Sobre mosquitos e elefantes
Apontar o dedo a presumíveis materializações dos seus próprios medos em países parceiros nunca pode ser encarado como ajuda à estabilidade do todo europeu.
A expressão alemã “fazer de um mosquito um elefante” encontra um eco na expressão idiomática portuguesa “criar uma tempestade num copo de água”. Foi essa a expressão mais zoófila que me veio à cabeça quando li as últimas declarações do ministro das Finanças da Alemanha sobre Portugal.
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A expressão alemã “fazer de um mosquito um elefante” encontra um eco na expressão idiomática portuguesa “criar uma tempestade num copo de água”. Foi essa a expressão mais zoófila que me veio à cabeça quando li as últimas declarações do ministro das Finanças da Alemanha sobre Portugal.
Mas convém centrar-se na intencionalidade dessas afirmações. Se fosse um ato isolado poderia ser mais um caso em que a gestão comunicacional de um ministro foi menos diplomática. Mas a partir do momento em que este género de comentários se repetem, temos que olhar para além do destinatário da mensagem e considerar que essa intenção possa ter mais a ver com a sensibilidade política interna que se vive na Alemanha.
Por mais estranho que possa parecer à primeira leitura, o único verdadeiro destinatário das afirmações de Wolfgang Schäuble sobre Portugal só pode ser o seu próprio eleitorado. Há que contextualizar – mas não desculpar – tendo em conta o debate público na Alemanha para as constelações possíveis após as próximas eleições federais em 2017. Intensifica-se um cenário em que a próxima solução governativa alemã possa não incluir a CDU, apesar de continuar a ser o partido com maior intenção de votos.
Ainda na semana passada reuniram-se em Berlim mais de cem deputados do SPD, da Linke e dos Verdes, para testar uma aproximação negocial com vista a uma possibilidade de coligação pós-eleitoral em 2017. A miragem de uma “geringonça alemã” serve assim de ameaça à CDU, que simultaneamente se vê a braços com o crescimento da extrema-direita AfD nas sondagens e nos atos eleitorais a nível dos Länder.
Apontar o dedo a presumíveis materializações dos seus próprios medos em países parceiros nunca pode ser encarado como ajuda à estabilidade do todo europeu. Mesmo quando o mosquito é de outra(s) cor(es) política(s) que a nossa.
Deputada do PSD