Conflito político na Venezuela atingiu ponto crítico

Governo e oposição voltam a medir forças na sexta-feira. "O risco de que esta escalada termine em violência e derramamento de sangue é real", diz analista.

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Governo e oposição testam a sua força nas ruas, um jogo que, para os analistas, não acabará bem FEDERICO PARRA/AFP

A Venezuela está viver à beira da ruptura política e da explosão social há longos meses – chegará, inevitavelmente, o momento em que a crise no país atingirá o ponto de não-retorno. Para já, o rastilho que o poderá precipitar permanece imprevisível. Mas o risco é iminente: depois da jornada conturbada de protestos de quarta-feira, que terminou com mortos e feridos, os dois lados voltam a medir forças numa greve geral marcada para esta sexta-feira.

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A Venezuela está viver à beira da ruptura política e da explosão social há longos meses – chegará, inevitavelmente, o momento em que a crise no país atingirá o ponto de não-retorno. Para já, o rastilho que o poderá precipitar permanece imprevisível. Mas o risco é iminente: depois da jornada conturbada de protestos de quarta-feira, que terminou com mortos e feridos, os dois lados voltam a medir forças numa greve geral marcada para esta sexta-feira.

O Governo e a oposição têm vindo a esticar a corda, com acusações mútuas de golpe de Estado e manobras políticas arriscadas para testar tanto a sua força quanto a sua capacidade de resistência. É um jogo perigoso e que todos os analistas avisam que não acabará bem. “O conflito político atingiu um ponto crítico, e o risco de que esta escalada termine em violência e derramamento de sangue é real”, considera o cientista político Luis Salamanca, entrevistado pela AFP.

A tensão disparou na última semana, quando o regime, por intermédio do Conselho Nacional Eleitoral, determinou a suspensão por tempo indeterminado do processo de recolha de assinaturas para a marcação de um referendo para reduzir o  mandato do Presidente Nicolás Maduro – e que segundo todas as sondagens resultaria no seu afastamento. A Assembleia Nacional, dominada pela coligação de oposição mesa da Unidade Democrática (MUD), equiparou a decisão a um golpe institucional que efectivamente consagra o da democracia na Venezuela.

O Parlamento aprovou a realização de um julgamento político e penal contra Maduro, acusado de ruptura da ordem constitucional. O resultado é mais do que previsível, mas não é vinculativo. É ao Conselho Moral Republicano, e finalmente ao Tribunal Supremo de Justiça, dominado pelo Governo, que cabe a validação da sentença por crime de responsabilidade política.

Perante os desenvolvimentos, a comunidade internacional passou da preocupação à acção. As iniciativas do regime e da oposição motivaram a intervenção do Papa Francisco e dos países da região, que em nome próprio ou sob a égide de organizações como a Unasur ou a Organização dos Estados Americanos (OEA) reclamaram a abertura de um processo de diálogo que ponha termo à “polarização acentuada” e evite um cenário futuro de guerra civil. O Vaticano assumiu a mediação das conversas, e o Governo e a oposição prometeram sentar-se à mesa, no domingo, na ilha Margarita, ao mesmo tempo que faziam planos que potencialmente inviabilizam qualquer acordo.

Henrique Capriles, o adversário eleitoral de Nicolás Maduro, não desistiu da sua jornada de protesto, “Tomada da Venezuela”, organizada antes do anúncio das negociações com o Governo. Às marchas que trouxeram multidões para a rua em todo o país, respondeu o regime bolivariano com a sua própria mobilização em Caracas – onde à margem dos acontecimentos, o Governo reunia em gabinete de crise o Conselho de Defesa da Nação.

Esta sexta-feira, a oposição volta a subir a parada, com uma greve geral de 12 horas que ameaça paralisar o país. Além disso, pediu a todos os interessados no referendo revogatório que se fizessem ouvir, no próximo dia 3 de Novembro, concentrando-se em frente ao palácio presidencial de Miraflores – que é território sagrado do chavismo. “Não podemos ficar passivos, temos de aumentar a pressão até Maduro perceber que tem que se ir embora”, justificava à AFP uma das manifestantes de Caracas, Klenia Campos, de 41 anos.

O espectro da repressão e violência das manifestações de 2014, que fizeram 43 mortos e centenas de feridos e detidos, paira sobre todos os novos actos de protesto. “Vamos notificar Nicolás Maduro que foi declarado em abandono do cargo pelo povo venezuelano. Mas vamos fazê-lo numa manifestação pacífica. Vamos manter a calma. Os venezuelanos já estão muito desgastados”, aconselhava o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup.

Com efeito, não é só na classe política que a escalada assume proporções perigosas. Entre os apoiantes do Presidente Nicolás Maduro, e os partidários do fim do chavismo, as posições estão tão extremadas e os ânimos tão exaltados, que qualquer provocação pode degenerar em confronto. Além disso, a situação de instabilidade está a ser aproveitada por gangs criminosos para semear o medo entre a população.