções ou diminuições nas portagens. Esta foi uma das medidas de discriminação positiva que a Noruega introduziu e com que conseguiu transformar-se, em quatro anos, num país em que 40% dos veículos vendidos são eléctricos.

Faz sentido que os veículos sejam subsidiados pelo Estado?
Sim. Nas auto-estradas fala-se do “utilizador pagador”, nós defendemos o princípio do “poluidor pagador”. Acreditamos que as verbas que vêm de taxas e impostos associados aos combustíveis fósseis devem ser postas ao serviço da mobilidade eléctrica.

Apoiar a compra de mil veículos é muito ou pouco?
Não parece muito, mas a mudança não se faz num estalar de dedos. Isto não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Também estamos conscientes de que, no futuro, quando a adesão for significativa os incentivos deverão ser retirados.

Espera que a nova medida tenha impacto na adesão por parte dos particulares?
Sim. Até Setembro, foram vendidos cerca de 1500 veículos (incluindo híbridos plug in) sem apoios directos. Julgo que o novo incentivo vai ter para os particulares o mesmo impacto que a fiscalidade verde teve para as empresas.

A mobilidade eléctrica vai mesmo descolar?
As circunstâncias vão obrigar-nos a mudar. A procura está a crescer de tal maneira que às vezes as marcas não têm carros suficientes e têm de fazer um rateio, o que significa que a maioria dos veículos é canalizada para os mercados mais relevantes, que não é o caso do português. Mas isto vai mudar por completo o panorama da indústria automóvel, que tem a máquina produtiva adaptada aos carros a gasóleo e gasolina e milhares de carros produzidos por vender. Vão ter de se adaptar.

Mas os eléctricos continuam a ser mais caros do que os carros convencionais…
Isso “é um mito”, tal como a autonomia e o tempo de carga. O veículo eléctrico é ligeiramente mais caro do que um veículo equivalente, mas a diferença é que no dia em que eu saio do stand estou a ganhar dinheiro; porque não pago IUC, tenho estacionamento público gratuito e electricidade mais barata, já para não falar de menores custos de manutenção. Rapidamente se começa a amortizar a diferença. Comecei a andar de veículo eléctrico em 2011. Agora gasto 1,10 euros por cada 100 km percorridos, quando antes gastava nove.